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Mais um aliado de Bispo Renato teria participado do “bonde da propina”

Alexandre Cerqueira, servidor comissionado ligado ao distrital Bispo Renato Andrade (PR), tem espalhado nos corredores da Câmara Legislativa que não estava sozinho ao procurar empresários para pedir “ajuda” em nome de deputados. O colega seria Donizete dos Santos (foto), também ligado ao parlamentar evangélico

atualizado

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donizete dos santos e bispo renato
1 de 1 donizete dos santos e bispo renato - Foto: Facebook/Reprodução

O suposto interlocutor de deputados no esquema de corrupção que envolveria a cobrança de suborno não deve responder sozinho pelo título de negociador da propina. Secretário executivo da Terceira Secretaria da Câmara Legislativa, Alexandre Braga Cerqueira tem ventilado nos corredores da Casa que tinha companhia nos encontros em que teria achacado ao menos um empresário de Brasília. Esse “parceiro” é Donizete dos Santos, chefe de gabinete do terceiro-secretário: o distrital Bispo Renato Andrade (PR).

A revelação do nome de mais um personagem dessa trama que envolve a suspeita de desvios milionários de recursos públicos ajuda a jogar luz sobre o mais recente escândalo político do DF. Enquanto desenha-se a atuação de um primeiro escalão da fraude, que seria composto por ao menos seis distritais, investigadores também apuram a participação de um segundo escalão, formado por servidores da Casa. Mas tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público reconhecem que a teia de irregularidades é complexa.

Se a lupa do MP se voltar sobre Donizete, não será a primeira vez em que ele terá que se explicar às autoridades. O servidor comissionado da CLDF que hoje recebe R$ 16,5 mil mensais foi administrador do Itapoã na gestão do então governador Agnelo Queiroz (PT). Na época, Donizete foi indicado pelo deputado federal e pastor evangélico Ronaldo Fonseca (ex-PR, hoje Pros-DF), para quem já fez campanha.

Donizete foi exonerado do cargo em junho de 2013, após suspeitas de superfaturamento na festa de aniversário da região administrativa que comandava. De acordo com investigações do Ministério Público de Contas (MPC-DF), na ocasião, a comemoração custou cerca de R$ 1 milhão. Somente o show de Amado Batista teria sido R$ 400 mil, quando o cachê do cantor custava, em média, R$ 150 mil. O pagamento de R$ 250 mil à dupla sertaneja João Lucas e Marcelo também foi questionado.

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Donizete dos Santos também já foi subsecretário do Entorno, chefe de gabinete da Administração Regional do SIA e diretor de Atendimento ao Usuário do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF).

A proximidade com os poderosos o fez sonhar com a carreira política, mas não obteve sucesso. Em 2002, lançou-se candidato a deputado distrital pelo PTN. Em 2008, disputou a prefeitura de Águas Lindas (GO). Naquele ano, a declaração de bens do então candidato apresentada à Justiça Eleitoral chamava a atenção. Os 13 bens informados — cinco imóveis e oito veículos — somavam R$ 1,8 milhão. Na ficha de registro, Donizete informava ser empresário. Hoje seu nome consta, entre outros negócios, na sociedade de uma instituição religiosa de Taguatinga: a Igreja Ministério da Vida.

Ao ser contatado pelo Metrópoles, Donizete dos Santos se limitou a dizer que está viajando e não comentará o caso por enquanto.

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O bonde da propina
A trajetória de Donizete é tão curiosa quanto à do colega de Câmara Legislativa Alexandre Braga Cerqueira. Reportagem do Metrópoles publicada na terça-feira (23) contou os negócios do homem apontado pelo empresário Afonso Assad como interlocutor da cobrança de uma “ajuda” financeira para os distritais.

Cerqueira já foi dono de um lava jato e hoje é sócio de uma lotérica e de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), chamada Associação Escola da Família (AEF). Mas no endereço de registro, em Planaltina, funciona uma igreja evangélica e não há sinal algum da entidade.

Em depoimento ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), Assad contou que Cerqueira o procurou depois de um almoço com os deputados Bispo Renato Andrade e Júlio César (PRB) numa churrascaria de Brasília. O empresário revelou ter sido convidado a participar do esquema de corrupção, que envolveria o pagamento de propina após os distritais garantirem o repasse de recursos. Assad disse ter recusado a oferta.

O esquema começou a ser desarticulado após a divulgação de grampos clandestinos feitos pela deputada distrital Liliane Roriz (PTB) no último dia 17. As gravações foram o início da crise que culminou, na terça (23), com o afastamento da Mesa Diretora da CLDF. Todos os distritais citados no escândalo negam irregularidades.

Entenda o caso
Liliane teria começado a grampear os colegas no fim do ano passado, quando os parlamentares decidiam sobre o que fazer com uma sobra orçamentária da Casa. Em um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas nas escolas públicas. De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o dinheiro — R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões — realocado para a Saúde. O valor foi destinado ao pagamento de serviços vencidos em UTIs da rede pública.

Na ocasião, Liliane teria questionado a presidente da Câmara sobre a mudança na votação. No áudio, é possível ouvir a agora afastada presidente da Câmara, Celina Leão (PPS) falando que o “projeto” seria para um “cara” que ajudaria os deputados. A presidente da Casa disse ainda que Liliane não ficaria de fora: “Você (Liliane) tá no projeto, entendeu? Você tá no projeto. Já mandei o Valério (ex-secretário-geral) falar com você.”

Outros parlamentares
As denúncias feitas por Liliane atingem outros distritais, como Bispo Renato Andrade e Júlio César (PRB), ex-líder do governo na Casa. Segundo é possível ouvir nas gravações, os dois teriam tentado fazer uma negociação com Afonso Assad, presidente da Associação Brasiliense de Construtores. De acordo com o que Valério Neves diz em um dos áudios, o empresário poderia intermediar contratos com a Secretaria de Educação. Mas Assad não teria levado a cabo o “compromisso”. “O Afonso disse que não poderia garantir nada”, diz Valério Neves em um dos trechos.

Com a negativa do empresário de participar do tal “compromisso”, segundo explica Valério nos áudios, o deputado Cristiano Araújo (PSD) teria conseguido o “negócio” das UTIs. Ao dizer o quanto os “hospitais iam retornar”, Valério sussurra que seria “em torno de 7%”, revelou O Globo. E diz ainda que todos os integrantes da Mesa Diretora tinham conhecimento do acordo. Celina, por sua vez, diz que se fosse para eles receberem algum tipo de ajuda, teria de ser para todos. Integravam a Mesa Diretora Celina, Raimundo Ribeiro (PPS), Júlio César e Bispo Renato.

“Houve crime”
O promotor de Justiça e Defesa da Saúde do MPDFT Jairo Bisol, que está à frente do caso, antecipou ao Metrópoles, semana passada, que já estava convencido de que “houve crime”. De acordo com ele, só faltava definir a participação de cada um no “negócio”, termo utilizado por Valério Neves, nos áudios, para definir a mudança de destinação de sobras orçamentárias do Legislativo para a área de saúde.

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