metropoles.com

Construtoras elaboraram edital do Mané Garrincha em conluio com GDF

Segundo delatores da Andrade Gutierrez, objetivo era “beneficiar o consórcio Brasília 2014”, formado pela empreiteira e pela Via Engenharia

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Daniel Ferreira/Metrópoles
Jogos Olímpicos do Rio 2016  – Brasília(DF), 07/08/2016
1 de 1 Jogos Olímpicos do Rio 2016 – Brasília(DF), 07/08/2016 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

As delações dos ex-executivos da Andrade Gutierrez expuseram os sólidos alicerces que sustentavam a relação entre a construtora, a Via Engenharia e o alto escalão do GDF, à época da reconstrução do Estádio Nacional Mané Garrincha. Os depoimentos revelam, com riqueza de detalhes, uma ligação umbilical, à base de irregularidades, que viabilizou o impensável na administração pública: em conluio, integrantes do governo local e funcionários das empreiteiras candidatas a executar o projeto da nova arena elaboraram o edital da obra. Pouco tempo depois, as empresas formariam o consórcio vencedor do certame que ajudaram a idealizar e tirar do papel.

Os mesmos representantes que teriam participado das negociações de propina com os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), presos na terça-feira (23/5), em troca do contrato bilionário da reconstrução do estádio, entregaram todo o esquema ao Ministério Público Federal (MPF). As informações constam no inquérito da Policia Federal, ao qual o Metrópoles teve acesso.

Ex-executivos da Andrade afirmaram, em acordo de colaboração, que “a parceria” teria como objetivo “beneficiar o consórcio Brasília 2014”, formado pela empreiteira e pela brasiliense Via Engenharia. Peritos da Polícia Federal apontaram, em laudo, seis irregularidades no edital do certame. A conclusão é de que houve “notório direcionamento” no processo, com “indícios fortes de fraude à licitação”.

Orçada inicialmente em R$ 600 milhões, a arena brasiliense foi erguida ao custo de R$ 1,5 bilhão, tornando-se a segunda mais cara do mundo e a de maior preço dentre as arenas brasileiras construídas ou reformadas para a Copa de 2014. O superfaturamento, de acordo com o Tribunal de Contas do DF, chegou a R$ 900 milhões, em valores atualizados.

2 imagens
Para a PF, prova do "conluio" entre GDF e empreiteiras para elaborar edital
1 de 2

Trechos da delação da Andrade Gutierrez

Reprodução
2 de 2

Para a PF, prova do "conluio" entre GDF e empreiteiras para elaborar edital

Reprodução

 

Regalias ao consórcio
Segundo a investigação, o processo para a execução do Mané Garrincha estaria contaminado desde o início. Em delação premiada, o ex-executivo da Andrade Gutierrez Carlos José de Souza contou que, em 2008 (gestão Arruda), foi designado por seu superior à época, Rodrigo Lopes, para participar com a Via Engenharia dos estudos sobre a possibilidade de uma Parceria Público-Privada (PPP) para a obra do Estádio Nacional de Brasília.

Após o grupo verificar a inviabilidade do projeto, Carlos José teria sido instruído por Rodrigo a integrar um grupo de estudos voltado à elaboração do edital de licitação com a Novacap, executora do contrato. Segundo o ex-executivo, o edital seria direcionado ao consórcio a ser formado entre Andrade e Via. Também participava das reuniões do grupo, de acordo com o delator, Eduardo Alcides Zanelatto, integrante da construtora.

No relato de Carlos José, cabia a ele coletar informações com a Andrade Gutierrez para passar ao grupo de estudos. O objetivo era que o edital fosse ajustado de forma a filtrar as concorrentes, aumentando as chances de êxito do consórcio. “Os dados encaminhados pelo citado grupo de trabalho à Novacap foram utilizados no edital, objetivando atribuir cláusulas que beneficiassem o consórcio”, registrou o ex-gerente da empreiteira, no depoimento.

De acordo com a PF, “foi constatada, por meio de exames periciais, restrição de competitividade e formação de cartel no âmbito da concorrência”.

1% para Arruda
O relato de outro delator e ex-diretor da Andrade Gutierrez, Clóvis Primo, revela que as empreiteiras também contribuíram na elaboração dos projetos que embasaram o certame. Em suas palavras, a concessão dessas benesses aos futuros construtores da arena teve um preço.

Segundo ele, antes da formação do consórcio, havia um acerto com a Via Engenharia para pagamento de 1% do valor do projeto ao então governador José Roberto Arruda. Aos promotores, Clóvis Primo afirmou que ele e o gerente comercial da Andrade Gutierrez para o GDF, Carlos José, foram informados sobre esse percentual pelo próprio dono da empreiteira brasiliense, Fernando Queiroz, também preso na terça-feira (23).

