Ibaneis assume o GDF e a missão de governar 3 milhões de brasilienses
O advogado iniciou a campanha como azarão, mas surpreendeu, venceu nas urnas e tornou-se, oficialmente, nesta terça (1°), chefe do Executivo
atualizado
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Às 11h30 desta terça-feira (1º/1), Ibaneis Rocha (MDB) vestirá a faixa de governador do Distrito Federal e, oficialmente, receberá a missão de criar políticas públicas para os quase 3 milhões de moradores da capital da República. Ao herdar de Rodrigo Rollemberg (PSB) as chaves do Palácio do Buriti, o emedebista começa a pôr em prática estratégias pensadas a fim de tentar cumprir todas as promessas feitas durante a campanha eleitoral.
Embora habilidoso com as palavras, característica construída durante a bem-sucedida carreira como advogado, o novo chefe do Executivo local pisará em um campo onde ações são mais importantes do que discursos.
Quando sentar na principal cadeira do GDF, sentirá o peso da cobrança das 32 categorias de servidores públicos que reivindicam o pagamento da terceira parcela do reajuste salarial, concedida ainda na gestão de Agnelo Queiroz (PT). Fora isso, testará sua força na Câmara Legislativa, na tentativa de firmar o compromisso de reduzir tributos.
Apesar de já ter dito que sempre soube das privações e consequências do cargo, Ibaneis, desde o início, pareceu disposto a enfrentar os riscos. Ao tirar do bolso R$ 5,4 milhões para financiar a própria campanha, deixou claro que não entraria na disputa como mero figurante.
Na tarde do dia 28 de julho de 2018, ao ser confirmado candidato do MDB ao GDF durante uma cerimônia simples e sem pompa, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF) não era visto como ameaça pelos postulantes ao Buriti, à época mais bem pontuados nas pesquisas.
Os 2% das intenções de voto que tinha no início da corrida eleitoral se transformaram em 69,7% de sufrágios efetivados exatamente três meses depois, quando derrotou Rollemberg no segundo turno e sagrou-se governador eleito do DF.
Sem descanso
O primeiro brasiliense de nascença a assumir o comando do DF saiu da campanha com seis quilos a menos do que o peso que tinha quando entrou na disputa – atualmente, a balança marca 92 quilos –, mas não teve descanso após ser coroado nas urnas.
Durante a transição, em vez de gastar sola de sapato nas cidades, Ibaneis passou a participar de dezenas de reuniões a fim de montar sua equipe de governo e estudar os melhores cenários para a sua gestão.
Após longas negociatas, escolheu 55 nomes do primeiro escalão, sendo 27 secretários de estado, mas o processo foi marcado por algumas idas e vindas. Com intuito de acomodar o correligionário Wellington Luiz (MDB) na administração pública, sofreu duras críticas. Primeiro, quis emplacar o distrital – derrotado na tentativa de reeleição – na direção da Companhia do Metropolitano, o Metrô-DF.
No entanto, após o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recomendar a não indicação de dirigente de partido político ou membro do Legislativo para a direção de estatais, conforme a Lei Federal nº 13.303/16, Ibaneis recuou e cogitou dar a Agência de Fiscalização (Agefis) ao aliado. Por fim, alojou Wellington Luiz na presidência da Companhia Habitacional do DF (Codhab).
O advogado ainda terá de demonstrar habilidade para lidar com um grupo que se sente desprestigiado e reclama do pouco espaço na administração que se inicia em 1° de janeiro. Entre as legendas insatisfeitas, estão PDT, PHS e PSC.
Debutante na política, Ibaneis Rocha tentará imprimir na administração pública o mesmo ritmo de trabalho que o ajudou a fazer fortuna na iniciativa privada. Seu patrimônio declarado é de R$ 94 milhões. Avesso à burocracia, ele garante ter métodos eficientes para destravar a máquina e fazer processos serem concluídos com celeridade. Diz, por exemplo, que irá quitar débitos da ordem de R$ 1,14 bilhão com instituições financeiras e trazer o controle do Centro Administrativo (Centrad) para o GDF.
