Mais sete testemunhas depõem em audiência da Caixa de Pandora. Entre elas, a ex-governadora Maria de Lourdes Abadia
Durante quase quatro horas, sete testemunhas de defesa foram ouvidas na terceira audiência de instrução, que colhe informações sobre denúncias de corrupção passiva e lavagem de dinheiro
atualizado
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Sete testemunhas prestaram depoimentos durante a 3ª audiência do processo que resultou na Operação Caixa de Pandora, na tarde desta segunda-feira (14/12), na 7ª Vara Criminal de Brasília no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Todas elas foram convocadas pela defesa dos sete réus, entre eles o ex-governador José Roberto Arruda, o ex-vice-governador Paulo Octávio e o delator do esquema, Durval Barbosa. Eles respondem pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em ação penal que apura irregularidades encontradas em contratos de informática com a empresa Vertax Ltda.
O depoimento mais tumultuado desta segunda (14) foi o do ex-secretário de Governo José Humberto Pires de Araújo. Convocado pela defesa de Paulo Octávio, o empresário coordenou a transição do governo de Maria de Lourdes Abadia para José Roberto Arruda. Assim que Arruda assumiu, segundo ele, a determinação era de que os gastos com contratos de informática fossem reduzidos.Ticiano Figueiredo, um dos advogados de Arruda, apresentou o que dizia ser um recado encaminhado pelo ex-governador a José Humberto e outros dois secretários em 2008, solicitando redução de gastos em tais contratos. Os promotores do Ministério Público do DF pediram que Figueiredo enviasse outras provas que confirmassem a autenticidade do papel.
O advogado se irritou, leu o conteúdo do tal recado a José Humberto e perguntou se a testemunha se lembrava do pedido de Arruda. O ex-secretário confirmou. Um dos questionamentos da defesa de Durval Barbosa gerou outra polêmica. A advogada Margareth de Almeida perguntou se José Humberto, alguma vez, recebeu dinheiro de Barbosa. Ele negou.
Alguns dos advogados reclamaram sobre o tom da pergunta à testemunha e pediram que fosse excluída da audiência. Apesar da solicitação, tanto os promotores quanto o juiz Paulo Carmona negaram a exclusão do questionamento, por entenderem que não houve desrespeito.
De acordo com a denúncia do MP, entre 2003 e 2009, foram firmados vários contratos entre fornecedores e o GDF, em que agentes públicos recebiam cerca de 10% a título de enriquecimento ilícito, favorecimento da empresa e uso do dinheiro para financiamento de campanha. A Vertax Ltda teria sido uma das beneficiadas no esquema de corrupção.
Respondem ao processo de corrupção passiva e lavagem de dinheiro: Arruda, Paulo Octávio, Durval Barbosa, José Geraldo Maciel (ex-secretário de Saúde e ex-chefe da Casa Civil do DF), Marcelo Carvalho de Oliveira (ex-executivo do grupo PaulOOctavio), Luiz Paulo Costa Sampaio (ex-presidente da Agência de Tecnologia da Informação do GDF) e o empresário Francisco Tony Brixi de Sousa.
Sem contratos
A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia foi a última a prestar depoimento. Convocada por Tony Brixi, Abadia disse que estava nervosa e tremia, “pois nunca tinha participado de uma audiência”. Ela falou por menos de 15 minutos e, na maior parte do tempo, discorreu sobre dificuldades financeiras vividas pelos governos.
Ao ser questionada sobre a paralisação dos serviços de informática no período em que ela governou a capital, entre março de 2006 e janeiro de 2007, justificou a medida alegando falta de dinheiro em caixa. “Com os atrasos nos pagamentos, as empresas interromperam o serviço no começo do ano, como os sistemas das secretarias de Educação, de Fazenda e outros. Fiz um apelo para que continuassem, pois era época de matrícula escolar”, lembrou.
A deputada distrital Luzia de Paula (Rede) foi convocada pela equipe de Arruda e seria ouvida nesta segunda (14), mas encaminhou um documento ao juiz informando que participaria de uma reunião com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e não poderia comparecer. Também serão ouvidos nesse processo o deputado federal Izalci Lucas (PSDB). Os novos depoimentos para essa ação, porém, só serão retomados em 2016.
Assim como na sexta passada (11), Paulo Octávio, José Geraldo Maciel e Tony Brixi acompanharam todos os depoimentos.
As investigações que resultaram na Operação Caixa de Pandora foram divididas em duas ações penais, uma para julgar os crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa e a outra para corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Elas correm em varas diferentes. Na quarta-feira (16), Arruda, Paulo Octávio e Durval Barbosa serão interrogados pelo titular da 2ª Vara de Fazenda Pública do DF, juiz Álvaro Ciarlini.