Esquecido, Campanella depõe em CPI do Transporte e fala pouco
Em vários momentos, ex-diretor do DFTrans alegou não se lembrar do que aconteceu durante o processo. Ex-vice-governador Tadeu Filippelli foi citado novamente
atualizado
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Em um depoimento marcado por alguns esquecimentos, o ex-diretor do DFTrans Marco Antônio Campanella deu poucas informações sobre o processo de licitação do atual sistema de transporte do Distrito Federal. Campanella foi ouvido na CPI do Transporte, na manhã desta quinta-feira (8/10). Afirmou que o órgão que comandava não teve participação ativa na concorrência e que apesar de ter tido vontade de participar, só fornecia informações técnicas à Secretaria de Transporte, responsável por todo o processo, segundo ele.
Com relação a um parecer elaborado pela procuradoria jurídica do DFTrans sobre os grupos econômicos que participavam da licitação, Campanella garantiu que encaminhou o documento à secretaria e, logo depois, teve um encontro com o ex-vice governador Tadeu Filippelli (PMDB).“Ele se manifestou falando sobre a preocupação de pareceres do DFTrans se chocarem com os que eram elaborados pela Procuradoria do DF, mas seria leviano falar tudo que aconteceu nessa reunião porque não lembro”, afirmou Campanella.
Acareações
Na sessão desta quinta, os deputados começaram a fazer acareações entre os investigados na CPI. Para a mesma mesa que Campanella estava, os parlamentares chamaram o ex-diretor operacional do DFTrans Ricardo Leite.
Ele garantiu que, no período de transição do sistema de transporte, foi elaborada uma instrução normativa determinando que qualquer ação de fiscalização do novo sistema fosse autorizada pelo diretor-geral do órgão, no caso, Campanella. “Fui cerceado das funções. Para qualquer fiscalização, era preciso o aval do diretor-geral”, ressaltou.
Campanella confirmou a instrução, mas garantiu que as decisões eram tomadas por um colegiado de diretores. “Era um momento crítico, difícil, de transição. Só estávamos decidindo qual fiscalização global seria tomada em sintonia com a política geral do órgão”, defendeu o ex-diretor. Pouco depois dessas decisões, Leite pediu exoneração do cargo. Um e-mail lido pelo presidente da comissão relata que o então diretor operacional alegou conflitos éticos.
Depois, os deputados chamaram Samuel Barbosa para sentar à mesa. Assim como Leite, ele já havia prestado depoimento à CPI. Barbosa era diretor jurídico do DFTrans e responsável pela elaboração de pareceres sobre informações que o órgão passava à Secretaria de Transporte. Advogado, ele confirmou já ter atuado na defesa de Campanella. O deputado Rafael Prudente (PMDB) citou a doação de R$ 8 mil de Barbosa para a campanha do depoente no ano passado.
Durante o depoimento, Barbosa defendeu o trabalho realizado por Campanella e confirmou encontro dos dois com Filippelli para esclarecer o parecer sobre grupos econômicos que disputavam o processo. O encontro ocorreu dois dias depois da emissão do parecer e três antes da abertura da licitação. “Por questão hierárquica, na minha presença não teve conversa. Só ouvi que não tinha competência para emitir esse parecer”, afirmou. Atualmente, Barbosa trabalha para o bloco Força do Trabalho, que tem como integrante a deputada Telma Rufino (sem partido, mas eleita pelo PPL, partido do qual Campanella é o presidente regional, licenciado em razão das investigações da Polícia Civil).
Tadeu Filippelli
Para o deputado Bispo Renato, presidente da CPI, Campanella teve atuação importante no processo, apesar de ele negar. “Participou integralmente do primeiro edital. Só não participou do segundo por conta de um rompimento com Filippelli e vai chegar o momento dessa abordagem”, afirmou o presidente da CPI. Para o distrital, o DFTrans forneceu informações para a elaboração do edital de licitação. “O apoio técnico era tudo o que precisavam para formular o processo e o DFTrans subsidiou com esses dados, como viagens dos ônibus, número de passageiros, quilometragens.”
Com relação a uma possível convocação de Filippelli à CPI, Bispo Renato afirmou que ainda não é o momento, apesar de o ex-vice-governador ter sido citado em vários depoimentos.
Ninguém deixará de ser convocado, mas não adianta chamá-lo sem ter elementos. Precisamos de dados para chamar qualquer depoente.
Bispo Renato, presidente da CPI
À imprensa, o ex-diretor do DFTrans afirmou que a tarifa técnica do processo foi calculada com dados inconsistentes e o órgão então comandado por ele contratou uma consultoria para fazer uma proposta alternativa. “A questão da tarifa técnica é a principal dúvida da CPI e ninguém apresentou ainda. Se contratou, cadê? Até hoje, não há esses dados. Não tinha na época dele e não tem agora. Empresário dizia o que tinha para receber e recebia”, resumiu Bispo Renato.
Antes de deixar a CPI, Campanella entregou documentos aos deputados. Segundo ele, na papelada e em um pen-drive estão análises críticas do edital com base em informações que o DFTrans tinha sobre o sistema de transporte.
Mal-estar
Pouco antes de Barbosa deixar a CPI, Rafael Prudente perguntou se ele havia se encontrado com algum dos deputados que integram a comissão, fora da Câmara Legislativa. Barbosa relatou que, na casa de Telma Rufino, teve um rápido encontro com Raimundo Ribeiro (PSDB).
O tucano ficou irritado com o questionamento do colega e garantiu que nenhum membro da comissão está impedido de falar com as pessoas para buscar informações que ajudem na CPI. Segundo ele, muitas pessoas querem prestar depoimento na comissão, mas não é possível convocar sem saber o que elas têm a falar.
Durante a sessão, os distritais também votaram a convocação do advogado Guilherme de Salles Gonçalves, ex-sócio de Sacha Reck, e dos empresários Wagner Colombini Martins e Victor Foresti.