Presidente da Caesb, Daniel Rossiter diz que crise hídrica é passado e prepara empresa para venda de ações
Volume dos reservatórios é confortável e não há perspectiva de faltar água para a população do DF nos próximos anos, segundo o gestor
atualizado
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Há um ano e dois meses no cargo de presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), Daniel Rossiter disse, em entrevista ao Metrópoles, que não tem previsão de a capital do país enfrentar novamente o risco de faltar água, como ocorreu em 2017 e 2018.
O DF passou, nos últimos dias, por forte estiagem e atingiu temperaturas recordes. Uma onda de calor levou o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) a emitir alerta de risco de morte. Do ponto de vista do abastecimento de água, contudo, a situação está sob controle, segundo Rossiter.
A crise hídrica do passado desencadeou uma série de medidas anunciadas para melhoria do saneamento básico da população brasiliense. De acordo com a companhia, os investimentos em obras somam aproximadamente R$ 230 milhões desde 2019. Trata-se do maior aporte nos últimos cinco anos, exceto em 2017, quando o volume da Barragem do Descoberto chegou a 5% e o governo foi obrigado a colocar a mão no bolso para lidar com a crise.
Rossiter assumiu a Caesb, em agosto de 2019, com a missão de melhorar o atendimento ao cliente, enxugar os gastos e controlar as dívidas. O presidente também prepara a companhia para a abertura de capital, com venda de ações na bolsa de valores. Segundo Rossiter, nos próximos meses, a estatal estará apta para a entrada de acionistas privados.
Caixa
A Caesb quitou, em maio de 2020, o financiamento da sede com a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), ao custo de R$ 28,7 milhões. O prédio principal está localizado em Águas Claras e as atividades funcionam ali desde 2005, mas o edifício ainda não tinha sido totalmente pago.
Segundo dados oficiais, a redução das dívidas foi de 22% a partir da liquidação antecipada de financiamentos na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil, no valor aproximado de R$ 100 milhões.
“Tivemos um ano de importante crescimento para a empresa, tanto financeiro quanto profissional. Isso é fruto da dedicação de cada empregado e colaborador que se dedica 24 horas, 365 dias, à população do DF, mas, principalmente, do apoio, da liberdade e da confiança que o governador Ibaneis Rocha deposita no nosso trabalho desde o dia em que eu assumi a empresa”, disse Rossiter.
Na tentativa de dar o exemplo no corte de gastos, o presidente abriu mão do carro oficial e do motorista particular oferecidos pela Caesb. A medida foi repetida por outros gestores da companhia.
A Caesb atende 99% da população com água e, em relação ao esgoto, coleta 89,48% e trata 100%. Em junho de 2020, a companhia do DF ficou em 2º lugar, entre as capitais, no Ranking Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) da Universalização do Saneamento. No ano anterior, a estatal esteve na 12ª posição.
Confira a entrevista com o presidente da Caesb, Daniel Rossiter:
Vivemos uma das piores estiagens, com muito calor e sem chuva. O Distrito Federal, mesmo em meio a essa situação, não corre o risco de ficar sem água?
Não. De 2018 a 2020, os períodos de chuva foram constantes, os reservatórios chegaram a 100% e todos verteram. De certa forma, a crise hídrica deixou uma marca na população. Em alguns lugares onde era comum lavar as calçadas ou os pilotis dos prédios, isso já não é mais feito hoje. Então, ficou um pouco daquela educação, mas ainda é preciso que isso melhore.
Dentro do que a gente tem hoje nos reservatórios do Descoberto e de Santa Maria, a situação é confortável. O sistema de Corumbá está prestes a entrar em operação, acho que no final do ano começa. O Corumbá vai desafogar ainda mais o Descoberto porque vamos usar menos água dele.
A crise que a gente viveu em 2017 foi resultado do que ocorreu em 2016. Se a gente olhar para o futuro de 2021 e 2022, pode-se dizer que DF não vai repetir a situação de 2017?
Nesse espaço de tempo, podemos dizer isso com tranquilidade. Em 2016 houve estiagem pesada, com pouca chuva. Em 2017 também. Então, nós precisaríamos de dois anos seguidos de falta de chuva para repetir uma crise hídrica. O ano de 2019 foi bom de chuva e, em 2020, estamos entrando na época de chuva com volume dos reservatórios bem confortável. Então, nós precisaríamos ter uma estiagem muito grande no final de 2021, repetida no final de 2022 para ter uma crise em 2023. Foi o que aconteceu lá atrás. A chuva é Deus que controla. Não posso afirmar que nunca mais vai ter estiagem de dois ou três anos. Mas, a curto prazo, está tranquilo.
