Por que o DF tem números da Covid-19 equivalentes a SC e TO juntos?
População dos dois estados é três vezes maior que a da capital do país, que tem mais casos e mortes. Mas não significa que situação é pior
atualizado
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Há números do novo coronavírus que chamam atenção quando o assunto é Brasil. Por ser um país tão grande, cada região vai apresentar características bem diferentes. É o que faz, por exemplo, o Distrito Federal apresentar índices absolutos grandes em relação a outras unidades da Federação. A quantidade de casos e mortes na capital, por exemplo, é maior que dois estados somados: Santa Catarina e Tocantins, que juntos têm população três vezes maior que a do DF.
Assim, de acordo com dados informados pelo Painel Covid-19 da Secretaria de Saúde na noite de quinta (2/7), a capital do país contava com 52.281 infectados pela doença e 578 mortes, entre os 2,57 milhões de habitantes. Enquanto isso, segundo informações do Ministério da Saúde, os 6,7 milhões de habitantes de Santa Catarina têm 27.279 contaminados e 347 óbitos. Tocantins, com população de 1,4 milhão de pessoas, notificou 11.222 com coronavírus e 204 mortes.
Isso significa que a situação no Distrito Federal é pior do que nos outros dois estados? Não necessariamente, porque a matemática do coronavírus depende muito das características da população. Ou, pelo menos, há uma explicação de por que há tantos casos a mais da Covid-19 na capital do país. A disseminação obedece estágios diferentes, o comportamento dos moradores pode ser diversa e a resposta das autoridades também conta.
“Brasília e São Paulo são hubs de viagens, lugares onde transita mais gente. Vieram muitas pessoas contaminadas de fora. Você tem estados que receberam essas pessoas depois, mas já estavam propensos a fazer o isolamento. Aí, você controla mais fácil”, aponta Breno Adaid, professor do curso de Administração do Centro Universitário Iesb.
Taxa de letalidade
O Distrito Federal apresenta números absolutos mais altos. No entanto, a taxa de letalidade por causa da Covid-19 é uma das menores do país. Da mesma forma, há motivos para isso. Um deles é o IDH, o índice de desenvolvimento humano, que indicaria melhor educação, condições de saúde e saneamento.
“Se a gente atenuar esse fator, temos que levar em consideração que o DF ainda tem leitos. Mas o que determina de maneira basilar é o tratamento médico”, aponta o professor Adaid. E ele ainda chama atenção para a subnotificação que pode existir.
São fatores essenciais para que o Distrito Federal tenha uma taxa de letalidade de 1,1%, contra 1,2% de Santa Catarina e 1,8% de Tocantins. Na frieza das estatísticas, são números baixos, mas não deixam de lado a tristeza das mortes causadas pelas doença e nem os índices gerais. No Brasil como um todo, o número é de 4,2%. No mundo inteiro, a média chega a 5,4%, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas no Rio de Janeiro, a taxa bate os 9%.
Preocupação
Há que se humanizar todos esses números. Um especial do Metrópoles conta as histórias dos nossos mortos, o que há por trás desses índices. E lembra das pessoas que são mais vulneráveis, mesmo que a expectativa seja melhor diante da doença na capital do país. Uma cidade do DF em especial mostra os cuidados que a Covid-19 demanda: Ceilândia.
A localidade entra naquela relação entre o IDH, o número de casos e a porcentagem de mortos. “A gente pode fazer uma ponte com Ceilândia e observar que é uma região menos abastada que o Plano Piloto e outras administrações e ver que lá a doença disparou”, destaca Adaid.
No boletim fornecido pela Secretaria de Saúde do DF, Ceilândia aparecia com 7.152 casos de infectados e 126 óbitos. A cidade é líder nos dois quesitos no triste ranking da doença. E ainda tem uma taxa de letalidade de 1,7%.
“Eu alertei, quando Ceilândia tinha nove casos, que a cidade seria a pior de todas, que ia se descontrolar”, lembra o professor do Iesb, que desde o início da pandemia faz trabalho estatísticos sobre a doença no DF. Segundo ele, há uma soma de fatores que favorece Ceilândia estar na frente da lista entre as cidades que mais sofrem com a Covid-19.
Ele enumera: índice de aglomeração, quantidade de trabalhadores na informalidade, nível de desenvolvimento financeiro e de conhecimento formal de saúde. “Quando você soma tudo, há um barril de pólvora. E isso ocorre em diversos lugares do DF. Já nos locais em que se conseguiu segurar os casos e as mortes, há outros fatores, como se alimentar melhor e ter plano de saúde”, exemplifica Adaid.