metropoles.com

Odebrecht cedeu obra do Mané Garrincha em troca da Arena Pernambuco

Em deleção, ex-executivos contam como ajudaram construtora concorrente e depois cobraram apoio para erguer o estádio do Nordeste

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Daniel Ferreira/Metrópoles
Odebrecht estadio
1 de 1 Odebrecht estadio - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Um acordo firmado entre as construtoras Noberto Odebrecht e Andrade Gutierrez definiu quem tocaria a obra do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha para a Copa do Mundo de 2014. A informação foi confirmada nas delações feitas pelos ex-executivos da Odebrecht e divulgadas nesta quarta-feira (12/4) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) entre os casos remetidos às esferas inferiores da Justiça.

Durante depoimento, o ex-executivo da Odebrecht Ricardo Roth Ferraz de Oliveira contou que o acordo começou na fase de licitação do estádio candango em 2009, na gestão de José Roberto Arruda (PR), à frente do Governo do Distrito Federal.

A Odebrecht só tinha intenção de participar de obras que passassem pela construção até a operação das arenas. No caso do Mané Garrincha, não era assim e, como não tínhamos interesse e tivemos notícia de que a Andrade Gutierrez tinha, o diretor deles procurou o João Pacífico, meu superior, solicitando que nós ofertássemos uma proposta de cobertura para esse estádio. O João me orientou nesse sentido e assim foi feito

Ricardo Roth Ferraz de Oliveira, sobre o suposto conluio entre Odebrecht e Andrade Gutierrez para construção de arenas da Copa

A proposta de cobertura, mencionada por Ferraz, consiste na apresentação de um projeto fictício, com preços acima dos cobrados pelo mercado e dos oferecidos pelas outras concorrentes participantes do conluio. Dessa forma, mesmo a proposta mais barata, ainda é superfaturada. Nesse caso, a Odebrecht se candidatou com um valor maior do que o proposto pela Andrade Gutierrez, que venceu a licitação. Segundo Ferraz, o preço apresentado por seu grupo teria sido determinado por Rodrigo Lopes, ex-executivo da Andrade. “Eles que informaram qual era o preço que deveríamos oferecer na licitação”, afirmou João Antônio Pacífico Ferreira, também ex-diretor da Odebrecht e superior de Ferraz, em sua deleção.

Veja vídeo com o depoimento de Ricardo Ferraz: 

 

No Diário Oficial do Distrito Federal de 8 de julho de 2010, a Andrade Gutierrez aparece como vencedora da licitação para a obra do Estádio Mané Garrincha ao oferecer R$ 696.648.486,09 para a execução dos trabalhos, enquanto a Noberto Odebrecht ofereceu R$ 701.132.842,56. A construtora OAS foi a segunda colocada no certame, com preço de R$ 699.273298,16.

Toma lá, dá cá
Meses depois, foi a vez da Odebrecht cobrar o favor da Andrade Gutierrez. A empreiteira pediu a ajuda da Andrade para garantir a construção da Arena Pernambuco.

“O Ministério Público (do Pernambuco) achou que o edital do estádio estava pouco competitivo. Quando chegou próximo à (data de apresentar a) proposta, o governador (à época Eduardo Campos, do PSB) me falou que estava preocupado porque poucas empresas tiveram interesse na arena, e que se não aparecesse nenhuma proposta o MP poderia cancelar tudo. Aí eu me lembrei da Andrade Gutierrez e liguei. ‘Lembra que uns meses atrás eu ajudei vocês lá em Brasília? Eu quero que você faça a contrapartida aqui.’ E deu certo”, completou João Pacífico em seu depoimento.

Veja vídeo com o depoimento de João Pacífico sobre o conluio entre Odebrecht e Andrade Gutierrez:

 

Propinas do Mané 
Depois do “acordo comercial” com a Odebrecht, a Andrade Guttierrez, ao lado da Via Engenharia, reformou o Mané Garrincha, arena considerada a mais cara da Copa do Mundo de 2014, com investimento total de quase R$ 2 bilhões. Em sua delação, o ex-presidente da Andrade, Otávio Azevedo, afirmou que os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT) “embolsaram comissões” para favorecer a empresa na obra. O estádio foi licitado na gestão Arruda e construído durante o governo de Agnelo.

Em depoimento, Clóvis Primo, que também dirigiu a empreiteira, contou sobre o acerto para o pagamento de 1% do valor total da obra em propinas ao então governador Arruda. Segundo ele, a combinação ocorreu em 2009, antes da formação do consórcio que tocou o projeto. Mesmo após a prisão de Arruda, em 2010, o acordo teria sido mantido. Rogério Sá, outro executivo da construtora, delatou que Agnelo Queiroz, sucessor de Arruda no comando do DF, também teria recebido propina de diretores da empreiteira.

Ex-vice-governador do DF na gestão Agnelo, ex-presidente do PMDB-DF e hoje assessor do presidente Michel Temer, Tadeu Filippelli (PMDB) também teria cobrado recursos irregulares referentes às obras do Mané Garrincha. “O então vice de Agnelo, Tadeu Filippelli, também solicitou à Andrade Gutierrez pagamento de propina via doações de campanha em favor do PMDB, na ordem de 1% do valor do estádio”, teria dito Clóvis Primo.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?