Troca de SMS revela que empresa fantasma bancou campanha de ex-chefe do DFTrans
Transcrições de conversas e mensagens trocadas por Marco Antônio Campanella, que estão com a Polícia Civil, revelam as transações irregulares
atualizado
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Transcrições às quais o Metrópoles teve acesso apontam fortes indícios de que o ex-diretor do DFTrans, Marco Antônio Campanella, recebeu R$ 200 mil de uma empresa fantasma para bancar sua campanha a deputado federal em 2014. Campanella era o número dois da pasta de Transportes no governo petista.
Gravações e quebras telemáticas (troca de mensagens) em poder da Polícia Civil revelam a intimidade do ex-presidente do Partido Pátria Livre (PPL) com Edgar Eneas da Silva, ex-subsecretário de qualificação e capacitação profissional da Secretaria de Trabalho. Silva é suspeito de liderar um esquema criminoso que fraudava empréstimos bancários para bancar campanhas eleitorais. A ação teria provocado um rombo de R$ 100 milhões nos cofres de instituições financeiras e está sendo apurada pela Operação Trick.
Até agora, a figura mais desgastada pelo escândalo da Trick foi a distrital Telma Rufino, que acabou expulsa do PPL e corre o risco de perder o mandato. Em entrevista ao Metrópoles, ela negou ter participado do esquema e que parte do dinheiro utilizado em sua campanha foi repassado pelo empresário e ex-deputado Abadia Tatico.
A transcrição das escutas (veja fac-símiles) pega Campanella em cheio. Mais um problema para ele, que nesta quinta-feira (10/9) é esperado para depor na CPI dos Transportes da Câmara Legislativa.
Empresas fantasmas
Em uma troca de mensagens via SMS, Campanella conversou – em 8 de agosto do ano passado – com Edgard Eneas da Silva. Segundo os investigadores, Edgard atuava abrindo empresas em nome de laranjas para conseguir empréstimos junto ao Banco do Brasil.
De acordo com as investigações, Campanella teria ficado insatisfeito com a quantia de R$ 200 mil repassada a ele. “Não entendi! Seu sócio disse que empréstimo será de apenas 200 é isso mesmo? Espero não ter perdido esse tempo. Como resolver isso?”, cobrou Campanella na mensagem.
Em outra conversa, Campanella pressiona mais uma vez Edgard para que ele consiga o dinheiro com um gerente do Banco do Brasil. A quantia (de R$ 200 mil) teria sido depositada em uma conta de empresa fantasma. “Meu caro, favor me passar urgente os dados da agência, de sua conta e o nome do gerente que você está tentando resolver aquele assunto”, reforçou, por meio do SMS.
A ligação entre o ex-diretor do DFTrans e os integrantes da organização criminosa é tão estreita que em uma das interceptações telefônicas, Campanella pede dinheiro mais uma vez para Edgard, agora para bancar feijoadas e almoços de campanha. “Tudo encaminhado. Me diga uma coisa, eu tô te ligando pra você me socorrer. Estou com alguns eventos pequenos neste final de semana e eu estou sem… nós estávamos aí com uma expectativa”, relata a transcrição do grampo.
Mais adiante, Campanella diz de quanto precisa. “É, cinco mil, sete mil, dava para quebrar. Pequenos eventos sabe, alimentação, gasolina, coisa pequena. Fazer uma feijoada”, avisou o presidente regional afastado do PPL. Em resposta, Edgard Eneas diz que vai tentar resolver o problema. “Amanhã às 10h vou estar aí, te ligo na hora!”, finalizou o suposto líder da quadrilha.
O relatório final da Operação Trick está no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Caberá aos promotores decidir se vão denunciar Campanella e os outros 33 indiciados no inquérito policial.
Arte: Cicero Lopes