Delegados e policiais reagem a ataques do PSB contra as instituições
Partido de Rollemberg faz duras críticas aos investigadores após operação colocar o irmão do governador no centro de escândalo no GDF
atualizado
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A revelação de uma suposta organização criminosa enfronhada na administração pública, envolvendo personagens com acesso direto ao governador do Distrito Federal, inclusive um de seus irmãos, implodiu de vez a relação de representantes dos policiais civis com a cúpula do governo. Na tentativa de se proteger das acusações contidas no Inquérito 386/2018 da Polícia Civil, o partido de Rodrigo Rollemberg, PSB, mirou sua artilharia para a atuação dos investigadores.
“O vazamento de parte do inquérito policial que investiga um suposto tráfico de influência no Governo de Brasília às vésperas do começo da campanha eleitoral é revelador do maquiavelismo e da perversa ação política que parte da Polícia Civil se envolveu”, ataca o partido, em nota pública. Mesmo com diversos integrantes do Governo do Distrito Federal (GDF) envolvidos na investigação, o Executivo não se pronunciou. Deixou a missão para a legenda de Rollemberg.
Em alguns tópicos, o PSB desqualifica frontalmente o trabalho da Polícia Civil: “Não se trata de uma investigação séria e consistente, e, sim, de um libelo político com claro objetivo de impedir a reeleição do governador Rodrigo Rollemberg”. Em nome do governador, a legenda ainda diminui a investigação ao dizer que a Polícia Civil, “orientada por sindicalistas, faz campanha política”.
Há duas semanas, no entanto, em 27 de julho, Rollemberg esteve na 104.1 Metrópoles FM dando entrevista no programa Cabeças da Notícia. Na ocasião, questionado sobre uma operação que apura organização criminosa infiltrada em administrações regionais, Rollemberg elogiou essa e outras investidas da Polícia Civil contra a corrupção.
O chefe do Executivo fez uma referência nominal ao delegado Fernando César Costa, que presidiu a (12:26), ação deflagrada nesta semana para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços que incluíram até o Palácio do Buriti, onde despacha Rollemberg. Fernando César é titular da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública (Cecor).
Confira:
Policiais e delegados reagem
Em nota, o Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF) reagiu fortemente às declarações do PSB em defesa de Rollemberg. “Os policiais civis do DF são servidores de carreira, de um órgão de Estado, uma instituição que é reconhecida nacional e internacionalmente pela excelência de seus quadros no combate à criminalidade e, em especial, quanto aos crimes praticados contra a administração pública”, sustenta o Sinpol em nota.
E sobe o tom: “O fato de o senhor governador nomear para o alto escalão do órgão pessoas de sua estrita confiança não sujeita o conjunto de servidores policiais a agir com omissão, negligência ou prevaricação diante das práticas criminosas”.
Na mesma linha, pronunciaram-se o Sindicato dos Delegados de Polícia do Distrito Federal (Sindepo) e a Associação dos Delegados de Polícia do Distrito Federal (Adepol). As entidades classificaram como “absurda” a nota do PSB e manifestaram repúdio “pelo enorme desrespeito com a conceituada instituição”.
Em outro trecho da nota conjunta do Sindepo com a Adepol, as entidades destacam a missão dos órgãos de Estado, dizendo que faz parte de sua função constitucional “investigar crimes, sejam praticados por pobres ou por poderosos, não estando integrantes do governo acima da lei”.
Por essa razão, governantes corruptos vêm, ao longo da história, desaparelhando as polícias civis, visando com isso diminuir os riscos de elucidação de seus malfeitos, cortando investimentos e permitindo a diminuição de seus quadros a níveis alarmantes
Trecho de nota do Sindepo e da Adepol
Irmão do governador no centro do esquema
O Metrópoles revelou nesta sexta-feira (10/8), com exclusividade, parte do conteúdo do Inquérito 386/2018, em que a polícia, com o apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), descreve a atuação de uma suposta organização criminosa envolvendo pelo menos 10 nomes.
Entre eles está um dos irmãos do governador, Carlos Augusto Sobral Rollemberg, o Guto, que, segundo descrevem os investigadores, é um dos pontos focais do grupo que praticava tráfico de influência e advocacia administrativa no Palácio do Buriti. Guto Rollemberg nega as acusações.
Segundo o delegado que coordena a Operação (12:26), Fernando César Costa, “saltam aos olhos os indícios de que o acordo ilícito está assentado de forma duradoura, haja vista que há atos concretos de crimes praticados pelos investigados há aproximadamente três anos, com ocorrências destacadas em 2015, 2017 e 2018”.
De acordo com o processo, que soma 195 páginas, “cada um em seu campo de atuação, em clara divisão de tarefas, praticou diversos atos visando beneficiar particulares perante a administração pública”.