Garçom que trabalha há 12 anos no Buriti já serviu 6 governadores
Potinho, como é conhecido, já viveu períodos de bonança no Executivo local. “Agora quando querem algo elaborado fazem uma vaquinha”, diz
atualizado
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Nos corredores, ele caminha com a bandeja em mãos. Os tempos são de austeridade, nada de cappuccino ou leite, há somente café e água para servir. Mas não falta simpatia para Carlos Antônio Silva Oliveira, 45 anos. Um bom dia aqui, uma troca de palavras ali, Potinho, como é conhecido, é uma das figuras mais queridas e conhecidas do Palácio do Buriti.
O garçom, auxiliar, amigo, do 1º andar, vê o governo com outros olhos. Acredita nas políticas sociais e ainda aposta:
Já falei com o vice-governador, ele tem que ir para dentro dos hospitais e ouvir as pessoas. É lá que ele vai saber as dificuldades de cada cidadão
Carlos Antônio Silva Oliveira
Potinho não concluiu o ensino médio, mas tem conhecimento de causa quando dá a dica à Renato Santana. Ele trabalha na governadoria há 12 anos. Entrou no fim do governo de Maria Abadia (PSDB), trabalhou com José Roberto Arruda, Wilson Lima, Rogério Rosso (PSD), Agnelo Queiroz (PT) e se mantém na sede do poder Executivo no governo de Rodrigo Rollemberg (PSB). “Passei pelo Buriti, Buritinga, Casa Oficial. Cada governador tem um perfil diferente. O Rogério Rosso sempre foi muito família, educado, tratava a gente de igual para igual. O Wilson Lima também era gente boa demais”, conta.
Dentro desses governos, Potinho lembra ter vivido períodos de bonança. “Teve época que tinha churrasco toda semana em Águas Claras. Hoje, o governador precisa organizar as contas. A gente vai ajudando, né? Faz um lanche com o que tem, mas sempre com muito bom humor e levando o trabalho a sério”, relata.
Arrocho
O corte dos comissionados anunciado no pacote de austeridade de Rodrigo Rollemberg é conhecido pelo garçom. Aliás, ele sabe mais de política do que a grande maioria dos moradores do DF. “Preciso confiar no meu trabalho e em Deus. Vivemos uma época de crise”, ressalta. “Hoje, trabalho na vice-governadoria e, quando eles querem algo mais elaborado fazem uma vaquinha, cada um dá um pouquinho pra lanchar”.
Do garimpo ao Palácio
De batalhar para crescer Potinho entende bem. Maranhense, ele saiu de Bacabal e foi para Roraima trabalhar no garimpo ainda jovem, com 18 anos. No governo de Fernando Collor a área onde trabalhava começou a ser desativada. Ainda na luta pelo emprego, Potinho contraiu hepatite C. “Quase morri, vomitava sangue, mas queria continuar trabalhando. Minha irmã não deixou e me trouxe para Brasília”.
Chegando na capital, ainda meio perdido, se recuperou e começou a busca pelo sustento. Com 15 dias, bateu à porta de um motel da cidade. Disse ao dono que tinha boa vontade e que daria o melhor por um emprego. “Foi o senhor Arnô Bezerra. Ele me deu a oportunidade. Fiquei lá por 11 anos”, recorda.
No Distrito Federal, Carlos Antônio casou e teve uma filha. Comprou casa própria em Santa Maria e conquista a simpatia de todos por onde passa. Em 2003, começou a conciliar o serviço no motel, durante noite, com o novo emprego no Buriti. Foi lá que ganhou o apelido de Potinho. “Ah, eles se referiam a mim dessa maneira por causa da minha barriga. No começo, apelei. Mas, é quando a gente apela que o apelido pega, né? Hoje, ninguém conhece o Carlos aqui no Buriti, é só Potinho”, completa.
Nos bastidores
E, sim, ele é uma unanimidade. Em um simples passeio pelos corredores, basta perguntar: “Conhece o Potinho?”. As respostas afirmativas, seguidas de um sorriso, são certas. E, quem pensa que as costuras políticas e a briga para melhorar as condições da população estão só nos gabinetes, engana-se. Basta dar um pulinho na copa.
Discreto, Potinho tenta passar despercebido, mas, quando pode, sugere: “Ei, vice-governador, dá um pulinho lá em Santa Maria para ver o que a gente passa lá”.´E é atendido. “Tenho percebido que a política também é feita fora do Buriti. Ouvindo a população, a chance de dar certo é muito maior. E eu acredito que dará”, completa otimista.