Ibaneis critica conversas de Moro e Dallagnol: “Tramando condenações”
Segundo o governador, diálogos entre o ministro e o procurador abalam a Operação Lava Jato e a credibilidade do Judiciário
atualizado
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O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), criticou nesta quarta-feira (12/06/2019) o conteúdo das conversas vazadas entre o ministro Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, nas quais ambos discutiam detalhes da Operação Lava Jato na época em que o titular da Justiça e Segurança Pública era juiz federal. Para o emedebista, Judiciário e Ministério Público não podem “tramar condenações”.
“Certamente, o Judiciário brasileiro vai ter de ser depurado. Não podemos ter um Judiciário que vive aliado ao Ministério Público, tramando para poder condenar as pessoas. Esse é o tipo de condenação que não favorece quem vive na democracia”, afirmou Ibaneis.
Na avaliação do governador, o vazamento publicado pelo site The Intercept no domingo (09/06/2019) expõe dois crimes. O primeiro é o da invasão nas contas de aplicativos pessoais do então juiz Sergio Moro com o coordenador da operação, o procurador Dallagnol. O segundo é a suposta relação ilegal entre investigadores e o magistrado responsável por sentenças do processo.
“São dois crimes: o vazamento e a conversa entre eles. Eu fico imaginando se aquele diálogo fosse entre um advogado e um juiz, se eles não estariam presos e condenados pela população. Então, por mais que a Lava Jato tenha trazido para o Brasil muitas coisas boas, principalmente no que diz respeito ao combate à corrupção, você não pode combater um crime cometendo outro”, ponderou Ibaneis.
Ainda de acordo com o governador, “por mais que os culpados tenham realmente cometido crimes, isso gera uma dúvida muito grande no processo”.
Segundo Ibaneis, o caso deve ser avaliado com muito cuidado pelos órgãos de controle, a exemplo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Nesse contexto, o emedebista frisou que a Polícia Federal deve descobrir quem fez o vazamento e invadiu as contas dos aplicativos.
Marcola
Não é a primeira vez que a relação institucional entre Ibaneis e Moro sofre abalo. No fim de março, a transferência de detentos do Primeiro Comando da Capital (PCC) para o Presídio Federal de Brasília provocou crise entre os dois. Segundo o emedebista, o GDF não foi consultado.
“Fui avisado depois e achei isso um desrespeito. Moro conhece muito de corrupção, [mas] de segurança provou que não conhece nada”, disparou na época, ao responder os questionamentos do Metrópoles sobre o caso. De acordo com Ibaneis, logo após a transferência, recebeu ligação de Moro, que “ouviu poucas e boas”.
Para o chefe do Executivo local, em vez de o governo federal trazer líderes da facção criminosa, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, a penitenciária deveria ser desativada.
Em resposta a Ibaneis, Sergio Moro disse que as preocupações do governador eram “um receio um pouco exagerado”. “A liderança criminosa vem para um presídio de segurança máxima, onde ela fica em um sistema carcerário bastante rígido. Sem condições de, lá de dentro, controlar a atividade criminal de fora”, afirmou o ministro.
Vazamentos
As mensagens divulgadas pelo site The Intercept na noite do último domingo (09/06/2019) mostram a suposta interferência de Sergio Moro nas investigações da força-tarefa da Operação Lava Jato.
O atual ministro da Justiça e o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, teriam trocado colaborações durante as investigações. A publicação afirma ter uma série de mensagens privadas, gravações em áudio, vídeos, fotos e documentos judiciais.
Em conversas entre Moro e Dallagnol, o magistrado teria sugerido ao procurador que trocasse ordem de fases da Lava Jato, cobrado agilidade em novas operações, dado conselhos estratégicos e pistas informais de investigação e recomendado recursos ao Ministério Público.
Explicações
O caso repercutiu no Congresso. O vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA), protocolou, nessa terça-feira (11/06/2019), pedido de convocação para Moro prestar esclarecimentos sobre as mensagens reveladas pelo site no plenário da Câmara dos Deputados.
Até o momento, a Câmara recebeu outros dois pedidos para que o ministro do governo Jair Bolsonaro (PSL) compareça à Casa: nas Comissões de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) e de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP). Moro irá prestar esclarecimentos no Senado, no dia 19, e na Câmara, em 26 de junho. Nos dois casos ele irá falar em comissões.
No Senado, houve acordo para evitar uma convocação do ministro da Justiça e assegurar que ele possa ir à Casa voluntariamente como convidado para falar do conteúdo das conversas que supostamente trocou com o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), anunciou que Moro vai comparecer à CCJ da Casa no dia 19 para falar sobre o vazamento.
Nesta quarta (12/06/2019), a Polícia Federal decidiu instaurar quatro inquéritos para apurar o caso. Os investigadores não descartam a hipótese de uma ação orquestrada.