Então foi obra divina o fato de não ter ocorrido problema de falta de água neste ano?
Eu diria que Deus deu a orientação e a gente está seguindo, trabalhando para economizar água, conscientizar e fazer investimento para diminuir ao máximo as perdas de água que temos hoje no sistema. Existe, sim, o trabalho da Caesb.
De quanto foi o investimento da Caesb em 2020?
Da minha gestão, esse investimento está em torno de R$ 230 milhões.
Como está a saúde financeira da companhia?
A Caesb está com uma boa saúde financeira. A companhia vem se recuperando, principalmente ao longo dos últimos 14 meses. Hoje, a Caesb tem condições de honrar todos os compromissos em dia, com todos os fornecedores, não existe atraso ou perspectiva de não pagar folha, 13º salário e não adimplir com empréstimos que faltam ser quitados. E tem uma perspectiva mais saudável ainda para o futuro. Como a empresa entrou em rota de equilíbrio, a tendência é que esse conforto financeiro vá aumentando ao passar dos anos.
Em números, o que isso representa?
No final de agosto de 2020, a gente tinha em caixa em torno de R$ 129 milhões. A gente fechou o ano de 2019 com lucro de R$ 145 milhões, só que tinha prejuízo acumulado de R$ 247 milhões. Hoje, temos prejuízo de R$ 102 milhões. Tem passivo que vou pagar em cinco ou seis anos, mas tenho que jogar esse valor todo no orçamento de um ano só. Isso gerou déficit contábil, que está sendo eliminado agora. Esses R$ 102 milhões devem desaparecer no próximo ano quando fechar o balanço e a empresa começar a ter superávit, tanto contábil quanto financeiro.
Tenho financiamento com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em dólar. Começamos a pagar no ano passado e a dívida vai até 2039, ou seja, é muito longo. Quando o dólar sai de R$ 4 para R$ 6, isso atrapalha meu lucro financeiro. Ele aparece, mas é engolido pelo contábil, apesar de que só vou pagar isso semestralmente. Se no dia 30 de dezembro o dólar tiver a R$ 4,50, nós vamos ter bom lucro tanto financeiro quanto contábil.
A Caesb vai ser vendida?
O governador tem se manifestado bem favorável à abertura de capital da empresa para colocá-la como a Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo] e a Copasa [Companhia de Saneamento de Minas Gerais]. Nesse modelo, o Distrito Federal continuaria como sócio majoritário da empresa e parte dela seria vendida em ações no mercado de capital da bolsa de valores.
Isso é interessante do ponto de vista do Distrito Federal? Por quê?
É interessante de todos os pontos de vista. Para o funcionário, que passa a ter possibilidade de ingressar como acionista da empresa e teria direito a 10% do que fosse colocado no mercado. Tanto para a empresa quanto para o Distrito Federal, haveria uma captação de recursos que não tem custo, porque, nessa parte das ações que são vendidas, o recurso vem e não gera débito pra ninguém, mas possibilidade para investimento e acionistas, que, dependendo do tamanho e da participação, trazem ideias novas e experiência de outras áreas.
E para o cidadão?
Acho que também é bom. Não seria uma novidade. Por exemplo, em Minas Gerais, há muito tempo que a Copasa tem ações na bolsa. Em São Paulo, a Sabesp é considerada uma das melhores empresas da América Latina e tem 49% de acionistas privados. Então, para a população, eu vejo como uma coisa boa trazer essa agilidade empresarial do privado para a companhia.
Qual é a perspectiva de que isso aconteça?
Não é um trâmite simples. A empresa está se tornando apta a cumprir, nos próximos meses, as condições. Na hora que o governador entender que deve ser feito, a empresa estará preparada para isso.
Uma das obras mais faladas durante a crise hídrica é a que vai trazer água de Corumbá IV para o DF. O que falta para esse sistema entrar em operação?
É uma questão de ligação de alta tensão de energia elétrica para fazer funcionar as bombas de algumas elevatórias. Estamos correndo com isso e ajudando a Saneago [Companhia Saneamento de Goiás]. A perspectiva é de conseguirmos resolver as pendências até o final de novembro. Se for possível colocar em funcionamento em dezembro, será ótimo. No pior cenário, talvez janeiro ou fevereiro. Da parte do DF, essas obras estão 97% concluídas.