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Por dentro do Inmet: Meteorologistas contam como é o dia a dia de quem não tem tempo ruim

Profissionais do Instituto Nacional de Meteorologia contam como é o trabalho de quem vive de olho no céu

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Michael Melo/Metrópoles
Michael Melo/Metrópoles
1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

“Sabe quando você acorda no fim de semana ansioso para olhar pela janela e saber como está o tempo lá fora? Tenho essa sensação todos os dias”. É dessa forma que Luiz Cavalcanti, chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), resume sua paixão pela profissão.

Há mais de 30 anos no órgão, Cavalcanti é um dos muitos apaixonados que fazem parte do complexo e contínuo trabalho de monitoramento e previsão do clima no Brasil. Quem assiste ao noticiário e observa aqueles mapas de chuva e previsões de temperaturas provavelmente desconhece a cooperação local, e global, para que todas informações estejam lá, atualizadas e o mais precisas possíveis. Coleta minuciosa de dados – em terra, mar e até no espaço -, análises em supercomputadores, processamento de imagens, utilização de modelos matemáticos e, é claro, um toque de experiência humana estão entre os componentes essenciais para que a ciência não pareça mera adivinhação.

Coletar e repassar
Um dos primeiros passos para que as previsões possam ser feitas é a coleta de dados relativos ao clima. As fontes são variadas: satélites, boias, aviões sonda, balões meteorológicos. Mas os mais tradicionais são as estações meteorológicas, que contam com instrumentos de medição e registro das variáveis meteorológicas/climáticas e enviam os dados para centrais. No total, 718 estão ativas e espalhadas por todo o país, sendo três delas no DF, além de duas no Uruguai e uma na Antártida.

Desse total, 229 são chamadas de convencionais, que exigem a leitura dos equipamentos por fiscais. A informação, coletados três vezes ao dia, são encaminhadas para a unidade de cada um dos 10 distritos do país e, então, repassados para a sede, em Brasília.

As outras 489 estações são denominadas automáticas, já que os equipamentos enviam os dados, de hora em hora, para a sede do Inmet por meio de satélite ou telefonia celular. Para que tudo chegue sem problemas, a maioria das estações automáticas contam com geradores de energia, prontas para funcionar em casos de problemas na rede elétrica.

Somente com as estações meteorológicas são recebidos cerca de 20 mil dados por hora.

O analista Antônio Carlos Montandon é um dos responsáveis por receber os dados das estações e explica a importância das informações recebidas.

Cada estação recolhe quase 30 atributos, incluindo temperaturas, quantidade de chuva, umidade do ar, pressão atmosférica, entre outras. Esses itens são fundamentais para a previsão.

Antônio Carlos Montandon, analista

“A existência dos dois tipos de estação também é importante para que os valores possam ser comparados e confrontados, dando maior grau de certeza na hora da validação das análises”, completa.

Fachada do Inmet. Michael Melo/Metrópoles
Fachada do Inmet. Michael Melo/Metrópoles

Do passado para o futuro
A quantidade de itens coletados permite previsões mais precisas e rápidas. Entretanto, nem sempre foi assim. As primeiras estações do Brasil remontam ao século 19. Na época, os instrumentos, ainda experimentais, auxiliavam pesquisadores a compreender melhor as mudanças climáticas. O próprio Inmet foi criado em 1909. Mas foi só no início dos anos 2000 que a coleta de dados tornou-se mais ampla pelo país. “Há 15 anos existiam apenas cinco estações automáticas no Brasil. Foi, então, que estabeleceu-se uma meta de implementação de uma (estação) a cada 100 km. De lá para cá, o número cresceu bastante”, conta Montandon.

Além de pensar no futuro, o especialista também busca resgatar o passado. Um dos projetos tocados por Montandon é pesquisar dados meteorológicos perdidos no tempo. “A base de dados é importante para pesquisas como recordes de temperatura ou séries históricas”, afirma.

Dos satélites para a mesa
As imagens de satélite são outras fontes de informações. No Inmet, cabe à Seção de Produtos e Imagens de Satélite (Sepis) o recebimento e apuração dos mapas capturados pelos equipamentos espaciais. “Recebemos as imagens de satélites geoestacionários, que fotografam uma parte constante do planeta, e de outro global. No caso, os focos são a América do Sul e uma parte do Oceano Atlântico e da costa Africana”, explica Maria das Graças Ribeiro, geógrafa e uma das responsáveis pelo monitoramento das imagens.

Com as imagens é possível, por exemplo, detectar focos de incêndio, determinar temperaturas de nuvens e até mesmo visualizar condições da vegetação do país. “Checamos tudo para fornecer um material completo para os previsores”, afirma Maria das Graças.

