GDF deixou de executar recursos bilionários de fundos especiais
Análise faz parte do julgamento das contas do terceiro ano da gestão de Rodrigo Rollemberg, aprovadas com ressalvas pelo TCDF na quinta (22)
atualizado
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Rodrigo Rollemberg (PSB) costuma repetir o discurso de herança maldita para justificar a falta de investimentos na cidade. No entanto, o Tribunal de Contas do DF (TCDF) apontou que o socialista negligenciou um bilionário recurso que poderia trazer melhorias para áreas como a saúde, a educação e a segurança pública.
Em 2017, o GDF tinha disponível para uso R$ 3,4 bilhões distribuídos em cerca de 30 fundos especiais, mas só recorreu a R$ 860,4 milhões. O resultado consta no Relatório Analítico e Projeto de Parecer Prévio do TCDF – que aprovou, com ressalvas, na quinta-feira (22/11), as contas do terceiro ano da administração do atual titular do Palácio do Buriti.
Do Fundo de Saúde – que representa 63% dos gastos totais –, o GDF deixou de utilizar mais de R$ 330 milhões, a maior parte desse montante é decorrente de convênios com a União. Não foi a primeira vez que órgãos de controle pediram explicações ao Governo do Distrito Federal por “perder” verbas disponíveis.
No fim de 2017, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) já havia estranhado o fato de o Executivo local ter sacado apenas 18% do fundo em questão. Na época, o secretário de Saúde, Humberto Fonseca, teria reconhecido a existência dos valores apresentados e informado que a pasta se esforçaria para que o saldo fosse executado.
FAP e FAC
Já a dotação autorizada para o Fundo de Apoio à Pesquisa do DF (FAP-DF) no ano passado era de R$ 257,8 milhões, mas a atual administração se valeu apenas de 25,5% desse total. Com o Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC-DF) não foi diferente. Por lei, o FAC deveria contar com dotação mínima de 0,3% da Receita Corrente Líquida (RCL). Por esse cálculo, teria de ter sido suprido com R$ 62,2 milhões, mas acabou reduzido a R$ 59 milhões.
Em sua manifestação encaminhada ao TCDF, a procuradora-geral do Ministério Público de Contas (MPC-DF), Cláudia Fernanda de Oliveira, pede que o GDF “se abstenha de realizar repasses financeiros à FAP em montante inferior à dotação mínima exigida pela Lei Orgânica do Distrito Federal (LODF)”.
A procuradora fez a mesma observação quanto ao FAC-DF e criticou a demora do Executivo local em preencher os quadros com servidores de carreira. “É preciso ressaltar que a FAP até o momento não possui quadro próprio de concursado, manejando recursos milionários”.
No relatório do TCDF, que aprovou com ressalvas as contas do GDF do ano passado, o conselheiro-relator, Márcio Michel, demonstra preocupação com a baixa execução dos fundos especiais do Distrito Federal e destaca que o Palácio do Buriti “vem sendo alertado pela Corte de Contas nos últimos anos, vez que configura afronta aos aspectos de eficácia, eficiência, economicidade, efetividade e legalidade da gestão, além de caracterizar possível descumprimento dos objetivos para os quais foram concebidos”.
Publicidade turbinada
Se por um lado o GDF poupou recursos dos fundos especiais, não economizou em promover a própria imagem. Em 2017, o atual chefe do Executivo local gastou R$ 165,8 milhões com propagandas do seu governo, incremento de 16,7% superior ao ano anterior.
Ainda de acordo com o TCDF, o Palácio do Buriti subestimou “significativamente” as despesas com publicidade e propaganda. Em relação ao projetado na Lei Orçamentária Anual de 2017, os gastos com essa finalidade foram 81,2% maiores do que o indicado na LOA.
Além disso, destinou somente 18% do orçamento previsto no programa Segurança Pública com Cidadania à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros. “Considerando a execução orçamentária do programa em voga, mormente de ações que teriam o condão de impactar na redução da criminalidade e aumento da sensação de segurança, os números revelam que a prioridade dada a esses objetivos não encontram sustentação na realidade fática, em razão da reduzida destinação de recursos para execução de serviços voltados a essa finalidade”, destaca um dos trechos do relatório do TCDF.
Embora aprovadas, o TCDF verificou 12 problemas no terceiro ano de gestão do socialista.
Confira todas as ressalvas:
– Superestimativa de arrecadação, o que indica a necessidade de adoção de critérios e controles efetivos na elaboração das leis orçamentárias, de maneira a tornar as previsões mais próximas da efetiva realização;
– Deficiência na definição e na apuração de indicadores de desempenho para avaliar programas governamentais;
– Insuficiência de dotações orçamentárias para subtítulos priorizados na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017;
– Realização de despesas sem cobertura contratual;
– Fragilidades nos mecanismos de controle associados à abertura de créditos adicionais;
– Repasses financeiros à Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP) em montante inferior à dotação mínima exigida pela Lei Orgânica do DF (LODF);
– Atribuição de dotação ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC) em montante inferior ao estipulado pela LODF;
– Inconsistência nos valores da dívida de precatórios judiciais do Distrito Federal;
– Impropriedade na utilização de conta retificadora da Conta Única para registro dos recursos tomados de outras unidades gestoras em favor do Tesouro distrital;
– Ausência de metodologia para avaliar o custo/benefício das renúncias de receita e de outros incentivos fiscais;
– Inconsistência das informações relativas à quantitativo de pessoal do Distrito Federal;
– Intempestividade dos repasses de recursos devidos ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), destinados à quitação de precatórios judiciais, em afronta ao § 2º do art. 97 do ADCT, c/c o Decreto local nº 31.398/2010.