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Ex-servidor acusa Sandra Faraj de cobrar dízimo de comissionados

Segundo denunciante, distrital obrigaria seus indicados no Executivo e Legislativo a devolverem 30% do contracheque para igreja do irmão

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
Sandra e Faraj
1 de 1 Sandra e Faraj - Foto: Michael Melo/Metrópoles

No olho do furacão de uma denúncia sobre uso indevido de verba indenizatória, a deputada Sandra Faraj (SD) é alvo de nova acusação. Desta vez, um ex-servidor da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) revela a existência de um suposto esquema de pagamento de dízimo. A “contribuição” seria descontada do salário dos comissionados. O dinheiro teria como destino a igreja Ministério da Fé, do irmão da parlamentar, Fadi Faraj, onde a distrital atua como pastora.

Segundo o ex-funcionário, boa parte dos contratados na “cota” da distrital, tanto no Executivo quanto no Legislativo local, seria obrigada a contribuir. De acordo com o homem, que pediu ao Metrópoles para não ser identificado com medo de represálias, haveria preferência para a contratação de integrantes da igreja para preencher os quase 400 cargos que a deputada tem na Administração Regional de Taguatinga, na Secretaria de Justiça e no próprio gabinete na CLDF.

A maioria deles, ainda conforme o denunciante, teria de tirar 30% do salário, transformados em uma espécie de dízimo. Os nomes dos funcionários seriam colocados em envelopes e as quantias controladas mensalmente.

Nos versículos de gênesis, na Bíblia, está escrito que os israelitas foram ensinados a adorar a Deus com dízimo. As ofertas também estão previstas no Livro Sagrado. Oriundo do hebraico, dízimo significa um décimo dos rendimentos e a contribuição é comum entre os fiéis, que a fazem de forma espontânea. No entanto, os supostos 30% seriam obrigatórios e controlados sob lupa, de acordo com a denúncia.

“A funcionária Kátia Siqueira (lotada no gabinete de Sandra) conferia todos os envelopes dados na Santa Ceia, do Ministério da Fé de Taguatinga. Caso não dessem (o valor), seriam ameaçadas, exoneradas. Não só uma pessoa foi demitida, algumas pessoas foram retaliadas, coagidas, ameaçadas”, afirmou o denunciante (confira vídeo abaixo). A Santa Ceia é um evento dominical ocorrido na igreja e voltado para as famílias.

De acordo com o denunciante, os funcionários são incluídos no grupo pela distrital não tanto por suas habilidades profissionais. “Sandra Faraj acha que o dinheiro público é dela. Assim, a porcentagem tem de vir para ela e para a igreja que a elegeu”, destacou.

 

Comandante e tutor
Segundo o ex-servidor, existe uma hierarquia para comandar tanto os cargos na Secretaria de Justiça, quanto na administração de Taguatinga e no gabinete da distrital. “Há uma hierarquia. Toda essa turma tem um líder, o nome dele é Fadi Faraj (ao lado da distrital na foto em destaque). O apóstolo é o tutor da Sandra”, afirmou (veja vídeo abaixo).

Fadi Faraj é irmão de Sandra e líder da Comunidade Cristã Ministério da Fé. O apóstolo comanda milhares de fiéis. Os prédios da igreja dele estão localizados em Taguatinga, Gama, Plano Piloto, Recanto das Emas e Santo Antônio do Descoberto (GO), Entorno do DF.

De acordo com o denunciante, Fadi é quem estaria à frente de todas as operações. Segundo ele, uma das estratégias é lotar pastores na estrutura do Legislativo e Executivo, da cota de Sandra, para que o dízimo fique apenas com a família Faraj.

 

Verba indenizatória
A deputada Sandra Faraj é alvo de outra denúncia, que envolve a verba indenizatória da CLDF. O empresário Filipe Nogueira, ex-funcionário da distrital e sócio da empresa Netpub, registrou em cartório, em 6 de fevereiro, uma acusação dando conta de que a parlamentar contratou o serviço de informática da empresa e não pagou. Mesmo assim, apresentou notas fiscais pedindo ressarcimento à Câmara Legislativa no valor total de R$ 174 mil.

No relato, ao qual o Metrópoles teve acesso, a empresária Michelly Nogueira – esposa de Filipe e dona da empresa – conta que, em fevereiro de 2015, quando Sandra já havia sido empossada na CLDF, a distrital contratou a Netpub para criar um sistema de informática para o gabinete. “O valor do contrato foi de seis parcelas de R$ 15 mil e outras seis de R$ 14 mil. Seriam seis meses de construção e seis meses de manutenção”, afirma o documento.

Mas as parcelas não teriam sido pagas. “Ela não quitou nada até abril de 2015. Quando cobramos, ela afirmou que pagaria boletos mensais de R$ 2.655. Logo depois, eles nos pediram os códigos do site (que produzimos), porque afirmaram ter contratado outra empresa”, disse.

A Netpub foi contratada quando Filipe, marido de Michelly, estava lotado no gabinete de Sandra Faraj. Filipe ganhava um salário de R$ 11.129,69, lotado com a função de cargo especial de gabinete. No último dia 10, ele foi exonerado.

O outro lado
Sandra Faraj afirmou, por meio de nota, que está sendo vítima de uma chantagem e de ameaça. Ela alega ter pago por todos os serviços.

A distrital destaca, ainda, que os processos de verba indenizatória são documentos públicos e estão no portal da transparência da Câmara Legislativa, com todos os relatórios de serviços efetuados com as respectivas notas fiscais devidamente atestadas em nome da empresa Netpub.

Sobre a denúncia acerca da cobrança de 30% dos salários de comissionados, o gabinete da deputada classificou, por meio de nota, de “absurda a acusação”. Segundo e-mail enviado à reportagem, o gabinete atribui a denúncia e “mentirosos” que se “escondem”.

Já o apóstolo Fadi Faraj afirmou, por meio de nota, que “nunca, em nenhum momento, a igreja exige o dízimo, sendo uma ação voluntária e espontânea que o fiel faz por vontade própria. É certo, portanto, que em nenhum momento misturamos a atividade parlamentar da deputada Sandra Faraj com as atividades da igreja”.

A funcionária Kátia Siqueira não foi localizada até a última atualização desta reportagem.

Para o grupo político ligado à parlamentar, no entanto, as denúncias estão vindo do chamado “fogo amigo”, de pessoas que até pouco tempo estavam ao lado da distrital, participando dos supostos esquemas, mas que se cansaram. E, agora, decidiram participar de uma nova via política, contrária ao jogo até então comandado pela deputada e seus familiares.

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