O supercomputador
Uma vez que as informações são recebidas, sejam das estações meteorológicas, dos satélites, ou dos demais equipamentos usados, é preciso processá-las por meio de modelos matemáticos, de forma a tornar os dados mais palpáveis e auxiliar em previsões mais precisas.

O supercomputador do Inmet. Foto: Michael Melo/Metrópoles
O supercomputador do Inmet. Foto: Michael Melo/Metrópoles

Para essa tarefa, o Inmet conta com um dos orgulhos do órgão: o supercomputador. Um dos responsáveis pela montagem do equipamento, José Maurício Guedes apresenta, com brilhos nos olhos, as inovações do sistema computacional. “Contamos hoje com quase 56 Teraflops de velocidade, o que representa 56 trilhões de cálculos por segundo”.

O upgrade implementado há dois anos permitiu grandes evoluções. A começar pela instalação da plataforma Cosmo (Consortium for Small-scale Modeling), amplamente usada no mundo, capaz de gerar relatórios meteorológicos detalhados com inúmeros aspectos climáticos. Atualmente, o sistema gera análises da América do Sul inteira para previsões com até 174 horas de antecedência.

É como se antes tivéssemos um celular antigo, com uma boa câmera, mas que só conseguia captar imagens de poucos megapixels. Agora contamos com um smartphone de última geração.

José Maurício

O “queridinho” do Inmet tem até mesmo um espaço próprio, cheio de condições especiais. Uma sala cofre, com entrada controlada, abriga o supercomputador. A porta garante proteção a incêndios e veda o ambiente de possíveis enchentes. As paredes e tetos, reforçados, aguentam impactos de até 5 toneladas. Dentro, um sistema de ventilação especial permite que ele funcione de forma adequada, sem risco de superaquecimento.

Michael Melo/Metrópoles

Previsão não é magia
Munidos de mapas, informações climáticas e dados numéricos, chega a vez dos previsores realizarem seu trabalho. Chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo, Luiz Cavalcanti afirma que a atividade exige dedicação constante e experiência. “É preciso monitorar cada mudança e realizar as previsões, de forma que haja tempo hábil em casos extremos para que órgãos competentes atuem. Temos contato direto com o Corpo de bombeiros e a Defesa Civil, além de emitirmos alertas em nosso site”, acredita. Atualmente, o site do órgão conta com uma aba só para os alertas.

Muitas vezes nossos resultados permitem que vidas sejam salvas

Luiz Cavalcanti

Além de emergências, as previsões são utilizadas pelas mais diversas áreas, como agricultura, indústria, turismo e aviação. “Além das pessoas que querem saber se podem viajar, fazer um churrasco, um casamento. Quando me perguntam se o clima está bom, respondo: Para quem?”, relata o coordenador substituto da Coordenação-geral de Modelagem Numérica (CMN), Francisco Alves.

Alguns casos curiosos também permeiam a profissão. “Com alguma frequência temos de fazer laudos meteorológicos para processos jurídicos. Já aconteceu de um acusado alegar que havia neblina na hora do crime, por exemplo. Uma outra vez, uma moça se mudou de Curitiba para Brasília por medo de ventos fortes. Mas para azar dela, chegou justamente em uma época de tempestades. Durante semanas ela ligava todo dia, querendo saber sobre os ventos”, conta Cavalcanti.

Clima de dedicação
Uma característica peculiar aos funcionários do Inmet é a paixão com que falam sobre o trabalho realizado. Antônio Montandon foi um dos primeiros estagiários oriundos de parcerias do instituto com centros de integração estudantil. “Quando cheguei, em 1999, fiquei maravilhado com as tecnologias que eram usadas aqui. A gente se dedica bastante e tem até a impressão que as informações que vemos nos jornais nos pertence”, conta o analista.

Michael Melo/Metrópoles
Montandon: Quando cheguei, em 1999, fiquei maravilhado. Foto: Michael Melo/Metrópoles

Profissional há mais de 30 anos, Luiz Cavalcanti também reclama da forma que algumas informações são repassadas. “As previsões de 24 horas são muito precisas, com índice de acerto próximo a 100%. As de dias posteriores são probabilidades, mas quando as pessoas veem no jornal acham que são certezas. A atmosfera é muito dinâmica e quando ocorrem mudanças acham que a culpa é nossa”.

Conterrâneo de Cavalcanti, Francisco Alves, conhecido na empresa como Chiquinho, é outro que pertence ao quadro de funcionários há mais de três décadas. “Antigamente fazíamos muita coisa na mão, incluindo os mapas. Hoje em dia os computadores realizam boa parte das tarefas”.

 

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