Ex-chefe da Casa Militar do DF, coronel Ribas tinha “sargento mordomo”
Subordinado ao coronel Cláudio Ribas foi flagrado usando viaturas para supostamente resolver problemas particulares dele e do chefe
atualizado
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Uma das figuras mais próximas de Rodrigo Rollemberg (PSB), o coronel aposentado da Polícia Militar Cláudio Ribas saiu de cena antes do ocaso do atual governo, mas até hoje a conduta dele no organograma do Governo do Distrito Federal (GDF) é objeto de questionamentos entre seus pares. Durante os três primeiros anos da gestão Rollemberg, Ribas ocupou a chefia da Casa Militar, um dos postos estratégicos na administração, já que a área cuida diretamente da segurança do governador, com forte ingerência na PM.
Ao longo dos três anos em que esteve na chefia da Casa Militar, o poder de Ribas só aumentou, mas, sem nenhum motivo aparente, o coronel foi rifado de seu posto e jogado a escanteio em 14 de janeiro deste ano. Numa movimentação incomum, ele ainda passou, na Casa Militar, por dois cargos abaixo do que ele ocupava, até se desvincular de vez. Durante três meses, após deixar a chefia da Casa Militar, circulava pelos corredores da repartição, mesmo quando já exonerado.
Finalmente fora da estrutura do Palácio do Buriti, ele foi acomodado em uma diretoria do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) sem grande expressão. Durante esse tempo, ficou a interrogação sobre os motivos da queda de Ribas. Um levantamento apócrifo, capitaneado por desafetos do coronel, pode indicar os motivos de uma espécie de afastamento preventivo.
Esse relatório, que é cheio de jargões policiais e cuja estrutura lembra a de um documento de inteligência da corporação, monitorou e flagrou pessoas ligadas a Ribas cometendo possíveis irregularidades no trato com a máquina pública.
Assuntos pessoais
Segundo o relatório ao qual o Metrópoles teve acesso, um sargento que trabalhou diretamente com Ribas nos últimos 25 anos e estava lotado na Casa Militar passava o tempo resolvendo problemas pessoais e familiares do coronel, desviado de funções públicas. Como ele praticamente não dava expediente em seu local de trabalho, a suspeita é de que as ausências eram consentidas pelo chefe. O militar, de acordo com o documento, seria uma espécie de “mordomo” de Ribas.
Usando sempre uma viatura oficial vinculada à Casa Militar e em horário comercial, o sargento foi fotografado fazendo compras em supermercados, buscando criança na escola e visitando a esposa em salão de beleza na 313 Sul. Todas as atividades sem relação alguma com os interesses públicos. Em um dos vídeos, feitos em abril, o sargento foi flagrado pegando o próprio neto na escola.
Confira:
No dia 20 de março deste ano, por volta das 11h, o sargento foi flagrado acompanhando uma obra realizada em condomínio de Arniqueiras, onde mora o coronel Ribas.
Durante o monitoramento, os investigadores fotografaram o sargento pegando correspondências na caixa de correio da casa de Ribas e seguindo para um caixa eletrônico em supermercado de Águas Claras.
Veja as imagens:
Sargento “cai pra cima”
A partir do acompanhamento, os investigadores concluíram que toda a rotina do sargento em horário de expediente era, na verdade, dedicada a atender suas próprias necessidades pessoais e às do chefe, Ribas. Após a saída do coronel da Casa Militar, o sargento também foi exonerado, mas “caiu para cima”: ele foi nomeado, em 18 de agosto, chefe da Unidade de Gestão Operacional da Subsecretaria de Modernização do Atendimento Imediato ao Cidadão, do Na Hora.
O sargento ocupou o cargo no qual estava Julio César Mariano Figueira, exonerado em 30 de agosto, após ser flagrado com um carro oficial distribuindo material de campanha para o então candidato ao GDF Alberto Fraga (DEM). Figueira foi filmado em um posto de combustível do Gama no momento em que pegava adesivos do parlamentar no banco de trás do veículo e os dava para uma mulher.
O Metrópoles apurou que o automóvel era da empresa Connecta, contratada pelo Executivo local. Figueira é servidor de carreira da Secretaria de Educação, mas estava lotado na Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). Em 25 de janeiro de 2018, havia sido nomeado em um cargo de natureza especial (CNE-5) para chefiar a unidade de gestão operacional do Na Hora.
Ex-enteado motorizado
O monitoramento feito sobre a rotina de Ribas e em relação às pessoas próximas a ele também flagrou irregularidades envolvendo o filho da ex-mulher do coronel, que utilizava viaturas descaracterizadas da Casa Militar.
O jovem, que ocupa um cargo comissionado de assessor especial na Secretaria das Cidades desde 22 de fevereiro deste ano, costumava usar os carros da repartição para ir à própria residência e resolver problemas pessoais.
Pelo menos dois carros vinculados à Casa Militar e dirigidos pelo ex-enteado de Ribas envolveram-se em ocorrências policiais registradas pelo próprio rapaz em duas delegacias da cidade. Em uma delas, as quatro rodas do veículo foram furtadas. O caso ocorreu em 13 de dezembro de 2017, por volta das 10h30, na 603 Sul, próximo a uma igreja.
Um segundo fato envolveu um acidente de trânsito que danificou o veículo oficial da Casa Militar. O ex-enteado de Ribas dirigia o veículo por uma das faixas da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), em 1º de fevereiro deste ano, na altura de Vicente Pires, quando bateu o automóvel em uma van. O carro oficial, um Sandero, ficou com a lateral danificada.
O outro lado
Procurado pelo Metrópoles para falar sobre as denúncias, Ribas afirmou que, durante o período que chefiou a Casa Militar, o referido sargento esteve em sua residência centenas de vezes. “Isso ocorreu na função de meu motorista: ou buscando algum expediente que costumava instruir nos momentos de folga, ou para a adoção de qualquer outra providência de interesse do serviço.”
Ainda segundo o militar, “nunca o autorizei ou designei, exclusivamente, para tratar de assuntos particulares meus, dele ou de outrem durante o horário de expediente e com uso de viatura oficial”.
O coronel ressaltou, ainda, que não tem filhos pequenos nem netos em idade escolar. “Por fim, não tenho nenhum enteado nomeado no GDF. Sou casado há 10 anos e a minha esposa não tem filhos. Fui casado com a mãe deste rapaz há 20 anos, portanto ele não é meu enteado e não há ilegalidade em sua nomeação, que se deu por mérito próprio, na Secretaria das Cidades”, garantiu.
Ribas ainda disse que, quanto ao uso de viatura da Casa Militar, todos os veículos utilizados pelos servidores da Casa Civil, do Gabinete do Governador e da Secretaria das Cidades pertencem ao órgão.