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Políticos encaram desgaste da doação de empresas na mira da Lava Jato

Dos 34 eleitos pelo Distrito Federal em 2014, 11 receberam dinheiro da Via Engenharia, Andrade Gutierrez ou Odebrecht

atualizado

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1 de 1 cldf câmara legislativa - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

No momento em que empreiteiras assinam acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato e decidem expor o esquema de caixa 2 por meio de campanhas eleitorais no Brasil, políticos que receberam doações dessas empresas temem um desgaste na imagem. Mesmo que os repasses tenham sido feitos de forma legal, e, inclusive, avaliados e aprovados pela Justiça Eleitoral, entre eles, há um clima de tensão, ainda que velado.

No DF, dos 34 candidatos escolhidos pelos brasilienses na última eleição – governador, 24 distritais, oito federais e um senador –, 11 receberam doações de ao menos uma das três empresas que tocaram as duas maiores obras idealizadas pelo Governo do DF, e que hoje estão no olho do furacão da Lava Jato. São elas: o Centro Administrativo (Centrad), erguido pelo consórcio formado pela Odebrecht e Via Engenharia, e o Estádio Nacional Mané Garrincha, de responsabilidade da Andrade Gutierrez e também da Via.

Executivos da Odebrecht assinaram termo de delação premiada e o que eles falaram resultou na temida Lista de Janot, entregue pelo procurador-geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última semana. No DF, são pelo menos seis políticos que estariam sob ameaça de investigação – os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT); o ex-senador Gim Argello (sem partido); o distrital Robério Negreiros (PSDB); o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) e o ex-deputado federal Geraldo Magela (PT).

A preocupação, no entanto, não se restringe a eles. O receio de uma vinculação com as empreiteiras atinge uma fatia ainda maior da política local. Afinal, as construtoras investiram alto na eleição de 2014.

O então candidato Rodrigo Rollemberg (PSB), que foi eleito governador, recebeu R$ 1,7 milhão das três empreiteiras. Desses, R$ 200 mil são da Odebrecht; R$ 500 mil enviados para ele por meio da direção do partido, mas tendo a Andrade Gutierrez como doadora originária, e R$ 1 milhão da Via Engenharia, cujo montante foi pago por meio de transferência eletrônica. A Via, porém, só decidiu investir no socialista em 22 de outubro, quatro dias antes do segundo turno.

A equipe do governador declarou que “todo o dinheiro recebido pela campanha dele foi registrado na Justiça Eleitoral”. “Já os repasses aos candidatos que concorreram à Câmara Legislativa e participaram da coligação que elegeu Rodrigo Rollemberg respeitaram os parâmetros legais”, informaram os assessores do socialista.

Legislativo
Na Câmara Legislativa, um terço dos deputados recebeu doação de campanha das três empreiteiras. As empresas financiaram parte dos investimentos feitos por Celina Leão (PPS), Julio Cesar (PRB), Joe Valle (PDT), Lira (PHS), Reginaldo Veras (PDT), Raimundo Ribeiro (PPS), Robério Negreiros (PSDB) e Rodrigo Delmasso (Podemos) nas eleições de 2014. Os gastos foram declarados na prestação de contas dos candidatos. Todos os valores constam na Justiça Eleitoral como doações legais.

Em relação aos distritais, os maiores repasses foram feitos a Júlio Cesar. O parlamentar recebeu R$ 61.277,44 da Odebrecht. Desse total, R$ 32.328,30 vieram do Comitê Financeiro Único do partido, mas o doador originário é a empreiteira. O restante (R$ 28.949,14), o político conseguiu por meio do ex-deputado federal do PRB Vítor Paulo Araújo dos Santos, que também recebeu o valor da Odebrecht. Julio Cesar investiu R$ 220.379,75 para conquistar uma vaga na Câmara Legislativa.

Em segundo lugar no ranking das doações de empreiteiras, está Robério Negreiros. Atualmente no PSDB, o distrital se elegeu pelo PMDB e recebeu R$ 50 mil da empresa Braskem, controlada pela Odebrecht e cujos ex-executivos também firmaram delações premiadas com o MPF.

