Por “péssimas condições”, cozinha de hospital tem licença sanitária negada
Inspeção realizada pela Vigilância Sanitária, em 17 de agosto, aponta diversas falhas na estrutura da cozinha HRSM, gerida pela Salutar
atualizado
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O Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) não está apto a receber licença sanitária no que diz respeito à produção, distribuição e administração de nutrição e alimentação de pacientes. A informação consta no relatório elaborado pela Subsecretaria de Vigilância Sanitária, após inspeção nas dependências da unidade de saúde em 17 de agosto.
A unidade é um dos centros de saúde que estão sob gestão do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF). Além do HRSM, o Hospital de Base e 13 UPAs são geridas pela entidade.
Segundo o relatório, a estrutura física da unidade de terapia da alimentação para os pacientes não encontrava-se, no momento da vistoria, em conformidade com a legislação sanitária vigente. Na visita, foram constatados pisos, paredes e tetos com rachaduras e frestas. Além disso, armários dos vestiários estão danificados e o local está em péssimas condições sanitárias.
Os inspetores verificaram, ainda, que as janelas de acesso às áreas limpas estavam sendo mantidas abertas durante o processo de manipulação das dietas, o que, segundo a Vigilância Sanitária, pode propiciar contaminação do ambiente e das fórmulas manipuladas. O que configura um processo de produção não compatível com as boas práticas.
O documento também aponta que os agentes flagraram funcionários do HRSM sem uniforme, pias que escoavam diretamente no chão, bem como a manipulação de diversos utensílios sem condições de uso e higienização de forma correta.
Briga judicial
Em 15 de agosto deste ano, a 1ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), firmou termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) e a empresa Salutar, responsável pelo fornecimento das dietas dos pacientes nas unidades. O TAC possibilitou o retorno da prestação de alimentação pela Salutar. A Prosus fiscalizará o cumprimento integral do acordo.
Com a retomada, a empresa também tornou-se responsável pela gestão da parte elétrica, estrutural e de utensílios nas cozinhas.
A pacificação é o último andamento de um imbróglio judicial que se arrasta desde 12 maio, quando, após funcionários da empresa paralisarem os serviços, o instituo informou que havia assumido as atividades de elaboração e fornecimento dos alimentos nas unidades hospitalares. Tarefa que, até então, era administrada pela Salutar.
O acordo foi celebrado em abril de 2021, por um valor aproximado de R$ 73 milhões e com prazo de 24 meses. Além de arcar com 800 funcionários, a Salutar deveria fornecer alimentação para cerca de 7 mil pacientes e servidores dos dois hospitais e sete Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) geridos pelo instituto.
O que disse a Secretaria de Saúde
Procurada, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou, por meio de nota, que não foi notificada de nenhuma ação de fiscalização ou recomendação do MPDFT nos hospitais da rede.
O que diz o Iges-DF
Em nota, o Iges-DF informou que, diante do TAC firmado com a empresa Salutar, coube à empresa apresentar um plano estratégico de atuação, destacando-se o imediato abastecimento de insumos e utensílios.
“O TAC possibilitou o retorno da prestação do serviço pela Salutar, posto que a posição da Diretoria Executiva do Iges-DF havia sido pela rescisão contratual, diante das inúmeras irregularidades praticadas pela empresa, que ignorou todas as notificações, não se adequou nem respondeu quanto às más práticas assistenciais identificadas nas cozinhas hospitalares. (…) O TAC firmado obrigou o Iges-DF a tornar sem efeito todas as multas (ou qualquer outra penalidade) aplicadas à empresa até a data do TAC (…).
O Iges-DF notificou à empresa e cientificou ao MPDFT das irregularidades e descumprimentos. (…) Em 17/08/2022 houve a vistoria pela Vigilância Sanitária na cozinha do Hospital Regional de Santa Maria que identificou irregularidades sanitárias. A empresa e o MPDFT foram informados pelo Iges-DF . A segunda vistoria ainda não foi realizada e até o momento não houve a regularização, fato que está obstando o licenciamento sanitário do Hospital. (…) Se a situação não for resolvida, restará levar o descumprimento do TAC ao Judiciário, visando seu cumprimento coercitivo ou, novamente, a rescisão contratual defendida pelo IGESDF, entendendo-se que a saúde nutricional não pode ser negligenciada.”
O que diz a Salutar
Em conversa com o Metrópoles, o presidente da Salutar, Waldenes Barbosa, argumentou que apesar de ter assumido as questões citadas acima, não possui responsabilidade direta com as inconformidades já que o IGESDF havia assumido a gestão da unidade até o firmamento do TAC.
“Existe uma irregularidade, uma inconformidade, mas não somos responsáveis por ela. Desde que o instituto assumiu por 90 dias, bagunçou a gestão. As coisas mais sérias e estruturais das cozinhas dependem de um retorno do IGESDF do nosso plano de ação que foi entregue dia 12 de agosto”, pontua.
Segundo o presidente da empresa, os pedidos de licenças sanitárias também foram enviadas aos órgãos competentes. “Posso te dizer com segurança que tudo que precisava e precisa ser feito está sendo feito a passos largos”, completa.