Distritais réus na Drácon dizem à Receita que ficaram mais pobres
Entre os parlamentares que enfrentam processos de cassação, única a melhorar de situação financeira foi Sandra Faraj, que dobrou patrimônio
atualizado
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As declarações de Imposto de Renda dos 24 distritais publicadas no Diário da Câmara Legislativa revelam um cenário curioso sobre os seis parlamentares que enfrentam processos de cassação na Casa. Dos cinco réus na Operação Drácon, quatro — Bispo Renato Andrade (PR), Celina Leão (PPS), Cristiano Araújo (PSD) e Julio Cesar (PRB) — informaram à Receita Federal que ficaram mais pobres de 2015 para 2016. Já Raimundo Ribeiro (PPS) disse que os valores aferidos no ano passado são exatamente iguais aos do exercício anterior.
Em contrapartida, Sandra Faraj (SD), alvo de investigação do Ministério Público, aumentou o patrimônio em 109,6% no período. Todos os distritais tinham que publicar, no Diário da Câmara Legislativa, as respectivas declarações do Imposto de Renda referente a 2016 até 16 de maio — terça-feira da semana passada.
A maior redução apresentada ao Fisco foi a de Bispo Renato. Em 2015, o patrimônio do deputado era de R$ 882.176,38. No informe de 2016, o distrital disse ter R$ 423.999,54.Segundo a assessoria do parlamentar, “o principal motivo é o gasto com os advogados” que o defendem no processo da Drácon, operação do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e da Polícia Civil, deflagrada em 23 de agosto do ano passado. As autoridades investigam a denúncia de que os deputados liberavam emendas em troca de propina.
Presidente da Câmara Legislativa na época em que a Drácon foi iniciada, Celina Leão (PPS) “perdeu” quase R$ 68 mil de 2015 a 2016: de R$ 717.310,31, o patrimônio caiu para R$ 649.993,23. Celina afirmou que “não teve perda de imóveis, apenas na conta-corrente devido a gastos pessoais”.
Menos atingidos, Julio Cesar (PRB) e Cristiano Araújo (PSD) mantiveram seus ganhos em 2016 praticamente iguais aos de 2015. A perda de Julio foi de cerca de R$ 1.100 (de R$ 420.559,50 para R$ 419.440,25). Já Cristiano Araújo, que teve sua “falência” decretada pela Justiça na semana passada, apresentou declaração R$ 17 mil menor do que no ano anterior (R$ 617.229,60 para R$ 600.229,96). Procurados pela reportagem, nenhum dos dois tinha se manifestado até a última atualização desta matéria.
A curiosidade ficou por conta da declaração de Imposto de Renda de Raimundo Ribeiro. O patrimônio e os ganhos do parlamentar ficaram exatamente iguais em 2015 e 2016: R$ 397.006,55. Se levada em conta a inflação do período, o poder aquisitivo dele teve uma retração de 6,29%. Ribeiro explica, por meio de sua assessoria, que “os valores se mantiveram os mesmos porque os rendimentos do deputado não mudaram”.
Sandra Faraj
Situação oposta é a de Sandra Faraj, que também é pastora evangélica na igreja Ministério da Fé, comandada por seu irmão Fadi Faraj. A distrital, investigada pela Polícia Civil e pelo MPDFT por corrupção, falsidade ideológica, uso de documento falso e ameaça a testemunhas, mais que dobrou o patrimônio na comparação entre as declarações do Imposto de Renda de 2015 e 2016.
A cifra saltou de R$ 126.498,65 para R$ 265.215,06, uma variação de 109,6%. Por meio de assessoria, Sandra diz que ela “fez a declaração como manda a lei, e que tudo foi processado pela Receita Federal”.
A turma do G-7
Nos documentos entregues ao Leão é possível fazer um corte por renda, que revela a existência de um “G-7”. Entre os 24 distritais, sete têm rendimentos acima de R$ 1 milhão. O mais rico é Agaciel Maia (PR), que apresentou patrimônio de R$ 7,6 milhões. No ano passado, o republicano declarou R$ 6,9 milhões.
Em segundo lugar vem Liliane Roriz (PTB), com mais de R$ 4 milhões. Seu patrimônio cresceu cerca de R$ 100 mil em relação a declaração de 2015.
Wellington Luiz (PMDB) apresentou em 2015 renda de R$ 2 milhões, mas um erro, segundo o próprio vice-presidente da Câmara Legislativa, deixou o valor da declaração de 2016 zerado. O peemedebista já afirmou ao Metrópoles que “vai publicar a correção em breve”, mas não informou o valor.
Robério Negreiros (PSDB) e Chico Leite (Rede) estão tecnicamente empatados, com R$ 1,6 milhão cada. Robério apresentou ainda R$ 290 mil em espécie. Leite por sua vez tem dívidas de R$ 4,8 mil em sua declaração.
Rafael Prudente (PMDB) foi o último a apresentar sua declaração, um dia depois do prazo, com renda de R$ 1,5 milhão. Fechando a lista dos mais ricos da Câmara, Telma Rufino (Pros) declarou R$ 1,163 milhão.
Crescimento considerável
Dois deputados que não estão no G-7 tiveram crescimento considerável em suas rendas: os governistas Luzia de Paula e Juarezão, ambos do PSB. O informe de Luzia saltou de R$ 665.702,78 para R$ 708 mil; enquanto o do companheiro de partido foi de R$ 500.600,00 para R$ 700.000,10.
Segundo Luzia, ela “leva uma vida simples e isso possibilita fazer economia”, o que justificaria o seu aumento de patrimônio
Juarezão credita os ganhos à valorização dos imóveis que tem. “Fiz uma reforma na casa que moro. Na chácara que tenho, beneficiei a terra, ambos em Brazlândia. Foi isso que meu contador levou em conta ao fazer minha declaração”, disse o parlamentar ao Metrópoles.