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Useiros e vezeiros na Justiça, políticos tentam emplacar herdeiros

Na lista daqueles que pretendem ver os parentes na vida pública, estão Roriz, Paulo Octávio, Arruda, Filippelli e Raad Massouh

atualizado

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Kácio Pacheco
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1 de 1 Ilustração - Foto: Kácio Pacheco

Entre o céu e o inferno, existe o limbo. Lá, estão alguns dos nomes mais conhecidos da política brasiliense que se envolveram em encrencas judiciais. Sem a certeza de que poderão sair dos bastidores e voltar à cena pública, alguns desses personagens tentam manter o poder por meio de seus herdeiros e outros familiares, que têm sido orientados a assinar filiações partidárias para possíveis candidaturas em outubro.

Em geral, esses políticos interromperam a carreira e saíram pela porta dos fundos. Agora, apostam em parentes para voltar a ter presença nas redondezas do Palácio do Buriti, da Câmara Legislativa e da Esplanada dos Ministérios.

Velhos conhecidos dos eleitores brasilienses, como o ex-governador Joaquim Roriz (sem partido), o ex-vice-governador Paulo Octávio (PP) e os ex-distritais Raad Massouh (PPL) e Leonardo Prudente (MDB), são exemplos de políticos que emplacaram ou tentarão emplacar parentes nos holofotes do poder.

Mesmo sem mandato desde 2006, Roriz mantém seu poder de transferência de votos. Embora tenha exibido desempenho bem tímido em 2014, Liliane Roriz (PTB) se reelegeu. Na primeira eleição, garantiu a quinta colocação entre os 24 distritais eleitos. No pleito seguinte, caiu para a 11ª colocação.

Mas, se as eleições fossem hoje, nem Liliane nem Jaqueline (PMN) poderiam concorrer. Ambas estão impedidas pela Justiça Eleitoral porque foram condenadas em Corte colegiada. A mais nova, por compra de votos. A do meio, pelo envolvimento na Caixa de Pandora.

Mesmo com todos os percalços no clã, o nome Joaquim Roriz muito provavelmente estará carimbado nas urnas das próximas eleições. Dessa vez, quem representará a linhagem direta do ex-governador é Joaquim Domingos Roriz Neto (PMN), filho de Jaqueline. Aos 26 anos, há um consenso no meio político de que ele tem grandes chances de se eleger deputado federal, inclusive, com votação expressiva.

Em 2014, o rapaz fez sua primeira tentativa, mas, com poucos dias de campanha, não se elegeu. Ainda assim, conseguiu expressivos 29.481 votos, tornando-se primeiro suplente de Laerte Bessa (PR) na Câmara dos Deputados.

“Ele teve praticamente 10 dias de campanha e virou o primeiro suplente. Não entrou por pouco mais de 2 mil votos. Se fosse por mim ou por minha mãe [Weslian Roriz], não seria esse o caminho a seguir. Mas se é a decisão dele, a gente vai apoiar”, disse a ex-deputada federal Jaqueline Roriz, que foi declarada inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em vídeo divulgado no ano de 2011, ela aparece recebendo dinheiro das mãos do delator da Caixa de Pandora, Durval Barbosa.

Facebook/Reprodução
Joaquim Roriz Neto e Jaqueline: ex-deputada quer ver o primogênito na Câmara federal

 

“Profecia na cassação”
Cassado em 2013 sob a acusação de ter desviado emenda parlamentar destinada a um show em Sobradinho, Raad Massouh comemorou, no último dia 15, a absolvição na Justiça. Antes de saber da vitória nos autos, ele havia anunciado o desejo de ver o filho na política.

Com base eleitoral na região de Sobradinho, o ex-distrital investe no filho mais velho, Raad Júnior. O rapaz estava no fim do curso de administração de empresas e pediu transferência para gestão pública.

“Quando tomei posse como distrital, meu filho estava lá, ainda com 14 anos. Assim que deixei a tribuna, ele disse para quem estava perto: ‘Em 2018, sou eu quem estará aqui’. Foi uma profecia”, diz o ex-deputado.

Do alto de seus 22 anos, Raad Júnior assegura que, caso seja eleito, pode até ter o pai como mentor, mas seguirá “o caminho por conta própria”.

Meu pai é ‘o cara’, e vou sempre seguir o exemplo dele, mas minha participação na política será independente

Raad Júnior, pré-candidato à CLDF
Facebook/Reprodução
Raad Massouh está empenhado na pré-campanha do filho: “Só não iremos com PT nem com o atual governo”

 

Paulo Octávio leva os filhos para o PP
Uma movimentação na última terça-feira (19/3) despertou o interesse de quem acompanha a política local. Os dois filhos do ex-vice-governador Paulo Octávio (PP) – Felipe Kubitschek Pereira, 26 anos, e André Kubitschek Pereira, 25 – filiaram-se ao mesmo partido do pai.

Paulo Octávio tem dado sinais de que pode tentar até mesmo uma majoritária, candidatando-se ao Senado. Terá, entretanto, dois obstáculos. O primeiro, conseguir o registro na Justiça Eleitoral. Há uma dúvida se ele estaria apto a concorrer.

Em fevereiro de 2010, o empresário renunciou à chefia do Executivo após passar 12 dias na condição de governador. Era o auge da Caixa de Pandora. Acusado de envolvimento no esquema da compra de parlamentares, Arruda foi preso. Também alvo das denúncias e pressionado pelo seu então partido, o DEM, Paulo Octávio desistiu de permanecer no cargo.

Renunciou para evitar um processo de cassação, justamente um dos critérios que o deixaria impedido de concorrer por oito anos contados a partir do final do mandato o qual não terminou. Ou seja, a partir de janeiro de 2011.