Família
Além de pagar salários em dia e prover assistência para os moradores das 31 regiões administrativas, Ibaneis terá de se preocupar com os cuidados do recém-nascido Mateus Rocha, fruto do seu relacionamento com a advogada Mayara Noronha. O menino veio ao mundo no último dia 15. Ibaneis tem outros dois filhos com sua ex-esposa e sócia em seu escritório de advogacia, Luzineide. O mais velho, Caio, tem 20 anos; João Pedro está com 13.
Antes de fazer fortuna na advocacia, o ex-presidente da OAB-DF teve uma vida bem mais modesta em Brasília e no Piauí. Embora tenha certidão de nascimento expedida na capital do país, mudou-se aos 8 anos para Corrente (PI) porque o pai, formado em administração, havia sido convidado a ajudar no desenvolvimento de um projeto sobre plantio de soja no estado nordestino. Para acompanhar a família, a mãe pediu exoneração da Secretaria de Saúde.
Veja a trajetória de Ibaneis até vencer a eleição para governador do DF:
Caravana do Piauí
Aos 15 anos, Ibaneis voltou a morar em Brasília, na casa de uma tia, na QI 7 do Guará I. Achava que teria mais futuro na capital do país. Nas férias escolares, em janeiro e julho, regressava a Corrente. Ao rever os familiares na cidadezinha de 26,5 mil habitantes, ajudava os avós nos afazeres domésticos e nunca deixava de revisar as disciplinas da escola.
Depois de vencer as eleições no DF, Ibaneis voltou ao município piauiense e foi recepcionado como celebridade. Durante quatro dias, passeou em trio elétrico, andou a cavalo e cantou em um restaurante da cidade. Para retribuir a visita do conterrâneo famoso, cerca de 40 pessoas percorrerão os 840 quilômetros que separam o interior do Piauí de Brasília para ver de perto a posse do novo governador do DF.
Primeiro flerte com a política
A primeira vez que Ibaneis considerou disputar o Governo do Distrito Federal foi num bate-papo descontraído regado a cerveja e petiscos no Quituart, tradicional centro gastronômico do Lago Norte com vários restaurantes. À mesa, estavam Ibaneis, Marcelo Martins – advogado e amigo nomeado como adjunto para a Casa Civil – e Paulo Pestana, esse último, jornalista responsável por coordenar a comunicação da campanha do emedebista ao governo distrital.
Pestana foi um dos entusiastas de Ibaneis como cabeça de chapa do MDB, mesmo quando o nome dele era aventado para ser vice de Jofran Frejat (PR), que acabou declinando da disputa ainda na pré-campanha.
Era agosto de 2017. O assunto sobre a candidatura ao GDF foi ventilado e Ibaneis acabou se animando. A vaidade, o dinheiro e o espírito de competição alimentaram a conversa de bar e o encorajaram a pisar num campo em que ele jamais tinha ingressado: a política.
Paralisia no rosto
Ao se tornar popular, muitos eleitores passaram a se perguntar por que o olho esquerdo do novo chefe do Executivo é mais fechado do que o direito. Sem constrangimento, Ibaneis esclareceu o assunto ao Metrópoles, em entrevista concedida uma semana antes da votação do segundo turno.
Ele sofreu uma paralisia facial em 2002, durante os jogos da Copa do Mundo no Japão/Coreia, o que lhe tirou os movimentos do lado esquerdo do rosto. Pessoas que o cercam já repararam: o problema agrava-se quando ele fica nervoso. No momento mais tenso da campanha, chegou a aparecer em compromissos públicos usando óculos escuros.
Apesar da imobilidade em parte da face, Ibaneis nunca teve dificuldades de comunicação. “Minha preocupação era com a fala, pois sou advogado e faço muita sustentação oral, mas nunca afetou muito a minha vida”, disse, na época.
Aliás, a facilidade na oratória foi uma característica que o colocou em vantagem nos debates com seus adversários. Mesmo sem histórico de realizações, usou a técnica de sustentação oral a fim de criar uma expectativa positiva em torno de seu nome e viu seu nome crescer vertiginosamente na campanha e sair vitorioso nas urnas.
Agora, com o poder da mais importante caneta do Buriti nas mãos, Ibaneis terá a responsabilidade de conduzir a cidade rumo a dias melhores. Que competência e sorte acompanhem o novo governador do Distrito Federal.