metropoles.com

Programa anti-homofobia não investiu em políticas para LGBTs em 2022

Junho é conhecido como o Mês do Orgulho LGBTQIA+. Ativistas pontuam que ainda faltam campanhas e ações concretas do Estado em prol da causa

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Caio Ayres/Arte/Metrópoles
Ilustração de pessoas olhando mão tocando em dinheiro com bandeira LGBT e afastando
1 de 1 Ilustração de pessoas olhando mão tocando em dinheiro com bandeira LGBT e afastando - Foto: Caio Ayres/Arte/Metrópoles

Em 2022, o programa de governo “Ações de Prevenção e Combate à Homofobia no Distrito Federal”, da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), não desembolsou um centavo sequer para ser usado em políticas públicas em prol da população LGBTQIA+. A informação foi obtida pelo Metrópoles via Lei de Acesso à Informação (LAI).

Em 28 de junho celebra-se o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Por conta disso, junho é conhecido como o Mês do Orgulho.

A reportagem obteve o extrato do detalhamento de despesas do programa com políticas públicas voltadas ao público LGBTQIA+ em 2019, 2020, 2021 e 2022. O quadro contém valores que foram autorizados pela pasta, empenhados – valor que o órgão público reserva para efetuar um pagamento planejado – e liquidados – que é quando, de fato, o dinheiro é gasto com o projeto.

A tabela mostra que, em 2019, havia R$ 50 mil previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) para este programa. Deste total, R$ 39 mil foram autorizados para uso. Mas nenhum valor foi empenhado ou liquidado. Além disso, houve destinação de R$ 300 mil de emenda parlamentar, valor que não foi autorizado, empenhado nem liquidado.

Já em 2020, o programa contava com R$ 100 mil previstos em lei. Foram autorizados apenas  R$ 8,7 mil, mas, novamente, nada foi empenhado ou liquidado.

Em 2021, estavam previstos R$ 353,8 mil, mesmo valor da despesa autorizada. Do total, foram empenhados e liquidados R$ 337 mil. De acordo com a Sejus, “os saldos executados no exercício financeiro de 2021 foram referentes à devolução de recursos de convênio”. A reportagem pediu que a pasta detalhasse melhor estes gastos, mas não teve resposta até a última atualização deste texto.

Confira o quadro:

No documento obtido via LAI, o GDF diz que “pode ter ocorrido execução em outros programas de trabalho relacionados às políticas de Direitos Humanos ou de manutenção de serviços administrativos e realização de eventos da secretaria, mas que não é possível determinar os valores por esta diretoria, e que os saldos executados no exercício financeiro de 2021 foram referentes a devolução de recursos de convênio”.

Questionada por que não houve empenho de nenhum valor em 2019, 2020 e 2022, a pasta respondeu, também pela LAI, que “os valores são gastos de acordo com as políticas públicas e projetos apresentados para o ano, onde deve ser verificado se estão de acordo com a premissas estabelecidas pela Lei no. 8.666/93 (Licitações) e Decreto no. 32.598/2012 (Normas Orçamentárias)”.

“Não se pode aferir se o valor para 2022 será menor que 2021, pois o orçamento é anual, e ainda temos quase 7 (sete) meses para encerrar o exercício. Ressaltamos que o Orçamento não é uma peça estática, podendo a Lei 7.061/2022 (LOA) ser alterada, inclusive por Decreto, em procedimento administrativo junto a SEEC”, respondeu.

Problema antigo

Para o ativista Welton Trindade, coordenador da Associação Brasília Orgulho, grande parte das ações do Estado voltadas para o tema é fruto de movimentos da sociedade. “A gente é muito carente de campanhas. As ações existem, mas o que vemos de forma geral é que elas vêm, por exemplo, de emendas parlamentares demandadas por um movimento da sociedade civil”, comenta.

Segundo Ludymilla Santiago, membro da Associação do Núcleo de Apoio e Valorização à Vida de Travestis, Transexuais e Transgênero do Distrito Federal e Entorno (ANAVTrans), há um problema de investimento que não é de agora. “Nos últimos anos, já vínhamos tendo essas dificuldades. Há, inclusive, emendas destinadas à causa que acabam não sendo executadas. Vemos que essa não é uma pauta prioritária”, comenta.

Para ela, Brasília deveria dar exemplo para outras partes do país, por ser a capital federal. “Mas há municípios que conseguem ter mais ação do que a gente. Se você não investe na prevenção estruturalmente, vai ter que lidar depois com um problema que, se fosse prevenido, poderia estar sanado.”

