JBS pagou propina a dois dos três governadores do PSB, revela delator
Executivo da JBS afirma que Paulo Câmara (PE) é um deles, mas ainda há dúvida sobre quem é o outro: Ricardo Coutinho ou Rodrigo Rollemberg
atualizado
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O delator Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da JBS, provocou um tsunami ao relatar quanto a empresa pagou em caixa 2 nos últimos anos. Em depoimento a integrantes do Ministério Público Federal (MPF) no dia 5 de maio, ele disse que 1.829 candidatos a cargos eletivos em 2014 receberam propina do grupo empresarial. Mas, após citar nominalmente dezenas de políticos beneficiados, o executivo deixou alguns mistérios no ar. Um deles terá o efeito de uma bomba quando explodir. Resta saber onde o estrago será feito: na Paraíba ou no Distrito Federal.
Ricardo Saud foi enfático: dos três governadores eleitos pelo PSB em 2014, dois receberam propina. Um deles, como o próprio executivo detalhou, foi Paulo Câmara, em Pernambuco. Resta dúvida quanto ao segundo. As delações dos sete executivos da JBS deram origem a várias horas de gravação dos depoimentos, e os investigadores ainda se debruçam sobre o vasto acervo de documentos entregues ao MPF. Embora o segundo nome não tenha surgido até agora, as opções são restritas a Ricardo Coutinho e Rodrigo Rollemberg. Ambos são filiados ao PSB, partido que abandonou a base aliada do presidente Michel Temer na manhã de sábado (20/5), três dias após o escândalo da JBS vir a público.
Veja o vídeo em que Ricardo Saud fala em propina para governadores do PSB
Desses três governadores, apenas Rollemberg recebeu doações oficiais da JBS na disputa eleitoral de 2014. Segundo os valores declarados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foram R$ 852.831,75. Desse montante, R$ 450 mil foram pagos diretamente pela empresa. Os R$ 402.831,75 restantes estavam espalhados em 40 transações atípicas feitas ao diretório do PSB do DF, que repassou o montante à campanha de Rollemberg.
Os R$ 450 mil que financiaram Rollemberg foram doados em 24 de outubro de 2014, dois dias antes do segundo turno, quando a chapa do PSB saiu vitoriosa da disputa contra Jofran Frejat (PR). O responsável pela negociação, conforme consta em tabelas apresentadas pelos delatores à Procuradoria-Geral da República, era “Ricardo Rollemberg”.
Ricardo Leal, o arrecadador de recursos
A referência ao nome “Ricardo Rollemberg” como “contato” para doação ao então candidato Rodrigo Rollemberg aparece na página 12 da planilha sobre repasses financeiros aos partidos. Em 2012, Rollemberg perdeu um irmão de nome Ricardo. Na época das eleições, o único Ricardo com quem Rodrigo manteve estreita relação foi o empresário Ricardo Leal, um dos apoiadores destacados pelo político com o objetivo de arrecadar recursos para a campanha.
Pessoas próximas ao governador do DF apostam que a referência ao “Ricardo” citado na planilha é Ricardo Leal. Até recentemente, Leal integrava o conselho de administração do Banco de Brasília (BRB). Deixou o cargo logo após surgirem rumores de que o operador financeiro Lúcio Funaro, preso no âmbito da Lava Jato, estaria disposto a fazer delação premiada. Entre os nomes citados por Funaro aos procuradores, estaria o de Ricardo Leal.
“Propina disfarçada”
No vídeo em que Ricardo Saud revela que a JBS pagou propina a 1.829 candidatos em 2014, o executivo diz ainda que o valor total chegou à casa dos R$ 600 milhões. Em outro depoimento, o dono da JBS, Joesley Batista, afirmou que nenhuma doação feita pela empresa, inclusive as declaradas ao TSE, foi lícita. Em vídeo, o empresário afirmou que “o caixa 1 era contrapartida, propina disfarçada”.
Veja o vídeo em que Joesley Batista afirma que mesmo as doações oficiais eram propina
Outro lado
Por meio de nota enviada ao Metrópoles na noite de domingo (21/5), o GDF informou que “toda doação de campanha recebida pelo então candidato Rodrigo Rollemberg aconteceu de forma legal. As contas de campanha já foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral”.
Nesta segunda (22), o governador disse estar “absolutamente tranquilo” em relação às doações do grupo. “A única relação que tive com a JBS foi um pedido de benefício fiscal para um centro de distribuição aqui no DF, mas que negamos. Assim, eles não implementaram o negócio”, disse. Sobre os seus companheiros de partido, o socialista completou: “Não posso afirmar pelos outros, mas tenho confiança tanto no Paulo Câmara quanto no Ricardo Coutinho”.
A reportagem não conseguiu contato com a assessoria do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, nem com o empresário Ricardo Leal para comentar o assunto.
Propina em Pernambuco
Enquanto os procuradores ainda investigam a veracidade das denúncias, Pernambuco digere a acusação feita a Paulo Câmara. Na delação de Ricardo Saud, ele explica como a verba chegou ao pupilo do então presidenciável Eduardo Campos (PSB), morto em um acidente de avião em plena campanha eleitoral.
Saud revela que a JBS ficou empolgada com a candidatura de Eduardo Campos ao Planalto e ofereceu R$ 15 milhões em propina. “Com a morte do Eduardo, o Paulo Câmara e o Geraldo Júlio (atual prefeito de Recife) nos procuraram falando que tínhamos que honrar (o compromisso), pois precisavam ganhar a eleição em homenagem ao Eduardo”, detalhou o diretor da JBS. Segundo Saud, os valores ilegais foram entregues ao grupo conforme combinado.
Por meio de nota, Paulo Câmara negou as acusações e disse que “nunca solicitou nem recebeu recursos da JBS em troca de favores”.
“Sou um homem de classe média, e vivo do meu salário.”
Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco
Veja o vídeo em que Ricardo Saud fala da propina paga a Paulo Câmara
O secretário de Comunicação da Paraíba, Luís Torres, informou que “nem será preciso dizer que o governador Ricardo Coutinho não recebeu doação de natureza alguma da JBS. E, como se sabe, não há dado algum ou alguém que diga o contrário”. (Colaborou João Gabriel Amador)