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“Missão” de Gim era arrecadar R$ 5 mi de cada empreiteira, diz delator

Segundo Júlio Camargo, o ex-senador do DF, preso na 28ª fase da Lava Jato, cobrou propina das empresas para livrá-las das CPIs da Petrobras

atualizado

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1 de 1 gim argello - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Em novo depoimento aos investigadores da Lava Jato o lobista e delator Júlio Camargo indicou que o esquema de propinas para evitar a convocação de empreiteiros em duas CPIs da Petrobras em 2014 teria sido muito maior do que o revelado até agora pela Lava Jato. Segundo Camargo, o ex-senador Gim Argello (PTB) preso no dia 12/4 na operação Vitória de Pirro, 28ª fase da Lava Jato, cobrou R$ 5 milhões de cada empresa para livrá-las das CPIs.

O novo depoimento de Julio Camargo ocorreu na quinta-feira (14), em Curitiba, base da Lava Jato. Ele é o delator que em 2015 revelou ter sido pressionado pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), por uma propina de US$ 5 milhões. O relato do lobista teve peso decisivo na denúncia que a Procuradoria-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal contra o parlamentar, por corrupção e lavagem de dinheiro.

Até aqui a Lava Jato identificou R$ 5,3 milhões que teriam sido pagos a Gim Argello. Uma parte repassada pela UTC (R$ 5 milhões) destinada aos quatro partidos da Coligação União e Força, nas eleições de 2014 – o Ministério Público Federal destaca que não há informação de que as legendas soubessem da origem ilícita dos valores.

Outra parte foi depositada pela OAS (R$ 350 mil) na conta da Paróquia São Pedro, administrada pelo padre Moacir Anastacio, frequentada pelo ex-senador.

Livres de depor
Em troca desses repasses os empresários Ricardo Pessoa, da UTC, e Léo Pinheiro, da OAS, não foram chamados para dar explicações às duas CPIs. Em nenhuma das duas comissões houve convocação dos empresários para depor. Em seu depoimento, o delator diz que ele, Argello e Léo Pinheiro buscaram outras empreiteiras para relatar a cobrança, mas não deu mais detalhes sobre como a situação foi tratadas por elas: Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Engevix.

Nesse novo depoimento, realizado na quinta, 14, Júlio Camargo citou três encontros com Gim Argello e outros empreiteiros após a instalação das duas CPIs. Segundo o delator, a preocupação com as comissões fez os empreiteiros investigados se articularem, organizados pelo ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. Com isso, ele e Léo Pinheiro participaram da primeira reunião com o então senador, em Brasília.

Gim Argello disse que a intenção não era ir contra os empresários, mas contra as pessoas das Petrobras envolvidas em processos irregulares da empresa; que Gim Argello disse que chamaria todo o setor e pediu a Léo Pinheiro e ao depoente para avisar a alguns dos empreiteiros.

Julio Camargo, delator

Então, ele e Léo Pinheiro teriam ficado responsáveis por avisar as outras empresas sobre a demanda que, no primeiro encontro ainda não estava clara que se tratava de propina e o próprio Léo Pinheiro teria comentado. “Léo Pinheiro, mais experiente que o depoente, perguntou se teria que haver pagamento de propina, disfarçada em contribuição política; que Gim Argello disse que deixassem esse assunto para a próxima reunião”, disse.

No segundo encontro, contudo, o ex-senador teria sido mais direto e dito que tinha a ‘missão’ de cobrar R$ 5 milhões dos empresários. “Gim Argello disse que não queria pressionar o empresariado, mas que aproveitaria a CPI para arrecadar contribuições, pois estava próximo das eleições; que Gim Argello disse que essa era uma missão que tinha recebido, um ‘pepino’, que Gim Argello disse que queria R$ 5 milhões por empresa”, relatou o lobista. O senador ainda teria deixado claro em outra ocasião que quem não pagasse a propina seria convocado.

Desconto na proprina
Na época conselheiro da Toyo Setal junto com Augusto Mendonça Neto, outro delator da Lava Jato, Júlio Camargo disse aos investigadores que sua empresa era menor e não tinha condição de arcar com os R$ 5 milhões e , por isso, teria negociado uma redução para R$ 2 milhões, que foi informada a Argello em uma terceira reunião.

Os repasses, então, teriam sido acertados via doações oficiais da Toyo Setal, junto com Paulo Roxo e Valério Neves, suspeitos de operarem os pagamentos a mando de Argello e que foram soltos nesta sexta-feira, 15.

A defesa da OAS não comentou o caso. A Andrade Gutierrez já firmou um acordo de delação premiada, homologado pelo Supremo Tribunal Federal e que está sob sigilo. A Odebrecht anunciou que busca fazer o que chamou de ‘colaboração definitiva’, mas oficialmente o Ministério Público Federal informa que as negociações com a empreiteira não avançaram.

A empresa não quis comentar o caso. A reportagem tentou contato telefônico com a assessoria da Queiroz Galvão, mas ninguém atendeu.

A defesa de Gim Argello informou que não comenta investigações em andamento. Em nota, a assessoria da Engevix afirma que “todas as informações pertinentes ao caso foram prestadas às autoridades responsáveis pelas investigações”.

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