R$ 2 milhões para Agnelo
Já a delação de Rodrigo Leite Vieira, também ex-executivo da Andrade, lança o ex-governador Agnelo Queiroz para o rol dos políticos que teriam sido beneficiados com propina no processo de reconstrução do Mané Garrincha. O colaborador confirmou que a Via Engenharia pagou R$ 2 milhões ao petista no final de 2014, quando Agnelo governava o Distrito Federal.

Segundo Rodrigo, o valor seria uma parte da negociação de 4% em propina a ser dada ao então número-um do Palácio do Buriti sobre o valor líquido da obra – o estádio custou R$ 1,5 bilhão aos cofres do GDF. Somente em 2014, de acordo com Leite, foram feitos 12 pagamentos a título de propina para Agnelo.

 

14 imagens
A mulher de Agnelo, Ilza Queiroz, e o advogado dele saem da casa do ex-governador, no Setor de Mansões Dom Bosco
Viaturas da Polícia Federal na casa de Agnelo
Agentes estiveram na casa do ex-vice-governador Tadeu Filippelli
Maruska Lima (à direita) ao lado do ex-governador Agnelo Queiroz
Tadeu Filippelli foi levado pela Polícia Federal de sua casa, na QI 17 do Lago Sul
1 de 14

A operação foi deflagrada em 23 de maio

Rafaela Felicciano/Metrópoles
2 de 14

A mulher de Agnelo, Ilza Queiroz, e o advogado dele saem da casa do ex-governador, no Setor de Mansões Dom Bosco

Michael Melo/Metrópoles
3 de 14

Viaturas da Polícia Federal na casa de Agnelo

Michael Melo/Metrópoles
4 de 14

Agentes estiveram na casa do ex-vice-governador Tadeu Filippelli

João Gabriel Amador/Metrópoles
5 de 14

Maruska Lima (à direita) ao lado do ex-governador Agnelo Queiroz

Agência Brasil
6 de 14

Tadeu Filippelli foi levado pela Polícia Federal de sua casa, na QI 17 do Lago Sul

João Gabriel Amador/ Metrópoles
7 de 14

Tadeu Filippelli chegando à sede da Polícia Federal

Rafaela Felicciano/ Metrópoles
8 de 14

Filippelli e os demais suspeitos ficaram presos durante oito dias

Rafaela Felicciano/ Metrópoles
9 de 14

Fernando Queiroz, dono da Via Engenharia, na chegada à sede da PF em Brasília: ele está entre os 21 indiciados

Rafaela Felicciano/ Metrópoles
10 de 14

A ex-presidente da Terracap Maruska Lima de Souza Holanda (de bolsa vermelha) também foi presa

Rafaela Felicciano/ Metrópoles
11 de 14

Cláudio Monteiro (de azul), ex-secretário da Copa, foi um dos investigados

Rafaela Felicciano/ Metrópoles
12 de 14

Fernando Márcio Queiroz, presidente da Via Engenharia, é um dos envolvidos no esquema de propina ligado à obra do Estádio Mané Garrincha

Rafaela Felicciano/ Metrópoles
13 de 14

O ex-governador Agnelo Queiroz foi o último a chegar à Polícia Federal no dia da prisão

Daniel Ferreira/ Metrópoles
14 de 14

Ex-governador Agnelo Queiroz é acusado de receber propina durante obra do Mané Garrincha

Daniel Ferreira/ Metrópoles

 

Operação Panatenaico
As delações serviram para embasar os pedidos de prisão e mandados de condução coercitiva, busca e apreensão da Operação Panatenaico, mais um desdobramento da Lava Jato. Além dos ex-governadores Arruda e Agnelo, o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), assessor especial do presidente Michel Temer, também acabou detido.

Outros sete mandados de prisão temporária foram expedidos contra agentes públicos, ex-servidores e empresários, entre eles a ex-presidente da Terracap, Maruska Lima; o dono da Via Engenharia, Fernando Márcio Queiroz; e o ex-secretário da Copa, Cláudio Monteiro.

As prisões foram autorizadas pela 10ª Vara Federal, depois que investigações da PF identificaram fraudes e desvios de recursos públicos em obras da reforma do Mané Garrincha para a Copa do Mundo de 2014. Nessa sexta-feira (26/5), o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara, atendeu pedido do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, decidindo estender por mais cinco dias as prisões de todos os detidos na Panatenaico. A Justiça determinou, ainda, a indisponibilidade de R$ 155 milhões de 13 envolvidos no esquema.

Compartilhar notícia

Todos os direitos reservados

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?