Projeto coloca em campos opostos defensores e advogados no DF. Entenda
Apresentado como um programa de acesso à justiça e fomento ao advogado iniciante, conta com o apoio da OAB-DF, mas é criticado pela DPDF
atualizado
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Um projeto de lei é alvo de controvérsia entre profissionais da área de direito no Distrito Federal. Apresentado como um programa de acesso à Justiça e fomento ao advogado iniciante, o texto conta com o apoio da Seccional brasiliense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), mas tem sido interpretado como um problema pelos defensores públicos da capital.
De acordo com a proposta, a ideia é garantir atendimento à população carente ao mesmo tempo em que é dada oportunidade de trabalho a advogados iniciantes. São enquadrados como iniciantes aqueles com até cinco anos de inscrição na OAB-DF.
Esses advogados seriam cadastrados em um banco chamado de Programa ao Cadastro de Advogados Dativos e estariam responsáveis por atender demandas não atendidas pela Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF). Os honorários ficam a cargo do GDF, autor da proposta.
Para Rodrigo Duzsinski, presidente da Associação das Defensoras e Defensores Públicos do DF (Adep), a advocacia dativa é importante no contexto de estados grandes, onde a Defensoria não consegue chegar em todos os locais. No DF, no entanto, isso não se justificaria, segundo ele. “A DPDF atende 94% das unidades jurisdicionais. Não tem lógica no sentido do interesse público um projeto desse. É um sucateamento da instituição”, argumenta.
Segundo ele, a necessidade é que haja investimento na Defensoria Pública e não a criação de um banco de cadastros. “Nós já temos programas de auxílio e eles precisam ser aumentados. O investimento seria muito mais barato”, destaca.
Já o presidente da OAB-DF, Délio Lins e Silva Júnior, afirma que não há concorrência. “A Defensoria no DF talvez seja a melhor do país. O projeto consta como um complemento à atuação dela. Por isso ele seria benéfico à população”, afirma.
Com tamanha repercussão no meio jurídico, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), deputado distrital Fábio Felix, realizou uma audiência pública nesta terça-feira (24/5) para debater o tema.
Favoráveis e contrários ao PL estiveram presentes e apresentaram argumentos pela aprovação ou rejeição da matéria.
A íntegra da audiência pode ser conferida abaixo
O secretário Executivo de Relações Parlamentares da Casa Civil, Maurício Antônio Amaral, representando o governador Ibaneis Rocha (MDB), mostrou o apoio do GDF ao projeto. “O governo sinaliza que esses serviços [de Justiça] precisam ser feitos por outra entidade que possa fazê-lo. Toda iniciativa da Defensoria é debatida e busca o crescimento e fortalecimento desta.” Amaral destacou ainda que é necessário debate do PL. “Aguardamos a colaboração dos senhores para que possamos aperfeiçoar o projeto de lei.”
Felix, ao final, avaliou como positiva a possibilidade do debate sobre o assunto. “Foi muito positivo. Vários atores trouxeram a importância da Defensoria Pública e o papel independente que ela cumpre. A preocupação é que esse PL sirva como um gatilho de enfraquecimento da instituição”.
O deputado destaca que o projeto ainda não passou pelo Colégio de Líderes na CLDF e ainda não há previsão para que seja votado. Atualmente, a matéria está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).