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Professora que questionou episódio de racismo contra Ari pede desculpa

Professora de Antropologia da UnB se desculpou, citou “impactos não intencionais da fala” e compromisso com a autocrítica sobre racismo

atualizado

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1 de 1 estudantes em universidade pública do df - metropoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A professora da Universidade de Brasília (UnB) que questionou um episódio de racismo enfrentado pelo professor Arivaldo Lima se desculpou pela fala. Kelly Silva, do Departamento de Antropologia (DAN), disse que não teve intenção de violentar o colega, se retratou e afirmou ter “compromisso com o contínuo aprendizado”.

“Peço minhas sinceras desculpas ao colega professor doutor Ariovaldo de Lima Alves, aos membros do Coletivo Zora Hurston e a todos e todas que, involuntariamente, violentei ou insultei em razão da questão e comentários por mim realizados”, publicou.

Kelly também escreveu um agradecimento a quem a fez “compreender os impactos não intencionais das falas” e “propiciaram a expansão da compreensão sobre a reprodução do racismo em nossa sociedade”. “Como mulher negra, filha da classe trabalhadora e, por isso, também vítima de múltiplas violências, reafirmo meu compromisso com o contínuo aprendizado, autocrítica e ações para construção de um mundo mais justo”.

O Departamento de Antropologia da UnB também produziu nota sobre o fato polêmico, avaliando que tem “compromisso com políticas de inclusão da diversidade étnico-racial” e que “deliberou pela constituição de uma comissão para elaboração de um programa de reconhecimento, combate e reparação do racismo estrutural no âmbito do Departamento”.

Racismo questionado

O caso que motivou o debate ocorreu durante conferência promovida pelo Coletivo Zora Hurston, formado por estudantes negros de pós-graduação em Antropologia Social da UnB. A abertura do evento levou Ari Lima, doutor, ex-aluno da Universidade de Brasília e professor da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), conhecido ainda por ter sido o motivo inicial para a criação do sistema de cotas.

Após falas de Ari, Kelly Lima pediu a palavra e começou a questionar o episódio de racismo que ele sofreu em 1998, dando a entender que o antropólogo não teria sido reprovado por questões raciais. “Você atribui essa tentativa de exclusão à questão racial, exclusivamente?”, perguntou.

“Eu era sua colega também. Eu, como outras pessoas, poderíamos ser vistas como negras também. Como colega do Ari, eu sempre soube que as coisas eram mais complexas do que isso”, completou.

Veja o vídeo da conferência:

Ela ainda começou a citar supostas reprovações anteriores do antropólogo. Os questionamentos foram criticados por participantes do evento e repercutiram nas redes sociais. Em 1998, Arivaldo Lima era estudante do curso de doutorado do Departamento de Antropologia da UnB e foi o primeiro aluno da pós-graduação a ser reprovado.

Dois anos depois, a UnB reviu a nota de Ari e ele foi aprovado, por falta de justificativas para a nota baixa. O caso motivou o orientador de Ari a elaborar o sistema de cotas, implementado em 2003 na universidade. Com isto, a UnB foi a primeira instituição de ensino superior federal do país a implementar cotas.

O que disse Ari

Em resposta aos questionamentos sobre racismo, ainda na conferência, o antropólogo relembrou a forma como ocorreu a reprovação, lembrando que era colega de Kelly e ela e outro estudante receberam uma “menção aquém do esforço” que tiveram na disciplina.

“Você fez o pedido de revisão da nota, o professor revisou. Quando eu fiz, o professor não só não acatou. Antes disso, fomos todos à sala do professor e ele, diante de vocês, me desqualificou de tal maneira. Foi uma coisa terrível que eu prefiro nem repetir. E todos ficamos chocados, acho que nenhum de nós tínhamos visto um educador se referir a um estudante daquela forma, naquele nível. Fui encorajado, não sei de onde me veio força, a insistir na revisão da nota”.

Ari pontuou ainda que pesquisadores de áreas raciais e negros vivem pressões que “aparecem com vários outros nomes, vários outros textos”. “A questão racial nunca vem clarividente”, disse.

Carta de ex-estudantes

Após o ocorrido, ex-estudantes do Departamento de Antropologia da UnB publicaram uma carta aberta de solidariedade aos estudantes negros da instituição.

“Prestamos nossa solidariedade a esses discentes e dizemos: vocês não estão sozinhos, como muitos de nós nos sentimos quando a presença negra, indígena e de estudantes de baixa renda nas pós-graduações era ínfima. Estendemos nosso carinho e solidariedade a Ari, que é um símbolo na luta contra o racismo e sua perversidade nas universidades brasileiras. A violência da qual foi vítima motivou a aprovação das cotas raciais na UnB, primeira universidade federal a implementar a política, em 2003”, diz o texto.

Os ex-estudantes também defenderam o sistema de cotas implementado na UnB. “Qualquer justiça só pode vir daí e não do questionamento à violência racial sofrida por um homem negro.”

Resposta da UnB

Em nota, a Reitoria da UnB repudiou todo e qualquer ato de racismo, violência ou intolerância. “A UnB tem orgulho de ser pioneira na implantação do sistema de cotas raciais, em 2003”, diz o texto. A universidade também afirmou que não há queixa formal sobre o ocorrido com Ari na conferência.

“A instituição sempre foi um ambiente de promoção de ações afirmativas com foco na missão de ser um agente transformador por uma sociedade mais justa e igualitária”, completa a nota.

 

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