Rodrigo Delmasso investiu R$ 244.503,93 na campanha de 2014. Desse valor, R$ 23.991 também foram repassados pelo ex-deputado Vitor Paulo. A doação, porém, é da Odebrecht. Raimundo Ribeiro, que se candidatou pelo PSDB, recebeu da direção do ex-partido o valor de R$ 12.510, transferidos pela mesma empreiteira. A campanha de Ribeiro custou R$ 549.941,29.

A direção do PHS no DF remeteu R$ 5.500 ao então candidato Lira, repassados pela Andrade Gutierrez. O valor veio no dia do primeiro turno da eleição, em 5 de outubro de 2014. O distrital investiu R$ 91.823,80 na campanha.

Celina Leão, Joe Valle e Reginaldo Veras, que concorreram na coligação de Rodrigo Rollemberg, conseguiram doações das empreiteiras por meio do então candidato a governador. Joe, atual presidente da Câmara, recebeu R$ 2.440 de recursos da Andrade Gutierrez e R$ 442 da Odebrecht. Ele gastou R$ 207.768,47 na campanha.

Já para a ex-presidente da Casa Celina Leão, Rollemberg repassou R$ 2.440 da Andrade Gutierrez. A distrital investiu R$ 324.921 para se reeleger. O distrital que recebeu a menor fatia de investimento das empreiteiras foi Reginaldo Veras: R$ 610 da Andrade Gutierrez e R$ 442 da Odebrecht, sendo os dois repasses enviados também por Rollemberg. A campanha de Veras foi a mais barata entre os candidatos à Câmara Legislativa: R$ 42.671,90.

No âmbito federal, dois dos oito deputados eleitos pelo DF foram beneficiados com repasses das empreiteiras durante as eleições, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Izalci Lucas (PSDB) recebeu da direção nacional da legenda R$ 150 mil doados pela Odebrecht. Já Augusto Carvalho (SD), obteve da própria empreiteira o valor de R$ 30 mil, em transferência eletrônica.

Para o Senado, o único candidato eleito em 2014 foi José Antônio Reguffe (sem partido), que não recebeu doações de empreiteiras.

O outro lado
Julio Cesar declarou que as doações oficiais para sua campanha foram devidamente contabilizadas e as contas aprovadas pela Justiça Eleitoral. A assessoria de Lira informou que ele não foi responsável por captar o dinheiro e os recursos da Andrade Gutierrez chegaram por meio do partido em material gráfico.

O presidente da Câmara disse que não recebeu qualquer recurso de pessoa jurídica e que os repasses feitos por Rollemberg foram por meio de panfletos onde estavam as fotos dos dois. “Foi uma doação do partido PSB, que fazia parte da coligação com o PDT, para o deputado Joe Valle e não da construtora”, disse a assessoria de Joe.

Celina Leão e Reginaldo Veras também deram a mesma justificativa, de que o repasse de Rollemberg foi por meio de material de divulgação de campanha e não houve negociação entre eles e representantes das empreiteiras. “Quando chegou a prestação de contas, levei susto ao ver os nomes das empresas como doadoras e fui ao TRE entender. Com isso, assumi o compromisso de não aceitar mais material de campanha de outra pessoa nas próximas eleições”, afirmou Veras.

Rodrigo Delmasso esclareceu que não recebeu valores diretamente da Odebrecht. Segundo ele, os recursos foram utilizados em material gráfico: “Eu não sabia quem era o doador originário. Não tenho relação com pedidos à Odebrecht.” Raimundo Ribeiro esclareceu que as doações feitas pelo PSDB foram usadas “para financiar a campanha de seus candidatos à época em que o deputado estava no partido.”

Negreiros negou haver ilegalidade no valor doado pela Odebrecht. Até a última atualização desta reportagem, Izalci e Augusto Carvalho não tinham se manifestado.

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