Projeto cultural promove oficinas para mudar vida de jovens infratores
Iniciativa é voltada a jovens em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto. Objetivo é favorecer recomeço distante de preconceitos
atualizado
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Jovens infratores que cumprem medidas socioeducativas em meio aberto no Recanto das Emas têm a oportunidade de aprender diversas artes por meio do projeto Apoio Cultural – Contrariando as Estatísticas. As atividades ocorrem durante todo este mês e na primeira semana de junho.
Além disso, nesta terça-feira (14/5), o projeto abriu 15 vagas para o público geral. Os interessados em participar devem se inscrever pelo formulário disponível neste link.
Desenvolvida pelo Coletivo Rodeias com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC), a iniciativa oferece um ambiente propício ao desenvolvimento integral dos jovens, a fim de estimular o protagonismo e a participação da comunidade para um recomeço livre de preconceitos.
Trança, rima, audiovisual, operação de som, DJ, escultura e beatmaker (atua como produtor musical no hip-hop) estão entre as atividades da programação voltada aos jovens que precisam se reintegrar à sociedade.
Com duração de quatro horas, as oficinas ocorrem às terças e quintas-feiras, na Gerência de Atendimento em Meio Aberto (Geama) do Recanto das Emas, e beneficia 120 jovens neste ano.
Histórias
Há três meses em cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida, um adolescente de 14 anos está ansioso pela oportunidade de aprender com as oficinas culturais. Em respeito ao disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a reportagem não divulgará os nomes dos participantes.
O jovem acabou apreendido por ato infracional análogo ao crime de roubo, após participar de um assalto em janeiro último.
“Ele tem se adaptado e aceitado bem as alternativas apresentadas. Espero que se interesse pelas artes por meio das oficinas, que são muito importantes para mudar a cabeça desses jovens. Como mãe, espero que Deus dê sabedoria a meu filho, que abra a mente dele para o caminho do bem e que o faça pensar em todo o futuro que ele tem pela frente”, disse a mãe do adolescente. Empregada doméstica, a mulher de 52 anos o acompanhava na oficina de escultura, nessa quinta-feira (9/5).
Também em cumprimento de medida em liberdade assistida, um jovem de 19 anos se destacou na mesma atividade, ao revelar habilidade artística para trabalhar e criar com argila.
“Gostei muito da experiência. Não sou bom com desenhos, mas me dei bem com a escultura. Foi massa para aprender uma coisa diferente, que eu não conhecia e com a qual nunca tive contato antes”, comentou.
Produtor cultural do projeto, Daniel Mascarenhas, 33, contou que também passou pelo sistema prisional, mas encontrou na arte e na cultura uma chance de dar a volta por cima.
Daniel acrescentou que a escolha dos temas das oficinas tenta levar para o sistema socioeducativo algo com que adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas se identifiquem.
“Precisamos conversar na mesma língua que eles, na linguagem da periferia. A música, o esporte, a cultura, a vida cotidiana de uma sociedade e as ricas relações delas devem fazer parte do dia a dia desses jovens. O ambiente que proporcionamos faz toda a diferença para que eles se sintam à vontade e, aos poucos, soltem-se e descubram que o contato com alternativas e outras realidades pode levá-los a alcançar novos caminhos, que não sejam o do crime”, ressaltou o produtor cultural.
Instrutora da oficina de escultura, a artista plástica venezuelana Fabíola Mujica, 33, afirmou que atividades culturais são fundamentais para a liberdade de expressão do público participante.
“Faço atividades sociais em comunidades há cerca de sete anos. É muito importante que as pessoas tenham acesso à arte e à cultura. Um povo sem elas dificilmente progride e consegue ter uma comunidade saudável. A expressão artística significa liberdade e é a forma que o homem encontra para representar o meio social”, avaliou Fabíola.
Estatísticas
Dados do estudo Trajetória dos Socioeducandos no Distrito Federal: Meio Aberto e Semiliberdade 2022, publicado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), revelaram que, em 2017, 142.010 adolescentes e jovens cumpriam medida socioeducativas no Brasil.
Desse total:
- 117.207 (83%) em meio aberto; e
- 24.803 (17%) de internação ou semiliberdade.
Gerente da Geama do Recanto das Emas, Nádia Cristina Gonçalves Lourenço considera as ações no sistema socioeducativo cruciais para preparar os jovens a uma reintegração bem-sucedida na sociedade.
“Elas reduzem as chances de reincidência, previnem que eles [os jovens em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto] cheguem ao sistema prisional e incentivam uma participação ativa e construtiva na comunidade, para que voltem à sociedade com outra mentalidade”, completou.
Programação do Projeto Apoio Cultural – Contrariando as estatísticas
- 14/5 (terça-feira) de 13h às 17h – Oficina de DJ com @djketlen_
- 16/5 (quinta-feira) de 13h às 17h – Oficina de beatmaker com @indio_odin
- 21/5 (terça-feira) de 13h às 17h – Oficina de rima com @felipematheus_35
- 23/5 (quinta-feira) de 13h às 17h – Oficina de audiovisual com @k_milk
- 28/5 (terça-feira) de 13h às 17h – Oficina de operação de som com @Alessandro_moska
- 4/6 (terça-feira) de 13h às 17h – Oficina de autocuidado e plantas com @sem.breuba
- 6/6 (quinta-feira) – Show DJ Jay Lee com participação da banda Coktel Molotov