Planalto quer saber quem convidou manifestantes para desfile
A maior parte dos protestos na arquibancada montada em frente ao palanque presidencial partiu de estudantes de São Paulo, que tinham convite para assistir ao evento. Presidência fará uma averiguação interna
atualizado
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Apesar do discurso de ministros próximos ao presidente Michel Temer, minimizando as vaias e os protestos que ele ouviu nesta quarta-feira (7/9) no desfile pelo Dia da Independência, gritos de “fora Temer” e “golpista” vindos da tenda instalada para abrigar os convidados do governo pegaram de surpresa a equipe do Palácio do Planalto. Assessores mais próximos ao presidente tentaram entender como cerca de 80 alunos da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram tantos convites para a arquibancada verde, erguida na Esplanada dos Ministérios em local privilegiado, em frente ao palaque das autoridades.
Eles vieram a Brasília em um grupo organizado pelo professor Marcelo Nerling, que dá aulas na USP e trouxeram consigo adesivos com as inscrições “Fora Temer” e, tão logo o presidente foi anunciado, puxaram o coro contra a atual administração. De acordo com o docente, a participação no desfile é parte de uma programação anual de uma disciplina chamada Cidade Constitucional, que se repete há 10 anos.
“Todos os anos temos uma programação semanal que inclui o desfile cívico militar. Não há articulação ou preparação para gerar constrangimento”, afirmou. Nerling destacou que não liderou protestos e que eles teriam sido espontâneos. “Talvez um reflexo da ferida aberta do atual momento em que uma ponta de agulha pode fazer vazar o pus”, disse.
Um dos universitários, entretanto, dá uma versão diferente. “viemos para protestar contra a mudança no governo eleito. Não sou petista, sou a favor de novas eleições”, disse Lucas Bertho, que estuda políticas públicas em São Paulo.
A assessoria de imprensa do Planalto informou que a área onde o protesto foi feito estava destinada apenas a convidados de funcionários e tinha limitação de 300 pessoas. Nerling, por outro lado, contou que recebeu os convites do próprio gabinete presidencial, o que, segundo ele, ocorre há dez anos. “Eu mesmo fui buscar. Não ganhei convite de nenhum funcionário”, disse.
Primeira agenda
A surpresa do governo se deu porque, de antemão, houve um planejamento buscando evitar protestos nas proximidades do palanque presidencial. Essa foi a primeira aparição pública de Temer no país após assumir a presidência como presidente de fato, após o afastamento definitivo de Dilma Rousseff (PT).
Segundo informaram pessoas próximas ao presidente, será feita uma averiguação interna buscando entender o que ocorreu. Mesmo dizendo que essa busca seria feita, essas pessoas evitaram termos mais bruscos, como perseguição, ou fizeram ameaças. “Vamos dar uma olhada nos arquivos, temos que entender o que aconteceu”, disse uma fonte.
Tanto os ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, e da Secretaria-Geral da Presidência, Geddel Vieira Lima, foram discretos ao avaliar o tema. “Vocês já viram falar em uma democracia em que não haja liberdade de manifestação?”, questionou Padilha.