Professor preso 14 anos após morte de esposa alegou “defesa da honra”
Igor Azevedo Bomfim foi preso no Distrito Federal após ser condenado em definitivo pela morta da esposa, na Bahia, há 14 anos
atualizado
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Completados 14 anos do assassinato de Mayara de Souza Lisboa (foto em destaque), em Santa Rita de Cássia (BA), o professor Igor Azevedo Bomfim, 45 anos, começou a cumprir, na última sexta-feira (15/11), a pena de 10 anos e 10 meses, em regime prisional fechado, pela morte da ex-esposa.
O mandado de prisão contra o assassino confesso, por condenação transitada em julgado, foi expedido no último dia 13 pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA).
Igor atuava como professor temporário da rede pública do Distrito Federal desde 2022. Ele foi detido pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) no apartamento dele, na QI 9 do Guará I.
Imagens feitas por moradores da região flagraram o momento em que ocorreu a prisão do professor.
Veja:
Segundo o processo no TJBA, Igor foi acusado de executar Mayara, que tinha 22 anos na época, em 2010. O casal manteve um relacionamento por 1 ano e 8 meses.
O inquérito policial do caso apontou que o criminoso desenvolveu, “por conta de amor obsessivo ou de ciúmes que extravasava dos limites da normalidade”, uma desconfiança em relação à fidelidade da vendedora, e que a monitorava em cada passo.
A situação teria ficado insustentável a ponto de a vítima, depois de mais uma discussão em que o denunciado lhe apontara uma arma de fogo, solicitar a ajuda de um amigo, pedindo que ele vigiasse a casa para que ela pudesse tomar banho.
Em 2 de novembro de 2010, Igor “saltou o muro dos fundos da casa e alcançou a vítima no banheiro”. De acordo com o processo judicial, Mayara levou cinco tiros e morreu no local.
Depois de 12 dias foragido, o assassino se apresentou à delegacia e confessou a autoria do crime. Alegou que matou a jovem “em defesa da honra”.
Antes de ser derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a tese da legítima defesa da honra era usada em casos de violência de gênero para justificar o injustificável. O argumento servia para que o assassinato ou a agressão fossem aceitáveis quando a vítima tivesse cometido adultério, pois essa conduta supostamente feriria a honra do agressor.
Absolvido no Tribunal do Júri
O professor temporário virou réu do caso e, em 2013, ele passou pelo Tribunal do Júri, mas foi absolvido por ter sido a decisão dos jurados contrária às provas apresentadas pela investigação do caso.
A impunidade pela morte de Mayara, levou os familiares e amigos da vítima às ruas de Santa Rita de Cássia para pedir justiça pelo crime.
Imagens feitas à época mostram uma passeata com centenas de pessoas que protestavam contra a absolvição de Igor. “Quando a sociedade omite, a impunidade ganha voz”, dizia um cartaz.
Veja imagens:
A família de Mayara recorreu para que o júri fosse anulado, e Igor passou por novo julgamento, em 2019, que o condenou a 10 anos, 10 meses e 18 dias, em regime prisional fechado.
A defesa de Igor recorreu sucessivas vezes, e ele, enquanto isso, aguardava em liberdade. Mas, em novembro deste ano, o processou transitou em julgado, e a Justiça expediu o mandado de prisão.
Vida em Brasília
De acordo com a família de Mayara, Igor mudou-se para Brasília logo após ter sido absolvido pelo Júri. Ele chegou a abrir uma empresa de vidraçaria na capital do país.
No Distrito Federal, casou-se com uma mulher, teve um filho e tornou-se síndico do prédio onde residia, no Guará I. Nesse meio tempo, também cursou a faculdade de administração.
Desde, pelo menos, 2022, Igor trabalhava como professor temporário na Secretaria de Educação. A partir de fevereiro de 2024, ele começou a lecionar na Escola Classe 02 do Guará, segundo o Portal de Transparência do GDF.
O edital de convocação da Secretaria de Educação do DF informava aos candidatos que, por acaso, venham a ter impedimentos judiciais ou administrativos não estariam habilitados para serem contratados.
Todavia, à época em que assumiu o cargo, Igor não havia sido condenado em definitivo pelo assassinato de Mayara.
Procurada, a Secretaria de Educação se posicionou. “O profissional citado pertence aos quadros funcionais de contrato temporário da Secretaria de Educação. No caso de professor que se encontra em regime carcerário, o afastamento é imediato. Com a condenação, o registro será inserido no sistema, impossibilitando futuras convocações como professor substituto”, disse.
“Esclarecemos que as certidões entregues integram a pasta funcional do profissional e, conforme determina a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), são informações protegidas e não podem ser divulgadas, a fim de resguardar o direito à privacidade de qualquer servidor”, pontuou a pasta.