MP apreende cofres com dólares na igreja de Sandra e Fadi Faraj
Dinheiro estava em uma sala do templo da Ministério da Fé em Taguatinga, que também funcionaria como escritório político da família Faraj
atualizado
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Dólares e reais foram apreendidos pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) na Igreja Ministério da Fé, durante a operação Heméra (deusa da mentira, segundo a mitologia grega), deflagrada nesta quinta-feira (27/4). O dinheiro estava guardado em dois cofres dentro do templo comandado pelo apóstolo Fadi Faraj, irmão da deputada distrital Sandra Faraj (SD).
Os dois são investigados por uso irregular de verba indenizatória e pela suposta cobrança de parte dos salários de servidores comissionados nomeados pela parlamentar, ou por indicação dela e do irmão, na estrutura do GDF e da Câmara Legislativa.
De acordo com fontes ouvidas pelo Metrópoles, duas promotoras acompanhadas de servidores do MPDFT entraram, no começo da manhã, pelos fundos da igreja localizada na QNJ 5/7, em Taguatinga. Os dois cofres alvos da ação estavam em uma sala administrativa do templo, que também funcionaria como escritório político da família Faraj.
Os promotores confirmaram a apreensão do dinheiro, mas os valores ainda não tinham sido contabilizados até a última atualização desta reportagem. Além de desvio de verba indenizatória, Sandra e Fadi são acusados de ameaçar testemunhas no decorrer das investigações do MPDFT.
Ambos podem responder na Justiça pelos crimes de corrupção, falsidade ideológica e uso de documento falso, cujas penas, somadas, ultrapassam 20 anos de reclusão para cada um. A distrital também pode perder o mandato.
Por decisão do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), o MP cumpriu oito mandados de busca e apreensão e quatro de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para depor) nesta quinta. O processo investigativo está sob sigilo.
Máquina de fazer dinheiro
Fadi é líder da Ministério da Fé. Sandra, distrital e pastora. Ambos têm forte influência sobre os fiéis. Em fevereiro deste ano, o Metrópoles mostrou como os cultos da igreja localizada em Taguatinga ficam lotados. As celebrações também são recheadas de efeitos de luz e som. Tudo para aguçar a generosidade dos frequentadores, para que paguem os dízimos.
As cadeiras são todas acolchoadas, o ambiente é climatizado e o pé direito, alto, como o de uma grande casa de shows. O isolamento acústico é impecável. Câmeras circulam em gruas, captando os melhores ângulos para transmiti-los ao vivo nos telões e no site da igreja.
Há, pelo menos, 5 mil cadeiras no salão. O banheiro é luxuoso, com enormes pias de granito preto. As portas têm borrachas para evitar barulho durante o culto. Tudo muito limpo e organizado.
Para quem não está acostumado com as tradições evangélicas, o primeiro desconforto aparece justamente na hora de se sentar. Em cada uma das cadeiras, há um envelope azul semelhante àqueles de depósito bancário. Em letras garrafais constam os seguintes dizeres: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o senhor dos exércitos”.
Na aba do envelope, há cinco bancos onde os fiéis podem depositar dinheiro, cheque, fazer transferência bancária. As opções são Banco do Brasil, BRB, Itaú, Bradesco e Santander.
Verba indenizatória
Segundo suplente do senador José Antonio Reguffe (sem partido), Fadi Faraj é mentor da irmã, que passou a ser investigada pelo MP em fevereiro deste ano após ser acusada de desvio de recursos da verba indenizatória.
A denúncia foi feita pelo ex-funcionário do gabinete da parlamentar Filipe Nogueira, sócio da Netpub. Entre 2015 e 2016, ele diz ter prestado serviços de informática para Sandra Faraj e levado um calote de R$ 150 mil. O dinheiro, segundo Nogueira, foi repassado pela Câmara à distrital como verba indenizatória, mas não teria caído na conta dele.
Confira imagens da Operação do MP na Câmara Legislativa nesta quinta-feira (27/4):
A partir da denúncia, a vice-procuradora-geral de Justiça, Selma Sauerbronn, pediu oficialmente à presidência da Câmara Legislativa cópias da declaração prestada pelo ex-servidor. Também foram solicitados os atos normativos da Casa sobre a lotação de funcionários que tenham vínculo com empresas contratadas pelos parlamentares, bem como a documentação referente à prestação de contas de Sandra Faraj para recebimento de verba indenizatória.
Em março, a Mesa Diretora da Câmara decidiu dar prosseguimento ao pedido de cassação da distrital. A representação foi protocolada pela ONG Adote um Distrital logo depois que as denúncias vieram à tona. Sandra, que está grávida, nega as acusações. Ela assegura que pagou R$ 150 mil pelo serviço da Netpub e diz ser vítima de um complô articulado por ex-servidores de seu gabinete.
Segundo o advogado de Sandra Faraj, Cleber Lopes, a operação é uma mostra que os promotores ainda buscam provas contra a parlamentar.