Prostituição e cocaína movimentam boate no Setor Hoteleiro Sul
A venda conjunta de programas e entorpecentes foi revelada ao Metrópoles por prostitutas que batem ponto semanalmente no local
atualizado
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Conhecido reduto de políticos que buscam sexo rápido e discreto, a boate Alfa Pub, no térreo do Hotel Bonaparte, no Setor Hoteleiro Sul, serve de palco para outras atividades escusas. Além de pagar pelos momentos de prazer, os clientes podem adquirir drogas no estabelecimento. A venda conjunta de programa e entorpecentes foi revelada ao Metrópoles por duas prostitutas que frequentam semanalmente a casa.
A reportagem passou uma noite no Alfa Pub e acompanhou o movimento de garotas de programas, clientes e tráfico de drogas. A boate segue o calendário do Congresso Nacional e funciona às segundas, terças, quartas e, esporadicamente, às quintas-feiras. Cerca de 20 meninas estavam na boate em uma terça. Os televisores ligados na TV Senado transmitiam uma sessão ordinária da Casa.
Poucos minutos após a equipe chegar ao local, duas mulheres pediram para se sentar à mesa. Simpáticas, com idades entre 25 e 30 anos, falaram abertamente sobre a facilidade em adquirir cocaína, desde que fosse combinada ao programa. “É fácil de conseguir. Tem um menino que vende e taxistas e motoristas de aplicativos que entregam. Eu tenho o contato”, afirmou uma delas, sem saber que estava sendo gravada.
Preço salgado
As garotas de programa revelaram que existem traficantes cativos que fazem as entregas no local. O contato é feito por meio de WhatsApp e a transação é rápida. Ela ocorre momentos após o programa ser fechado com as prostitutas. O consumo, geralmente, acontece nos quartos de hotéis do Setor Hoteleiro Sul.
O traficantes lucram com a clientela abastada que frequenta a boate. Bebidas, comidas e uma noite de sexo custam caro no Alfa Pub. É preciso desembolsar R$ 150 de consumação para entrar. O ingresso dá direto a cinco cervejas long neck – cada uma não sai por menos de R$ 30.
Retirar uma garota da boate antes das 2h30 da manhã custa mais R$ 150, além do preço do programa cobrado pela prostituta, que gira entre R$ 400 e R$ 500. Ao todo, um cliente precisa desembolsar, no mínimo, R$ 800 para curtir a noitada. As drogas não estão incluídas nesse valor.
Disputas judiciais
A movimentação do tráfico e dos programas sexuais na boate tiram o sono dos moradores do hotel. Dos 267 apartamentos que existem no prédio, 183 servem de moradia fixa. A maioria dos ocupantes corresponde a casais de idosos que estão no local há cerca de 20 anos. Os condôminos e gestores atravessam intensas disputas judiciais contra os donos do estabelecimento.
O imóvel pertence à Caixa Econômica Federal. Os débitos da boate com a instituição financeira chegam a R$ 350 mil. O caso está na Justiça. Mas, de acordo com o síndico do Bonaparte, Marcus Vinicius Souza Viana, os problemas ultrapassam as questões judiciais. “A boate deve cerca de R$ 240 mil só de condomínio. Além disso, a atividade da prostituição provoca enorme constrangimento, porque as garotas de programa utilizam as áreas de lazer sem estarem hospedadas”, disse.
Para coibir a entrada das garotas de programa, o hotel começou a cobrar taxas e restringir o uso das dependências. Clientes ou hóspedes passaram a pagar R$ 150 pela entrada de cada prostituta no hotel. Na última quinta-feira (25/04/2019), a água da boate chegou a ser cortada pela administração.
Agressão
O entrevero entre os gestores do hotel e os donos da boate resultou em uma tentativa de agressão. O síndico foi abordado pelos proprietários do Alfa Pub na noite de 19 de julho do ano passado. As câmeras de Segurança do hotel filmaram a movimentação. A briga começou quando o dono da boate, Neemias Semensato Carneiro, estacionou o carro na calçada em frente ao Bonaparte (veja vídeo).
O síndico pediu que os seguranças acionassem a polícia para que o veículo fosse retirado. Irritado, o empresário partiu para cima de Viana para tirar satisfações. De acordo com ocorrência policial registrada na 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), o dono da boate afirmou que o outro homem “não sabia com quem estava falando” e o empurrou.
A confusão continuou no saguão do hotel. O síndico precisou fugir pela entrada de serviço e entrar no elevador. Ele só retornou ao local após a chegada de uma viatura da Polícia Militar.
O incômodo provocado pela boate fez com que um grupo de 104 famílias que vivem nos apartamentos do Bonaparte se mobilizasse por meio de um abaixo-assinado. Eles pedem que o estabelecimento passe a funcionar em outro local.
Segundo uma das moradoras ouvidas pela reportagem, que preferiu não se identificar, seus parentes sempre passam por constrangimentos quando a visitam. A idosa de 73 anos mora sozinha e disse ter presenciado garotas de programa abordando vizinhos. “É uma situação muito desagradável, pois alguns moradores chegam a ser chamados para fazer programas. Além disso, os hóspedes acabam sendo confundidos com pessoas que frequentam a casa de prostituição”, reclamou.
O outro lado
A reportagem entrou em contato com o dono da boate para falar sobre as denúncias. Neemias Carneiro afirmou que o Alfa Pub é um bar e não possui qualquer envolvimento com prostituição. “Tanto os homens quanto as mulheres que frequentam a casa são clientes. O que eles negociam, eu não sei”, disse.
Carneiro garantiu não ter conhecimento sobre qualquer negociação de venda envolvendo programas e uso de drogas. “Existem uma série de denúncias infundadas sobre o meu bar. Eu estou naquele local há 18 anos e todas as disputas judiciais impetradas pelo hotel não avançaram. Venci todas”, afirmou.
O empresário explicou que a água foi cortada de forma arbitrária e deu sua versão sobre a dívida de R$ 240 mil. “Eles dizem ter aberto um hidrômetro para o bar e a conta é indexada ao condomínio. Eles cobram cerca de R$ 3 mil de água. Esse valor não coincide com a nossa atividade, já que apenas lavamos copos e pratos das 21h às 2h”, garantiu. Sobre a dívida de R$ 350 mil com a Caixa Econômica, Carneiro disse ter vendido o estabelecimento ao banco e o imóvel está financiado.