Professor envenenado: polícia levanta hipótese de suicídio
Investigadores da 2ª Delegacia de Polícia realizam a reconstituição do crime Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) trabalha com duas linhas de investigação no caso da morte do ex-diretor do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos. A 2ª Delegacia de Polícia tenta descobrir se houve homicídio ou suicídio.
Agentes e peritos criminais fazem, neste sábado (15/02/2020) a reconstituição, no CEF 410 Norte, do dia em que Odailton teria sido envenenado.
Delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto, disse à imprensa que o laudo elaborado pelo Instituto de Criminalística (IC) será decisivo para concluir a investigação.
“O trabalho realizado pelos peritos criminais, que são experts na área, é minucioso e bem detalhado. Por meio dele, será possível colocar no laudo o que teria acontecido, segundo a reprodução simulada e os depoimentos das testemunhas”, disse Rossetto.
“Vamos juntar o laudo pericial com outras peças para chegar a uma conclusão. Estamos trabalhando com duas vertentes no momento: possibilidade homicídio ou autoeliminação”, acrescentou.
Além de Rossetto, o diretor do IC, Emerson Pinto de Souza, acompanhou a reconstituição. Os peritos criminais comparam versões sobre o dia em que Odailton passou mal. “Essa fase é importante porque colocamos a testemunha no local, ela explica o que ocorreu e o que ela viu”, explicou Souza.
Segundo o diretor do IC, o material coletado será analisado e concluído em laudo, que deve sair nos próximos dias.
Mais cedo, durante a reconstituição, o vice-diretor do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte, Diego Faria, disse que o Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos, não era esperado na escola no dia em que passou mal, em 30 de janeiro de 2020.
“Não havia reunião marcada. A gente não esperava ele na escola aquele dia”, afirmou o atual vice-diretor à imprensa na porta do CEF 410 Norte, neste sábado (15/02/2020).
Faria declarou que trocou rápidas palavras com Odailton e estava almoçando quando o colega começou a passar mal. O vice-diretor participou da reconstituição do dia em que o professor teria sido envenenado. “Acho que todo mundo espera que as coisas sejam esclarecidas, porque são várias vidas envolvidas nisso”, disse.
Odailton atuou por oito anos como diretor da instituição de ensino e morreu dias após ter acusado uma colega de o ter envenenado. Ao todo, 12 testemunhas foram chamadas para ajudar os investigadores a reproduzirem os momentos em que o professor passou dentro do colégio, no dia 30 de janeiro.
“A reprodução simulada está sendo muito produtiva. Estamos pegando o passo a passo de tudo que aconteceu no dia. Queremos fazer isso rápido, porque vem o Carnaval e as pessoas esquecem. Até o momento, não tivemos ninguém falando sobre o suco de uva. Mas estamos analisando e documentando tudo, incluindo a água que ele bebeu na escola”, disse o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto.
Segundo o delegado, 22 pessoas foram ouvidas pela 2ª DP até agora. “Essa investigação continua sendo prioridade para que nós possamos dar uma resposta rápida e eficiente. Hoje, ouviremos policiais militares, professores e o vigia. Pessoas que tiveram contato com a vítima. Isso vai ser transformado em um laudo, que demora 30 dias para ficar pronto. Estamos coletando todas as provas”, explicou Laércio Rossetto.
Um promotor do Tribunal do Júri acompanha a reprodução, assim como os advogados das partes. A cronologia e a ordem da reconstituição serão de acordo com a relevância e a importância dos depoimentos. “No primeiro momento, a suspeita forte era de homicídio, mas não descartamos outra possibilidade”, ressaltou Rossetto.
Uma perita médica legista, especialista em psiquiatria forense reconhecida nacionalmente pela expertise nessa área, também acompanha os trabalhos. “A delegacia está em busca de todos os recursos possíveis que existem na instituição para concluir o caso”, afirmou o investigador.
De dentro da escola, onde participaria de reunião, o professor Odailton enviou áudios angustiantes a familiares e colegas, pedindo socorro e detalhando seu estado de saúde. O docente chegou a dizer nas gravações de WhatsApp que desconfiava de alguma substância estranha em sua bebida. Disse ainda que tinha bebido um suco de uva oferecido por uma colega da escola, mas até o momento a polícia não conseguiu confirmar essa informação.
Confira o áudio:
A direção do CEF 410 Norte afirmou, em nota, que nenhum funcionário do colégio serviu qualquer “substância líquida” a Charles, como Odailton era tratado. “A única substância líquida que o professor Charles ingeriu no CEF 410 Norte foi água, o que o fez por vontade livre, colhendo-a na sala dos professores diante de outras pessoas que ali estavam”, diz o documento.
Ainda no comunicado, o colégio frisa que, no dia do episódio (30/01/2020), apenas alguns servidores terceirizados e educadores estavam na escola, para preparar as dependências que estavam em obras. “Não havia nenhuma reunião agendada entre a atual equipe gestora e o ex-diretor”, pontuou a direção.
Durante as investigações, a 2ª DP apreendeu dois aparelhos celulares de servidores do CEF 410 Norte. E divulgou laudo apontando que o professor foi intoxicado por uma espécie de raticida, chamado de audicarb, populamente conhecido como chumbinho.
Antes de morrer, o professor também falou em áudio sobre suposto esquema de rachadinha no colégio. “Vou botar no pau esse povo, comigo vai ser tudo na Justiça”, finaliza. Em nota, a Secretaria de Educação (SEE-DF) disse que vai aguardar as investigações policiais e a finalização do inquérito para se pronunciar.