Professor do DF integra pesquisa nacional que busca cura para o coronavírus
Docente da UnB coordenou a primeira equipe da capital do país a conseguir sequenciar o genoma da Covid-19
atualizado
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Coordenador da primeira equipe de pesquisadores do Distrito Federal a sequenciar o genoma do novo coronavírus, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Bergmann Morais Ribeiro (foto em destaque) foi convidado para integrar pesquisa nacional voltada à busca de um tratamento para a doença.
A força-tarefa nacional, para a qual Bergmann foi selecionado, conta com outros 22 estudiosos de renomadas instituições de ensino superior de diferentes estados do país.
Assim como o brasiliense, os escolhidos também trabalham com sequenciamento de outros vírus. O projeto será coordenado por Fernando Rosado Spiliki, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Ao Metrópoles, o docente explicou de que forma o sequenciamento do novo coronavírus é importante para que pesquisadores possam, futuramente, encontrar uma cura para a Covid-19.
“Quando você tem um vírus, a primeira coisa que se deve fazer é uma análise minuciosa desse material. Com a análise genética desse vírus, o sequenciamento dele, é possível analisar seu gene e entender como ele age. Assim, consegue-se desenhar uma droga capaz de inibir a ação do vírus no organismo”, explica o professor da UnB.
O procedimento também permite, segundo ele, que os cientistas consigam rastrear a forma de dispersão e atuação dos organismos.
“Nos Estados Unidos, por exemplo, os pesquisadores compararam o coronavírus que chegou ao país com o dos primeiros pacientes da província de Wuhan, na China, onde a doença começou. Eles viram que o vírus era muito parecido, mas que sofria mutações muito rapidamente.”
Com amostras de pacientes diagnosticados com Covid-19 e ajuda cedida pela Universidade de São Paulo (USP), a equipe coordenada por Bergmann sequenciou um vírus com oito modificações. “Até agora, segundo informações que constam em fóruns públicos atualizados por pesquisadores, já foram sequenciados 30 mil genomas do novo vírus. Ficou evidenciado que o organismo pode sofrer até 20 mutações, sendo 10 a média.”
As mutações, de acordo com o estudioso, representam obstáculos no desenvolvimento de vacinas capazes de inibir a ação do vírus no sistema imunológico.
“A vacina demora meses, ou até anos, para saber se tem eficácia ou não. Se ele está mudando será um problema para desenvolver vacinas, pois o vírus pode ficar adormecido no sistema por dias, meses e anos.”
Falta de incentivo
A pesquisa nacional segue paralisada enquanto a iniciativa não consegue a aprovação de patrocínio para financiamento. Para o docente, a falta de incentivo das autoridades nacionais para o desenvolvimento de estudos científicos não é pontual da crise provocada pela pandemia de Covid-19.
“É importante que os governos tenham em mente que ciência é investimento, nunca é um gasto. Em um momento como este, a melhor forma de contornar os problemas é estando prevenido. No caso de doenças, é preciso conhecer seu inimigo, é preciso estudar o vírus”, reforça Ribeiro.
A pandemia, segundo o cientista, era uma tragédia anunciada. “Muitos estudiosos já sabiam que isso ia acontecer. Existem outras centenas de vírus de animais que podem passar pros seres humanos e é preciso estudá-los. Há mais vírus do que todas as células humanas do planeta, são as entidades biológicas mais abundantes do mundo.”
“Ninguém liga para a virologia até que uma pandemia se instale. Aí decidem investir para apagar incêndio. É preciso que haja investimento prévio”, finalizou o docente.