Rodrigo Rollemberg era chamado de “Irmão Mais Velho” em grampo da PCDF
Além do governador, mais oito citados na investigação receberam codinomes nas conversas interceptadas pela Operação (12:26)
atualizado
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Nos moldes dos grandes esquemas de corrupção nos quais os principais suspeitos adotam codinomes para dificultar a identificação por parte da polícia, a diligência sobre tráfico de influência e advocacia administrativa envolvendo o alto escalão do Governo do Distrito Federal (GDF), realizada no âmbito da Operação (12:26), revela como muitos dos personagens eram chamados. Até o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) recebeu um apelido.
De acordo com as interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, às quais o Metrópoles teve acesso com exclusividade e publicadas em reportagens nesta sexta-feira (10/8), o chefe do Executivo era chamado nas ligações de “Irmão Mais Velho”, por ter nascido antes do advogado Carlos Augusto Rollemberg, um dos suspeitos alvejados pelos grampos. Por sua vez, o irmão do governador é chamado de “Guto”, apelido pelo qual é conhecido.
Já o secretário da Casa Civil, Sérgio Sampaio, é citado nas interceptações como “Chefe do Gui”, uma referência a seu subordinado Guilherme Rocha de Almeida Abreu, o “Gui”. O irmão de Guilherme – que não exerce cargo no GDF –, Leonardo Rocha, também aparece nas interceptações, sendo chamado de “Léo”.
Apontado no inquérito policial como um dos principais operadores do tráfico de influência no Executivo local, com atuação em diversas áreas de governo, Luiz Fernando Messina costumava ser chamado nas gravações apenas pelo seu sobrenome. O advogado é ex-assessor do deputado distrital Rodrigo Delmasso (PRB).
O dono do Hospital Home, Nabil Nazir El Haje, ganhou o codinome de “Velho” nas conversas flagradas pela Polícia Civil. Outro nome que caiu nos grampos, apesar de não ser alvo das investigações, foi o do ex-secretário de Saúde Fábio Gondim. Ele era conhecido como o “Cara da Área”.
Motricidade
Alvo de interceptações telefônicas da Polícia Civil a partir de autorização judicial, o advogado Guto – conforme descrito nos autos do Inquérito nº 386/2018 – é caracterizado como “ponto focal” de diversas ingerências junto à administração pública e com alto poder de “motricidade” perante o governo, embora não exerça nenhum cargo no GDF.
A partir de uma série de diligências, como escutas telefônicas, campanas que flagraram encontros, análise de documentos e depoimentos colhidos, a Polícia Civil concluiu que há envolvimento de 10 pessoas no esquema de tráfico de influência, advocacia administrativa, além de indícios de prática de corrupção.
Nove dos 10 alvos da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública (Cecor) são: Carlos Augusto Sobral Rollemberg, Luiz Fernando de Souza Messina, Leonardo Rocha de Almeida Abreu, Guilherme Rocha de Almeida Abreu, Marcello Nóbrega de Miranda Lopes, Flávio Dias Patrício, Hermano Carvalho, Augusto Diniz, Marcos Woortmann. Um dos investigados morreu em julho.
Segundo o delegado que coordena a Operação (12:26), Fernando César Costa, “saltam aos olhos os indícios de que o acordo ilícito está assentado de forma duradoura, haja vista que há atos concretos de crimes praticados pelos investigados há aproximadamente três anos, com ocorrências destacadas em 2015, 2017 e 2018”.
De acordo com o processo que soma 195 páginas, “cada um em seu campo de atuação, em clara divisão de tarefas, praticou diversos atos visando beneficiar particulares perante a administração pública”. A peça segue salientando que o esquema se estrutura “em grupo central relativamente rígido para administração das atividades criminosas”.
No âmbito do inquérito, os delegados da Cecor descrevem sete episódios que comprovariam, segundo sustentam, a existência da organização criminosa gerenciada a partir do coração do GDF, a poucos metros de onde despacha o governador. Em função das interceptações telefônicas de seu irmão Guto, Rollemberg também caiu no grampo.
A partir do detalhamento das investigações, constatou-se que o suposto esquema criminoso estava enfronhado nas mais diferentes áreas do governo, entre as quais as secretarias de Saúde, Território e Habitação, Justiça, Casa Civil, além da Companhia Energética de Brasília (CEB) e das administrações regionais do Lago Norte e de Águas Claras.
Há ainda várias repartições que tangenciam as apurações centrais da polícia, como as da Procuradoria-Geral do DF, Controladoria-Geral do DF e Consultoria Jurídica do governador.
Operação (12:26)
Na terça (7), a Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagraram a ofensiva contra denúncia de tráfico de influência e advocacia administrativa envolvendo integrantes do GDF. Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão, em Brasília e São Paulo, autorizados pela 4ª Vara Criminal de Brasília.
No mesmo dia, mesmo sem ainda ter conhecimento da íntegra das investigações, o Governo do Distrito Federal emitiu nota para esclarecer pontos específicos divulgados até então pela Polícia Civil e pelo Ministério Público.
No documento, o governo nega as acusações feitas pelos investigadores, de ter havido prática de advocacia administrativa e tráfico de influência.