A questão para a qual não há consenso é se Paulo Octávio realmente assumiu como governador ou se sua permanência de poucos dias foi na verdade uma interinidade. E, nesse caso, se a Lei da Ficha Limpa se aplicaria a ele. Há ainda que se considerar se a norma exige condições de elegibilidade no ato do registro de candidatura ou se na posse.

No primeiro cenário, os oito anos estariam incompletos. No segundo, estaria liberado. Essas definições certamente serão debatidas e decididas no âmbito da Justiça Eleitoral.

Ao mesmo tempo em que Paulo Octávio buscará permissão nos tribunais eleitorais, responde a nove ações penais remanescentes da Pandora. Além disso, em 2014, passou seis dias preso por envolvimento no escândalo da compra de alvarás. Ele foi acusado de integrar um grupo que pagava propina para servidores públicos, com a finalidade de liberar documentos destinados à construção de empreendimentos irregulares. Por isso, ter um de seus herdeiros ingressando na política é tão importante para o empresário.

Embora ele afirme que nenhum dos dois filhos será candidato em outubro e a filiação é apenas um exercício de estímulo à cidadania, não há um só pré-candidato que duvide das intenções do empresário em fazer um de seus herdeiros deputado.

César Rebouças/Divulgação
Paulo Octávio entre os filhos, André (E) e Felipe (D): o mais novo é o que mais se interessa por política

 

Da Panatenaico ao MDB Mulher
Outro ex-vice-governador investigado quer garantir o sobrenome de volta ao parlamento. Indiciado na Panatenaico – que apura desvio de recursos na obra do Estádio Mané Garrinhca –, Tadeu Filippelli (MDB) pode passar seu espólio eleitoral para a nora Éricka Filippelli.

Presidente do MDB Mulher no DF, ela foi nomeada, em setembro de 2017, diretora do Departamento de Articulação e Fortalecimento Institucional de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Pode vir na próxima eleição como candidata à Câmara dos Deputados. Éricka trabalhou diretamente com o deputado federal Rôney Nemer (PP), apadrinhado de Filippelli.

Material cedido ao Metrópoles
Filippelli e a nora Éricka, que hoje responde pelo MDB Mulher no DF

 

Esposa na linha de frente
Igualmente indiciado na Panatenaico, além de condenado na Pandora, o ex-governador José Roberto Arruda (PR) quer votar na própria família em outubro. Neste caso, a esposa: Flávia Peres (PR). Ela é um nome curinga dentro do partido. Embora seja cotada para pleitear como deputada federal, não é descartada para uma possível disputa como vice-governadora, a exemplo do que ocorreu em 2014, quando concorreu na chapa encabeçada por Frejat.

Apesar de todos os problemas judiciais, Paulo Octávio, Filippelli e, especialmente, Arruda mantêm espólio eleitoral robusto. Se não estivessem encrencados e pudessem se candidatar, dificilmente sairiam derrotados das urnas. Mas todos eles acreditam que é melhor ter alguém de confiança com mandato do que apostar na própria candidatura e acabar impedido de assumir pelo Judiciário.

Felipe Menezes/Metrópoles
Arruda e Flávia Peres: mulher do ex-governador é curinga do PR

 

Quem chegou lá quer a reeleição
Aqueles que pretendem fincar a bandeira familiar nas tribunas do Legislativo espelham-se em um exemplo: o do ex-distrital Leonardo Prudente. Mesmo após estar entre os protagonistas do maior escândalo de corrupção já visto no DF, ele conseguiu alçar o filho Rafael Prudente (MDB) na Câmara Legislativa.

Em 2010, Leonardo renunciou ao cargo de presidente da CLDF – e, posteriormente, ao próprio mandato – depois de aparecer em vídeos do delator da Pandora, Durval Barbosa. Em uma das gravações, ele foi flagrado guardando dinheiro dentro das meias.

Quatro anos mais tarde, Rafael Prudente obteve 17.581 votos e conquistou assento na Câmara Legislativa. Em outubro, o distrital tentará a reeleição. Tudo sob a bênção do pai.

Acompanhei a vida pública do meu pai desde 1998, e conheci os bastidores da política. Chegou um ponto em que ele não tinha mais vontade de participar da vida pública, mas eu senti o momento em que as pessoas começaram a me procurar para pedir orientação. Nunca pensei em ser deputado, tudo aconteceu de forma muito natural

Rafael Prudente, deputado distrital

Após três anos e três meses na Câmara Legislativa, Rafael Prudente afirma que caminha com passos próprios. “Ao longo deste mandato, conseguimos criar uma identidade própria”, disse.

Arquivo pessoal
Ex-presidente da CLDF e afastado da vida pública, Leonardo Prudente apoiou o ingresso do filho na política

 

Tradição brasileira
O cientista político Aurélio Maduro acredita que a perpetuação de famílias no poder tem relação com a cultura do país desde épocas coloniais. “Seis em cada 10 parlamentares do Congresso Nacional possuem algum elo familiar com políticos. Esse padrão se replica também no DF, porque o atual modelo permite que isso ocorra”, explica.

Para o especialista, a concentração de poder nas mãos de pequenos grupos prejudica a representatividade da população como um todo. “Não podemos julgar todos os nomes com parentescos políticos como ruins, mas o que pesa mais é a representação familiar, não as propostas de fato. Esses candidatos já chegam com vantagem”, argumenta.

Para evitar a monopolização do poder em grupos familiares, a orientação do especialista aos eleitores é se atentar às reais intenções do candidato. “Basicamente, na hora de votar, precisa-se pensar coletivamente, não com interesses particulares. Temos de refletir como cidadãos. O primeiro passo é conhecer as propostas e, obviamente, cobrar as promessas se ele for eleito. Os políticos brasileiros precisam criar a cultura de prestar contas à população”, finaliza.

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