Professor do DF foi único árbitro brasileiro do judô nas Olimpíadas
Com mais de 45 anos de experiência nos tatames, o mestre André Mariano foi um dos 16 árbitros convocados para as Olimpíadas 2024
atualizado
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Não é novidade que os atletas do Distrito Federal tiveram destaque nas Olímpiadas de Paris 2024. Alguns deles, inclusive, conquistaram medalhas na competição. No entanto, o que talvez nem todo mundo saiba é que a capital do país também foi representada nas arbitragens de algumas das modalidades esportivas do evento.
De Taguatinga para Paris, o professor da rede pública de ensino, mestre André Mariano dos Santos, 53 anos, foi o único brasileiro convocado pela Federação Internacional de Judô (FIJ) para compor a equipe de 16 árbitros principais da competição mundial.
Com uma das melhores performances na arbitragem da modalidade, o brasiliense foi escolhido para mediar a grande final do judô masculino, que trouxe o confronto entre os pesos-pesados Teddy Riner, da França, e Kim Minjong, da Coreia do Sul. A disputa pela medalha de ouro estava entre as mais aguardadas no esporte.
“Assim como os atletas, a gente também trabalha com performance. Nós começamos a arbitrar as primeiras partidas, e os que vão tendo as melhores performances, vão sendo selecionados para as disputas de medalhas. Por isso, eu tive a felicidade de ser agraciado com essa final. Então, a consistência dos sete dias de arbitragem fizeram com que eu fosse escolhido pelos meus superiores para essa partida”, detalha André Mariano.
A trajetória até chegar ao ápice desse momento na carreira como árbitro do judô já perdura por mais de 45 anos. André Mariano começou a praticar o esporte ainda na infância. Aos 15 anos, ele teve o primeiro contato com a arbitragem em competições infantis no DF.
“Eu me sentava nas arquibancadas para assistir outras lutas. E, às vezes, eu percebia que algumas decisões tomadas pela arbitragem não estavam de acordo com as regras, e eu ficava lá reclamando, mas sempre de uma maneira educada. Até que o atual presidente da Federação Metropolitana de Judô, Luiz Gonzaga Filho, me notou e me chamou para ajudá-los como árbitro, em paralelo ao trabalho como atleta profissional”, relembra o começo.
Para ele, a prática esportiva é uma aliada na carreira de sucesso dentro da arbitragem. “Ainda sou atleta competidor, tricampeão brasileiro na classe veterano. Eu acredito que a competição me ajuda, me ampara e me dá muitas condições de desempenhar um trabalho melhor enquanto árbitro”, explica André.
André Mariano fala sobre trajetória:
Com formação superior em educação física, a dedicação ao esporte também levou André Mariano a querer transmitir o ensinamento para outras gerações. Há 21 anos, o mestre ensina a modalidade para crianças e adolescentes no Centro de Iniciação Desportiva (CID) do Centro Educacional 2 de Taguatinga (Centrão).
Além da rede pública de ensino do Distrito Federal, o professor também dá aulas de judô em uma escola particular de Taguatinga. De acordo com ele, ao longo de todos esses anos, entre 5 e 10 mil alunos passaram por ele. “Fazer parte da construção da vida de cada um deles é motivo de muita honra para mim”, declara.
Vida dedicada ao judô
A paixão pelo esporte fez com que André se empenhasse em ter os requisitos necessários para alcançar o mais alto patamar da arbitragem no judô. Desde 2010, ele é árbitro nível internacional.
Esta foi a terceira participação do mestre em jogos olímpicos: esteve nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, atuando como árbitro principal, e nas Olimpíadas do Rio, em 2016, como integrante da equipe de arbitragem. Também já participou de outras competições, como Grand Prix, Grand Slam, continentais e mundiais.
“Imagine, você está entre os 16 árbitros no mundo convocados para as Olimpíadas. Não é fácil, a exigência é alta. Só para ter ideia, somente no Brasil, nós temos aproximadamente 1,2 mil árbitros de judô. Desses, em torno de cinco já mediaram em jogos olímpicos”, ressalta.
André conta que, para estar preparado para lidar com a ansiedade e a pressão de arbitrar em uma olímpiada, ele precisou, principalmente, de preparo mental.
“A presença do público foi um baque para quem não estava preparado emocionalmente. Eu pensava comigo mesmo: ‘Como que eu vou reagir dentro em uma arena com 15 mil pessoas? Como que vai ser meu desempenho? O que eu preciso fazer para que a minha performance não seja alterada?’ Não queria ter uma atitude que fosse injusta com algum competidor. Acho que consegui manter uma arbitragem equilibrada”, comenta.
Sobre as polêmicas envolvendo alguns dos árbitros do judô durante o torneio, André acredita que as regras de arbitragem nas Olimpíadas precisam ser aprimoradas. Na avaliação dele, alguns árbitros se mostraram excessivamente focados em punir, em vez de permitir que o combate fluísse e o atleta construísse o movimento.
Esporte atrelado à educação
O judoca acredita que o esporte tem fundamental importância na formação dos alunos, contribuindo com resultados escolares. Para ele, o estudo, a disciplina e o respeito são a base de formação de um atleta.
Para aqueles que são ensinados por ele, André espera servir de inspiração. “Eu sempre falo que, se eles caminharem junto ao estudo, eles podem chegar aonde eu estou. Desde que tenham disciplina e comprometimento, é possível. A gente luta para que o esporte esteja presente na vida deles”, afirma.
Na percepção dele, a participação nas Olimpíadas de Paris é resultado da dedicação total ao esporte. “Por meio dos meus estudos e meus esforços, pude atingir o nível internacional. Foi um processo a longo prazo. Hoje estou colhendo os frutos de uma vida dedicada ao judô; de uma vida dedicada à arbitragem, em uma cidade que não tem um polo tão forte de judô, mas é um celeiro de judocas”, celebra.