Rivais apontam fragilidade no discurso anticorrupção de Rollemberg
Postulantes ao Buriti acreditam que operação do MPDFT e da Polícia Civil derrubam tese do gestor, de ter uma administração honesta
atualizado
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Os adversários do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) na corrida pela sucessão ao Palácio do Buriti acreditam que os desdobramentos da Operação (12:26) – sobre suposto favorecimento de integrantes da Casa Civil a grupos empresariais – fragilizam o discurso de honestidade pregado pelo candidato à reeleição.
Os buritizáveis se referiam à suspeita da 1ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), sobre “indícios de tráfico de influência e de advocacia administrativa” dentro do Palácio do Buriti.
O primeiro candidato majoritário a se manifestar foi Alberto Fraga (DEM). Coronel da reserva da Polícia Militar, o democrata não economizou ironias ao comentar os episódios em que assessores do atual governador foram envolvidos logo após ele batizar a própria chapa de Brasília de Mãos Limpas.
Mãos limpas com crianças morrendo em hospitais sem atendimento? Mãos limpas e com o gabinete vizinho sendo local de despacho de interesses empresariais? Esse governador e essa história de mãos limpas são uma piada pronta
Alberto Fraga (DEM), candidato ao GDF
Considerada uma das principais concorrentes de Rollemberg, Eliana Pedrosa (Pros) avaliou que a situação se torna ainda mais preocupante por ter ocorrido dentro de um dos órgãos estratégicos do Palácio do Buriti, a Casa Civil.
“É muito grave as denúncias estarem bem no coração do governo, principalmente quando se trata de um nome que foi crítico ferrenho de outras gestões. O mínimo esperado é que terminasse o mandato sem nenhuma mácula. Mas, pelo jeito, há muita água debaixo dessa ponte. Esperamos que tudo seja apurado e que Rollemberg esteja realmente com as mãos limpas”, disse Eliana.
“Culpa do comandante”
O general Paulo Chagas (PRP) avaliou serem graves as suspeitas da promotoria. “Nós, das Forças Armadas, aprendemos que tudo o que acontece ou deixa de acontecer dentro de uma unidade é culpa do comandante. O governador deveria se cercar de pessoas confiáveis. Lamento que se demonstre, mais uma vez, o quanto de corrupção há na gestão pública.”
Para Alexandre Guerra (Novo), o aprofundamento das investigações se faz mais necessário do que nunca. “Ninguém pode ser considerado culpado sem julgamento e, assim como outros casos de suspeita de tráfico de influência, esse também deve ser investigado. A população do DF deu diversas demonstrações de não tolerar corrupção”, declarou.
Escolhida pelo PSol para encabeçar a chapa integrada também pelo PCB, Fátima Sousa avaliou que a operação apresenta falha nos mecanismos de controle interno do GDF. “Além de deficiências graves de gestão, com muitos projetos atrasados, esse governo demonstra problemas na fiscalização. E se mantém a prática nefasta de indicações políticas que se sustentam no cargo apesar de sofrerem denúncias sérias”, disse.
Para o advogado Ibaneis Rocha, que encabeça a chapa do MDB, os desdobramentos da operação podem prejudicar a estratégia da campanha de reeleição de Rollemberg, de tentar vender a imagem de honesto. “Ele vai perder esse ar de que o governo é transparente e ileso à corrupção. Esse papo de que ele não sabia de nada não é aceito pela população. Se não sabia, deveria saber desde sempre, mesmo porque esse é o papel de um governador”, alfinetou o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil na capital federal (OAB-DF).
O petista Júlio Miragaya, também na disputa pelo Palácio do Buriti, afirmou que o desdobramento da operação policial pode servir de aprendizado ao adversário. “O que aconteceu é uma boa resposta ao próprio Rollemberg sobre o discurso de honestidade. Todos sabemos que a corrupção está entranhada na sociedade. Os que lançam mão desse argumento acabam correndo o risco de cair em situações ridículas, de apontar o dedo para os outros e acabar tendo o teto de vidro”, ressaltou.
O outro lado
O Metrópoles procurou Rodrigo Rollemberg nesta quarta (8) para posicionamento oficial, mas, até a última atualização desta reportagem, ele não havia respondido aos questionamentos. No entanto, na terça (7) a assessoria de imprensa do GDF sustentou que não há qualquer ilegalidade nos fatos investigados.
A instituição confirmou, ainda, o pedido de exoneração de um dos investigados, Marcello Nóbrega. O ato será publicado nos próximos dias no Diário Oficial do DF, com efeito retroativo à data da operação.
Tráfico de influência
A operação do Ministério Público e da Polícia Civil foi deflagrada na terça-feira (7) e buscava apreender provas da atuação de uma suposta quadrilha dentro de gabinetes palacianos vizinhos ao de Rollemberg.
Autoridades colheram material em escritórios de grupos empresariais em endereços de pessoas consideradas influentes e em locais de trabalho de assessores de confiança de Rollemberg.
A Operação (12:26) investiga denúncia de tráfico de influência e advocacia administrativa envolvendo integrantes do GDF. Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão, em Brasília e em São Paulo, autorizados pela 4ª Vara Criminal de Brasília.
Quem está na mira da Polícia
Entre os alvos da Operação (12:26), estão o ex-assessor especial da Casa Civil Marcello Nóbrega e o empresário Leonardo Rocha de Almeida Abreu, que é irmão do chefe de Gabinete da Casa Civil, Guilherme Rocha de Almeida Abreu. São investigados ainda o administrador do Lago Norte, Marcos Woortmann, e dois ex-assessores do distrital Rodrigo Delmasso (PRB): Luiz Fernando Messina e Hermano Gonçalves de Souza Carvalho. Hermano foi ex-secretário de Desenvolvimento Econômico da gestão de Agnelo Queiroz (PT).
Também tornou-se alvo da operação o consultor Marcelo Carvalho. Ele é ex-executivo do grupo Paulo Octávio (foto abaixo), um dos donos do Iguatemi. A Polícia investiga a tentativa de representantes do shopping em alterar o potencial construtivo do empreendimento, o que aumentaria substancialmente os lucros para seus donos.
Há quatro anos, em pleno período pré-eleitoral, assim como hoje, Paulo Octávio acabou no olho do furacão de um escândalo envolvendo um de seus empreendimentos: o JK Shopping, em Taguatinga. Em 2014, foi preso por cinco dias no âmbito da Operação Átrio, que também apurava tráfico de influência dentro da administração pública. Nesse caso, para a liberação de alvarás e cartas de Habite-se. Paulo Octávio virou réu em seis ações penais referentes ao episódio.