Interlocutor de Gim Argello entregou 200 mil euros ao ex-senador
Em depoimento à Polícia Federal, lobista Paulo Roxo disse que embarcou no Rio de Janeiro com o dinheiro dentro de um envelope. Ao chegar em Brasília, entregou a quantia ao ex-senador e pediu para não ser colocado mais em situações como aquela
atualizado
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Antes de serem soltos pelo juiz federal Sérgio Moro, dois dos presos na 28ª fase da Operação Lava Jato foram reinquiridos pela Polícia Federal. No segundo depoimento, o empresário Paulo César Roxo Ramos, apontado como interlocutor do ex-senador Gim Argello (PTB), afirmou ter recebido de Júlio Camargo, ex-consultor da Toyo Setal e delator da Lava Jato, 200 mil euros em um envelope. A quantia teria sido uma doação “não oficial” do empresário a Gim pela arrecadação de propina de empresas que não foram convocadas na CPI da Petrobras, em 2014. Gim permanece preso em Curitiba.
No termo de reinquirição, feito na última sexta-feira (15/4), Roxo relata novidades sobre como teriam sido feitas as doações de Júlio Camargo ao ex-senador. Segundo afirmou à Polícia Federal, ele teria ido ao Rio de Janeiro em duas oportunidades para tratar de doações à campanha eleitoral de Gim. Roxo afirmou ter embarcado no Aeroporto Santos Dumont com o dinheiro.A transação ocorreu na segunda viagem do publicitário à capital carioca, em julho de 2014, a pedido do ex-senador. Ele afirmou ter sido recebido em um prédio no centro do Rio pela secretária de Camargo. A funcionária afirmou que o chefe estaria em outro compromisso, mas havia pedido que ela entregasse um envelope. De maneira discreta, a mulher o deixou à vontade na sala e disse que poderia verificar o conteúdo do pacote. “O reinquirido abriu e contou o dinheiro, constatando a existência de algo em torno de 200 mil euros”, destaca o documento.
O declarante teria voltado para Brasília em um voo doméstico. Quando chegou à capital, encontrou Gim imediatamente. “Provavelmente na casa dele (de Gim) onde entregou o envelope com 200 mil euros, o qual recebeu com naturalidade, sem mostrar surpresa”, descreve um trecho do depoimento.
Roxo afirmou ter pedido, naquele momento, que Gim não o colocasse mais nesse tipo de situação, pois se tratava de doação “por fora, não oficial”. O empresário diz ter relatado a Valério Neves, também preso na última terça-feira (12), o desconforto por ter levado tal quantia dentro do avião, mas disse não lembrar a reação do ex-secretário-geral da Câmara Legislativa. Segundo ele, Neves não o acompanhou nas viagens ao Rio de Janeiro.
De acordo com Roxo, Gim não pedia que assessores mais próximos tratassem das doações para não ter o nome dele ou do partido vinculados aos recebimentos. Roxo declarou não lembrar exatamente quanto Júlio Camargo doou a Gim Argello, mas disse que o valor variou entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões.
Prisões
Paulo Roxo e Valério Neves foram presos temporariamente no dia 12 deste mês. Na mesma ação da Polícia Federal também foi levado à cadeia preventivamente o ex-senador Gim Argello. O ex-político é investigado por cobrar propinas para evitar convocação de empreiteiros em comissões parlamentares de inquérito sobre a Petrobras, em 2014. Na época, Gim era membro da CPI no Senado e vice-presidente da CPMI, da Câmara e do Senado.
O nome de Gim pareceu nas delações do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) e do dono da UTC, Ricardo Pessoa. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), há evidências de que Gim pediu R$ 5 milhões em propina.
No primeiro depoimento, no dia 14, Valério Neves afirmou que teve um encontro com Ricardo Pessoa, na sede da UTC, em São Paulo. Na ocasião, Pessoa afirmou que doaria R$ 5 milhões para a coligação União e Força, encabeçada no Distrito Federal por José Roberto Arruda, que tentava a eleição ao governo.
O encontro teria acontecido em junho de 2014, quatro meses antes do pleito. Neves negou ter recebido os valores, pois a função era “apenas contabilizar os recibos de doações”. Neves também negou ter participado de reuniões entre Gim, Júlio Camargo e Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.
Liberdade
Em um documento enviado pelo Ministério Público Federal do Paraná ao juiz Sérgio Moro, os procuradores Athayde Ribeiro Costa e Paulo Roberto Galvão de Carvalho pediram a prorrogação das prisões de Paulo Roxo e Valério Neves. A solicitação foi encaminhada a Moro na última sexta-feira (15), mesmo dia em que ele revogou as prisões.
Os procuradores se basearam em contradições nos depoimentos dos dois com as declarações feitas pelo lobista Júlio Camargo. Entre as divergências, no documento assinado pelos procuradores, está a declaração de Camargo de que teria participado de uma reunião em Brasília com Valério Neves, Paulo Roxo, o ex-senador Gim Argello e Ricardo Pessoa, dono da UTC. Na ocasião, Argello teria pedido um cronograma para pagamento das doações. Nos depoimentos prestados por Roxo e Neves à PF, os dois negaram o encontro.
Ainda na delação, Camargo afirmou que em duas ocasiões entregou R$ 200 mil, em dinheiro, a Valério. O ex-secretário-geral da Câmara Legislativa nega o recebimento. Uma terceira contradição ainda foi detectada nos depoimentos, segundo o MPF. Camargo afirmou que Roxo e Valério foram até seu escritório, no Rio de Janeiro, levar um papel com dados de doações para o PR, a pedido de Gim Argello. Roxo, no seu depoimento, negou que tenha ido ao escritório do lobista.