Nanicos se unem contra “estrelas” e complicam troca-troca de partidos
Legendas estão mais seletivas em relação a candidatos com mandato. A intenção é formar uma nominata com vínculos correligionários
atualizado
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Diferentemente de outras épocas, quando os partidos seduziam estrelas da política com intenção de potencializar o poder e a articulação, nos tempos recentes o que se vê são siglas priorizando as atenções às pequenas lideranças, sem vícios, ainda pouco conhecidas no Distrito Federal, mas com viabilidade eleitoral. De um lado, o novo cenário favorece a renovação no governo. Do outro, dificulta a vida de quem tenta manter-se no poder.
Na reta final do encerramento da janela partidária, prazo para políticos com mandato decidirem as agremiações pelas quais devem se candidatar, ou mesmo para os postulantes a cargos eletivos se filiarem a alguma legenda a fim de concorrerem a uma vaga, as siglas aumentam a resistência àqueles que procuram espaços exclusivamente para as eleições, sem identidade com a sigla, o chamado “partido de aluguel”.
Na Câmara Legislativa, pelo menos sete dos 24 deputados estão sem legenda ou querem trocar de partido. Até a data-limite estipulada pela legislação eleitoral, que é no próximo dia 7, será um cálculo atrás do outro. Tanto possíveis candidatos quanto líderes partidários ficarão mergulhados em analisar chances. Até especialistas políticos são chamados a fim de fazer previsões mais perto possível da realidade. No entanto, as contas podem ser boas para o postulante e ruins para a sigla.
Prioridades
O distrital Rodrigo Delmasso (Podemos), por exemplo, conforme anunciou em 6 de março, sairia da sigla. No entanto, um mês depois, o cenário pode ser diferente do idealizado por ele. O parlamentar negocia com o PHS e o PRB, mas sente resistência de ambos os partidos devido ao medo de “espantar” quem teria menos votos. O PRB, de Julio Cesar, e da Igreja Universal, não quer um filiado com mais de 10 mil votos, pois já iniciou o trabalho para eleger pré-candidatos que acompanham a legenda.
Assim, corre-se o risco de ele se manter no Podemos. No mínimo, Delmasso tem uma reclamação a menos a fazer da legenda pela qual foi eleito. Eliana Pedrosa, que presidia a agremiação, deixou o cargo e deu lugar a Ronaldo Fonseca, ex-integrante do PROS. Quando anunciou a saída do Podemos, a maior ressalva do distrital, nos bastidores, eram desavenças com a deputada.
Apesar de analisar a filiação de Delmasso e, em princípio descartá-la, o PRB perdeu Leila Barros. A secretária de Esporte, Turismo e Lazer do GDF deixou o partido nessa quinta-feira (26/3) e tem capacidade de ser bem votada. Nas últimas eleições, em 2014, conseguiu mais eleitores do que candidatos conhecidos no cenário local. Ela chegou a 11.125 votos na primeira disputa nas urnas. Teve o desempenho melhor, por exemplo, do que Luzia de Paula (PSB), com 7.428, e Raimundo Ribeiro (PPS), 10.026.
Incômodo
O potencial, no entanto, incomoda os pequenos que pretendem concorrer pelo PSB, partido do governador. Leila sinaliza a ida para a sigla e já provoca medo nos nanicos. Nos bastidores, alguns filiados já disseram: “Ela entra por uma porta e saio por outra”.
Casos como os dos deputados Raimundo Ribeiro (PPS) e Juarezão (PSB) também estão nesse impasse. O primeiro tem convite para ingressar no Partido da República (PR). No entanto, a legenda já tem três deputados com mandato – Agaciel Maia, bispo Renato e, agora, Sandra Faraj. Ou seja, dificilmente conseguiria reeleger todos os atuais mandatários. O distrital acha mais prudente procurar uma sigla que ofereça reais chances de vitória.
Juarezão teme não conseguir ser reeleito estando no PSB, mesmo partido do governador Rodrigo Rollemberg. Para conseguir novo mandato na Câmara Legislativa, vale até sondar agremiações que fazem franca oposição ao atual chefe do Buriti, como o PR, com intenção de lançar o médico Jofran Frejat como candidato ao GDF.
Mesmo com quatro mandatos na bagagem – três como distrital e o atual na Câmara dos Deputados –, o presidente do Progressistas (antigo PP), deputado federal Rôney Nemer, é um dos que erguem a bandeira do protecionismo aos postulantes novatos. “A ideia é ajudar quem está conosco e tem trabalhado para construir sua candidatura. Nosso partido decidiu apoiar essas lideranças”, disse. Segundo o parlamentar, o acordo interno é evitar o ingresso de nomes com o número de votos superior a 10 mil.
O deputado federal Rogério Rosso, presidente do PSD local, afirma que essa construção de candidatos com votação prevista entre 8 mil e 10 mil é natural dentro das siglas. “As legendas trabalham a nominata, quem se organizou ao longo desses anos, construindo nomes que não tenham mandatos, vão querer manter. Mas isso depende da estratégia de cada partido”, pontuou.
Segundo ele, o PSD já tem nominata para fazer deputado distrital, mesmo sem coligação. No entanto, a sigla trabalha para agregar. Na segunda-feira (2/4), participará de reunião com integrantes da aliança partidária. Também nesta semana decisiva, Rosso se encontrará com membros do PSDB, PTB, PRB, PSC, DC e PPS.
Infidelidade partidária
Na opinião do cientista político e consultor Aurélio Maduro, a facilidade de trocar de agremiação após garantida a eleição é um dos motivos que levam os caciques partidários a evitarem candidaturas independentes, sem ligações ideológicas com as suas respectivas bandeiras. “O que está interferindo é o fato de os donos de nomes conhecidos migrarem muito. Agora, a verba para financiamento de campanha está mais limitada ainda, e isso leva a sigla a ter de escolher bem antes de investir”, explicou.
Segundo o professor, o fato de ser a primeira eleição no DF com a vigência das novos critérios eleitorais requer mais cuidados, tanto das legendas quanto dos próprios candidatos.
É uma eleição nova no DF, então os partidos precisam ter cautela, definir a estratégia e valorizar candidatos que realmente têm a verdadeira identidade com a sigla
Aurélio Maduro, professor e cientista político
Novas regras em vigor
Pelas novas regras aprovadas no Congresso Nacional, em alguns casos excepcionais, os candidatos podem conseguir uma vaga na carreira política mesmo sem os partidos ou coligações atingirem o quociente eleitoral. Aqueles supervotados em legendas pequenas têm uma chance a mais de garantirem o pleito.
O quociente é calculado por meio da divisão total dos votos válidos pelo número de cadeiras disponíveis. No DF, por exemplo, são eleitos 24 deputados distritais. Assim, a expectativa é de que o quociente local seja entre 60 mil e 62 mil. Para a Câmara Federal, seria de 180 mil, por serem oito vagas disponíveis.
Ou seja, somente os partidos ou coligações que chegassem a esse valor conseguiriam eleger filiados. Considerando as normas atuais, quem não atingir o quociente também pode disputar as chamadas “sobras”. Essa conta não inclui as eleições majoritárias.