Prédio na 202 norte é galpão de luxo para a Câmara dos Deputados
Apartamentos de 200 metros quadrados do bloco L da SQN 202 abriga móveis e outras quinquilharias da Câmara há anos
atualizado
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Você pode até tocar, mas ninguém vai atender. No bloco L da 202 Norte não mora ninguém. A única movimentação no prédio de 24 apartamentos destinados a dar abrigo a deputados federais é de funcionários da Câmara, caminhões de mudança lotados de móveis e quinquilharias e equipes de manutenção e limpeza. O prédio, parte do patrimônio da Câmara dos Deputados, há anos funciona como galpão de entulho para o órgão.
Segundo funcionários, as unidades – cada uma tem cerca de 200 metros quadrados – abrigam móveis e eletrodomésticos antes de serem transferidos a outros imóveis da Casa ou irem a leilão. A Câmara tem 18 prédios residenciais espalhados pelo Plano Piloto. Na Asa Norte, são nove na 302 e quatro na 202. Na Asa Sul, três na 311 Sul e dois na 111.
Dos 432 apartamentos, 324 estão ocupados por deputados e quatro por senadores. O restante, ou serve de depósito, ou foi esvaziado para reforma. Os parlamentares que não são agraciados com o “mimo” de luxo decorado para usufruir durante o mandato recebem o auxílio-moradia, hoje em R$ 4.253 por mês. Montante que, embora alto, não está nem perto do valor a que podem chegar os aluguéis de apartamentos como o do bloco L.
Galpão de luxo
A 202 Norte não é uma quadra qualquer. Bem no centro da capital, o trajeto dali até o Congresso Nacional de carro – um trecho de 5km – não dura mais do que 10 minutos. Recentemente, cresceu aos olhos do mercado imobiliário quando a sede do Banco do Brasil foi transferida para o Setor de Autarquias Norte, a uma curta caminhada de distância. Restaurantes e bares se multiplicaram no comércio local para atender o novo público.
Para se ter uma ideia, há menos de dois meses alugamos um apartamento naquela quadra de 120 metros quadrados por R$ 3,5 mil por mês. O mesmo apartamento estava anunciado para venda a R$ 1,25 milhão
Pablo Bueno, especialista em mercado imobiliário e sócio da 61 Imóveis
Os apartamentos da Câmara, no entanto, são maiores. Com apenas quatro apartamentos por andar e vaga na garagem, estão um patamar acima. Além de espaçosos, são raros. Considerando que o apartamento esteja cru, sem nenhum tipo de reforma, seu preço de venda chegaria a quase R$ 2 milhões, segundo Bueno. Isso significa que a Câmara usa um espaço de R$ 48 milhões para guardar tralha. Com uma reforma básica, o aluguel poderia chegar fácil a R$ 9 mil por mês, o que explica porque muitos deputados preferem entrar na disputa por um apartamento do que receber o auxílio.
Reformas
Hoje, o déficit de moradia para os deputados chega a 81 apartamentos. Na década de 1970, quando os prédios foram construídos, a Câmara tinha 420 deputados – eram 12 unidades de “sobra”. Hoje, são 513. Nos últimos quatro anos, o órgão gastou R$ 9,5 milhões em reformas e manutenção, segundo a Câmara, em parte para resolver o problema da falta de apartamentos.
As unidades da 302 Norte, por exemplo, onde todos os prédios são da Casa, já passaram por reforma. Os próximos alvos seriam os quatro blocos da 202 Norte. A ideia é que as 96 unidades sejam divididas e transformadas em 192. Mas a Mesa Diretora pediu novos estudos de viabilidade.
Descrentes, os funcionários dos blocos dizem que a promessa de reforma se arrasta há anos. Ao Metrópoles, a Câmara disse que os apartamentos usados como depósito não estão em condição de uso, que a situação é transitória e deve durar até que esses móveis sejam transferidos para o Centro de Gestão e Armazenamento de Materiais, ainda em construção no Setor de Indústria e Abastecimento e com previsão de entrega para meados de 2017.