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Porteira denuncia caso de injúria racial em condomínio do DF: “Chica da Silva”

Helena Rodrigues da Abadia, 44, denunciou um morador do residencial Park Ville, na 912 Norte. Homem foi solto após audiência de custódia

atualizado

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Foto colorida das mãos de um homem negro e o estatuto da igualdade racial - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida das mãos de um homem negro e o estatuto da igualdade racial - Metrópoles - Foto: Reprodução/EBC

A porteira do residencial Park Ville, na 912 Norte, denunciou na última segunda-feira (31/7), o morador Marcus de Araujo Junior, 37 anos, por injúria racial. O homem chegou a ser preso pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), mas foi solto após passar por audiência de custódia na terça-feira (1º/8).

Em conversa com a reportagem, Helena Rodrigues da Abadia, 44 anos, conta que apesar de ter presenciado comentários estranhos durante o expediente, o tom das falas de Marcus ao circular pela guarita ganhou um caráter racial apenas na última semana. Em um dos encontros, foi chamada de “Chica da Silva”, em alusão à personagem negra emblemática da história brasileira.

“Semana passada, foi a primeira vez que foi mais explícito. Foi uma movimentação muito estranha, nunca tinha passado por isso”, explica a profissional.

Helena relembra que ganhou um cartaz feito pelo morador com os dizeres: “Morte aos judeus e seus seguidores”. As palavras “morte”, “judeus” e “seguidores” estavam destacadas.

Na última segunda-feira (31/7), no entanto, os encontros que teve com Marcus foram mais preocupantes. “Ele chegou perto de mim e perguntou se caso estivesse com a cara preta, ele poderia sair na foto do reconhecimento biométrico da portaria. Ele voltou a insinuar que se tirasse uma foto com a cara toda preta, ele conseguiria sair na imagem e disse ‘Tchau, Chica da Silva’, antes de ir embora”, relata.

No primeiro momento, a porteira admite que não entendeu o tom das falas. “Ele voltou mais tarde, sentou em um banquinho ao lado da portaria e perguntou se meu nome era Chica da Silva”, conta. Em seguida, Marcus perguntou se Helena tinha uma filha. Ao questionar o motivo do morador querer saber se possuía descendentes, ele pediu para que a garota fosse brincar com ele e que a filha seria um problema a menos na vida da profissional.

“Isso foi o que pesou demais. Nunca passei por isso, racialmente não. Sempre vi casos assim, mas quando aconteceu comigo foi muito impactante, porque envolveu minha filha”, lamenta Helena.

Testemunha do episódio, Jeferson Ygol Trajano Dantas, 30, colega de Helena e também porteiro do condomínio acionou o responsável pelo complexo residencial e PMDF.

“[Ao ouvir isso,] Já fiquei arrepiado, me tremendo todo. Tem que chamar a polícia, isso daí não pode ficar assim não”, encorajou.

Proibição

Marcus chegou a ser preso, mas recebeu a liberdade provisória, na última terça-feira (1º/8), desde que mantenha distância do condomínio e de Helena. Por consequência do local de trabalho da porteira, está afastado de sua residência.

Mesmo com as sanções impostas, funcionários do complexo residencial relataram que o homem circulou pelo local na última quarta-feira acompanhado de um familiar.

“Sinto uma sensação de impunidade total. Uma pessoa que ofereceu risco a outra gratuitamente. Nunca falei com ele, nunca trocamos olhares estranhos de maldade, nunca tive um confronto direto. É uma pessoa que é preocupante, precisa ter um cuidado redobrado”, sinaliza Helena.

Para Jeferson, a soltura de Marcus é “lamentável”. “Fica aquele medo, confesso que fico assustado. Ele está solto. Estou meio alerta. Não sei como vai ser daqui para frente, tomara que ele esqueça isso, que a gente consiga trabalhar em paz, mas o medo fica. Espero que a alguma coisa seja feita.”

Outro lado

A reportagem tentou contato com Marcus, mas não localizou o ex-morador do condomínio da 912 Norte ou defesa dele. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.

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