“Que não fique impune”, diz enfermeiro sobre agressão de bolsonarista no DF
Presidente de conselho regional da profissão prestou depoimento na 5ª Delegacia de Polícia sobre caso ocorrido no dia 1º de maio
atualizado
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O presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-DF), Marcos Wesley de Sousa Feitosa, prestou depoimento na 5° Delegacia de Polícia (área central) na manhã desta terça-feira (12/05).
Marcos Wesley foi ouvido na condição de vítima dos enfermeiros e técnicos da área de saúde agredidos por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no ato em homenagem aos profissionais da saúde que estão arriscando suas vidas no combate à pandemia do novo coronavírus.
O caso ocorreu em 1º de maio, Dia do Trabalhador, na Praça dos Três Poderes. Ele chegou à unidade policial por volta das 11h desta terça.
“Como Coren, nós já apresentamos uma representação ao MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) e também notificamos a delegacia. Hoje (terça-feira), venho aqui como vítima porque eu também estava participando do ato.”
Segundo Wesley, a manifestação era pacífico, apartidária e silenciosa. “Nós estávamos ali, inicialmente, para homenagear, até então, as 55 vítimas profissionais de enfermagem que tinham morrido de Covid-19. Hoje, esse número já chega a mais de 80 mortes”, lembra.
De acordo com ele, durante o curso do ato, algumas pessoas chegaram e começaram a proferir as agressões verbais, com xingamentos de todo o tipo. “Mantivemos a nossa postura de forma silenciosa e as agressões continuaram. Só se agravaram. O sentimento era de indignação e impotência. As ofensas só pararam quando a polícia chegou.”
“Sem se mover”
Segundo o presidente do Coren, não houve tratamento hostil por parte dos profissionais da saúde, em nenhum momento. Em depoimento na tarde de segunda-feira (11/05), a empresária Marluce Gomes, filmada falando contra os enfermeiros, afirmou que “reagiu”porque foi “agredida primeiro” pelo grupo da saúde.
“Impossível qualquer profissional de enfermagem ter iniciado uma agressão. Até pela nossa característica. Nós somos de uma profissão pacífica que luta pela vida e repudiamos toda e qualquer forma de violência em qualquer segmento da sociedade. Ficamos absolutamente imóveis. Sem se mover”, argumentou.
A expectativa da categoria em relação ao inquérito é de justiça. “Nós vamos deixar nas mãos da Justiça. Já fizemos a nossa parte notificando as autoridades e esperamos que esse episódio não fique impune. Que a enfermagem seja valorizada”, pede.
“Repudiamos também a violência contra os nossos profissionais que, no exercício da profissão, e neste 12 de maio, comemoram o Dia Internacional da Enfermagem, e ainda sofrem agressões no ambiente de trabalho. Que a punição venha e sirva de exemplo para que alguém pense duas vezes antes de agredir qualquer profissional”, concluiu.
Ao sair do depoimento, Marcos Wesley foi perguntado se os autores das ofensas procuraram os profissionais da enfermagem para se desculpar. Ele negou.
“Seria um bom momento para que se desculpassem pelo que fizeram com a enfermagem. Ali foi uma agressão que atingiu a todos os profissionais de enfermagem do Brasil. A delegada informou que, nos próximos dias, a investigação vai ser concluída”.