“Como um programa vai trabalhar durante o decorrer de um ano com R$ 3 mil para mover ações contra homofobia? É surreal, não é suficiente para nada”, reclama Ludymilla. “É um dinheiro que precisa ser gasto com toda a população, não só a comunidade LGBT, pois é uma questão de educação para combater a homofobia. Estamos falando da capital do país. Deveríamos ser exemplo para outros estados”, reforça a ativista.

4 imagens
Em 2022, o programa "Ações de Prevenção e Combate à Homofobia no Distrito Federal" não desembolsou nenhum valor para ser usado em políticas públicas em prol da população LGBTQIA+
Associação Brasília Orgulho foi uma das responsáveis por instalar a maior pintura arco-íris LGBT do país no viaduto da Galeria dos Estados
Local pode ser usado para fotografias
1 de 4

O Dia Internacional do Orgulho LGBT é comemorado em 28 de junho

Giovanna Bembom/Metrópoles
2 de 4

Em 2022, o programa "Ações de Prevenção e Combate à Homofobia no Distrito Federal" não desembolsou nenhum valor para ser usado em políticas públicas em prol da população LGBTQIA+

Giovanna Bembom/Metrópoles
3 de 4

Associação Brasília Orgulho foi uma das responsáveis por instalar a maior pintura arco-íris LGBT do país no viaduto da Galeria dos Estados

Gustavo Moreno/Metrópoles
4 de 4

Local pode ser usado para fotografias

Gustavo Moreno/Metrópoles

Versão do governo

Em nota, a Secretaria de Justiça e Cidadania disse que “o Quadro de Detalhamento da Despesa (QDD) é um instrumento que auxilia na elaboração e acompanhamento da execução orçamentária e financeira por área, mas vale destacar que este parâmetro pode variar”. “Nos últimos dois anos, por exemplo, a execução orçamentária foi impactada pela crise epidemiológica, devido ao direcionamento dos recursos para o enfrentamento das questões de saúde pública por parte do governo”, informou.

A pasta também disse que “as ações do órgão não se limitaram aos recursos destinados em Lei, mas há outras fontes, como as Emendas Parlamentares, que nos últimos anos, inclusive, ultrapassaram o valor previsto no orçamento anual da pauta”.

“Entre 2020 e 2022, os recursos de Emendas Parlamentares totalizaram mais de R$ 1,5 milhão, investidos em ações de prevenção à LGBTfobia, no acesso à informação sobre os direitos desse segmento da população e no atendimento a pessoas LGBT em vulnerabilidade social e econômica. Entre os projetos estão o ‘Brasília Sem LGBTfobia’, que atendeu pessoas carentes em diversa cidades do DF, como Planaltina, Sobradinho, Paranoá, Itapoã, São Sebastião e Plano Piloto; ‘LGBT em Ação pelo Combate ao Covid-19’, com atividades de prevenção e o apoio a quem se encontra em vulnerabilidade social agravada pela pandemia; ‘Falando Direito’, que visa a capacitação de pessoas quanto aos direitos civis individuais.”

A Sejus ainda pontuou algumas entregas da atual gestão:

  • Lançamento do site Cidadania Trans, para promover informações sobre a diversidade de gênero.
  • Lançamento do Guia LGBT, que trouxe visibilidade aos estabelecimentos comerciais e de turismo com atendimento digno, respeitoso e especializado ao público LGBT.
  • Inclusão da Parada do Orgulho LGBT de Brasília no calendário oficial de eventos do Distrito Federal.
  • Assinatura do termo de adesão ao Pacto Nacional de Combate à LGBTfobia, ocorrido em 2019.
  • Criação da portaria de atendimento à comunidade no sistema socioeducativo, que dispõe de tratamento e acolhimento adequado para os adolescentes LGBTs nas unidades, evitando que sejam vítimas de discriminação.
  • Elaboração do Procedimento Operacional Padrão (POP) da Homotransfobia, que estabelece como deve ser o acolhimento e o tratamento da população LGBT nas Delegacias de Polícia.
  • Realização do curso “Desconstruindo Preconceitos”, em parceria com a administração do Parque da Cidade, para levar aos servidores, vigilantes e seguranças que trabalham no local informações sobre atendimento humanizado ao público LGBT.

Além dessas, a Secretaria de Justiça informou, pela LAI, outras políticas públicas existentes. Confira:

Quer ficar ligado em tudo o que rola no quadradinho? Siga o perfil do Metrópoles DF no Instagram.

Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?