Políticos embarcam na pré-candidatura ao GDF. Eles vão até o fim?
Segundo especialistas e chefes de partidos, lançar-se como postulante ao cargo no Executivo local pode ser um teste para avaliar reações
atualizado
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De olho no cobiçado cargo de governador do Distrito Federal, ao menos 13 pessoas se lançaram como aspirantes a ocupá-lo. A quantidade de pré-candidatos abre um leque de opções aos eleitores, mas especialistas alertam: os personagens da política podem estar apenas testando a aceitabilidade e, no fim das contas, muitos acabam na disputa por outras posições.
Semana passada, por exemplo, o presidente da Câmara Legislativa (CLDF), Joe Valle (PDT), e o ex-distrital Alírio Neto (PTB) foram oficialmente apresentados pelos respectivos partidos como os escolhidos para concorrer ao GDF. Além deles, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) não tem interesse em perder o poder e tentará a reeleição.
Novo, PSol, PRP, PPS, PCdoB e o PT também têm colocado em jogo alguns nomes (confira na galeria de fotos abaixo). Ainda se anunciam para a corrida eleitoral o segundo mais bem colocado no pleito de 2014 para o mesmo cargo, Jofran Frejat (PR), e os deputados federais Izalci Lucas (PSDB) e Alberto Fraga (DEM). O
Nem mesmo os pré-candidatos ouvidos pela reportagem acreditam que todos os nomes que hoje falam em GDF estarão com os rostos na urnas em outubro. Ao menos na disputa pelo Buriti.
Ao Metrópoles, Rollemberg declarou que outubro está “bem distante” e, em ano eleitoral, “sete meses é uma eternidade”. Para o socialista, nada é definitivo. “Como ensina o dito popular: ‘Muita água vai rolar debaixo da ponte'”, conclui.
Jofran Frejat enxerga o grande número de pré-candidatos como um risco para a oposição do governador. “Casa dividida não fica em pé. Então, a expectativa, ou pelo menos a lógica, é de que esse pessoal comece a procurar se acomodar com aquele que está em maior condição de vencer”, aposta.
Além de pré-candidato, Alírio Neto comanda o PTB-DF. Segundo ele, os políticos crescem os olhos e enxergam uma oportunidade na reprovação de Rollemberg, que chegou a 73,4%, conforme pesquisa Metrópoles/Dados. “Os partidos que não conseguirem agregar outras siglas que ofereçam tempo [de televisão] e candidatos bons, com certeza, na minha opinião, vão buscar agregar-se em outros projetos”, pondera.
Espelho no passado
Há quatro anos, duas candidaturas ao governo distrital findaram-se frustradas. O caso mais emblemático é o de José Roberto Arruda (PR), que saiu de cena e deu lugar para Frejat. O ex-secretário formou chapa ao lado da esposa de Arruda, Flávia Peres (PR), após o ex-governador ter o registro barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com base na Lei da Ficha Limpa.
Situação semelhante foi a de Eliana Pedrosa, então filiada ao PPS. Em 2014, dois dias depois de lançar a candidatura ao GDF, ela desistiu da empreitada para integrar, na condição de vice, a chapa de Arruda. Com o ex-governador incapaz de continuar, ela desistiu e tentou, sem sucesso, vaga na Câmara dos Deputados.
Embora já ensaiem as candidaturas, os partidos têm até as 19h de 15 de agosto para apresentarem, no Tribunal Regional Eleitoral do DF (TRE-DF), o requerimento de registro dos pretendentes aos cargos de governador e vice-governador. O prazo também vale para os aspirantes a deputados federais, distritais, senadores e suplentes.
Balões de ensaio
Professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Caldas explica que esse momento pode ser usado como “balões de ensaios”, nos quais os políticos anunciam a pretensão de disputar cargo majoritário mas, na verdade, estão apenas testando como a população reagirá.
Se as respostas não atenderem às expectativas dos pré-candidatos, a probabilidade é de que voltem atrás e sigam em outra direção. “É o caso do presidente Michel Temer, que chegou a cogitar disputar a Presidência da República, sentiu as reações negativas e depois se retirou. Hoje, não está mais falando disso”, comenta.
Balão de ensaio é quando o partido ou o próprio indivíduo quer testar a densidade do seu nome para ver a reação de jornalistas, políticos e formadores de opinião para saber se há adesão
Ricardo Caldas, professor da UnB
O especialista destaca, ainda, que as siglas com pré-candidatos declarados ao GDF podem se unir, modificando o cenário da disputa. “No caso do Alírio e do Frejat, por exemplo, eu acredito que possa haver uma união. Um ponto em comum, além de oposição ao Rollemberg, é que eles têm mais chances juntos do que separados”, avalia.
Embora indique não ser possível fazer um prognóstico por conta da distância temporal das eleições, Cristiane Leyendecker, cientista política e docente do Centro Universitário Iesb, diz que há chance de os pré-candidatos ao GDF acabarem, na verdade, como postulantes a outros cargos eletivos.
“Assim se faz o termômetro: lançar a pré-candidatura, verificar a reação e, dependendo dela, eu, candidato, embarco nesse objetivo ou então o mudo para o Senado, para a Câmara dos Deputados ou a Legislativa”, diz Cristiane.
Nos partidos…
Dirigente do diretório regional do PSB, partido do atual governador, Tiago Coelho concorda com os especialistas. Para ele, duas coisas podem influenciar na conjuntura atual: a janela partidária, que, até 7 de abril, possibilita a mudança de legenda a políticos com mandatos; e as alianças das agremiações em nível nacional.
“A minha intuição leva a crer que não necessariamente todos vão sair realmente como candidatos a governador, por conta desses fatores”, diz Coelho.
À frente do diretório regional do PSol, Fábio Felix frisa que muitos interessados nas eleições enxergam uma possibilidade de ganhar visibilidade ao se anunciarem como pré-candidatos do GDF.
Eles querem tentar se cacifar para ter mais poder e destaque na eleição, mesmo que seja para outro cargo. Se eles se lançam como pré-candidato à Câmara dos Deputados, acabam não tendo a mesma aparição
Fábio Felix, presidente do PSol-DF
Por outro lado, Izalci Lucas, presidente do PSDB-DF, acredita não ter espaço, nas eleições de 2018, para quem impuser o nome na disputa. Segundo ele, é natural a apresentação de pessoas para a corrida rumo ao Buriti que, na verdade, não querem concorrer ao cargo. “É normal as pessoas dizerem que vão para o governo a fim de reivindicar depois o Senado ou uma cadeira para deputado federal”, opina.