Com 3 votos pela cassação, julgamento de distrital José Gomes é adiado
Parlamentar é acusado de cometer crime de abuso de poder econômico por supostamente coagir funcionários a votarem nele para a CLDF
atualizado
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O julgamento do deputado distrital José Gomes (PSB) pelo crime de abuso de poder econômico, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), foi adiado na noite desta terça-feira (19/3). Três desembargadores já haviam votado pela cassação do diploma e pela declaração de inelegibilidade pelo período de 8 anos do político, até outro membro da Corte, Telson Ferreira, fazer o pedido de vista.
O parlamentar é acusado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) de coagir funcionários da empresa Real JG Serviços Gerais para que votassem nele nas últimas eleições. Antes da suspensão da audiência, José Gomes havia sido absolvido, por unanimidade, pelo delito de compra de votos.
No período eleitoral, o socialista foi alvo de denúncia por parte de funcionários da empresa da qual era dono. Segundo as acusações, ele teria ameaçado de demissão aqueles que não o apoiassem à Câmara Legislativa (CLDF). Pelo menos 12 empregados da Real JG teriam sido desligados da companhia por esse motivo. O distrital nega.
Durante a leitura da denúncia, o relator do caso, desembargador Waldir Leôncio, leu parte de reportagens publicadas pelo Metrópoles e que deram origem às investigações. Em seu seu voto, defendeu a cassação e inelegibilidade por 8 anos. O desembargador Daniel Paes Ribeiro acompanhou o voto do relator, assim como fez Diva Lucy.
Antes, a palavra foi dada ao advogado Ramon Oliveira Campanati, responsável por oficializar a acusação no MPF-DF.
“Pessoas foram demitidas por se recusarem a participar das reuniões. Alguns acabaram reintegrados por terem provado sido mandados embora por motivos políticos. Em outros casos, órgãos do governo federal multaram a Real JG, inclusive com a realização de videos”, disse Campanati.
O advogado de José Gomes, Cléber Lopes, sustentou que o ajuizamento da denúncia foi feito um dia antes da oficialização da candidatura do agora deputado. “Por isso, ele não deveria ser punido”, ressaltou Lopes, pedindo o arquivamento do processo.
“Desconhecido”
Já o procurador regional eleitoral José Jairo Gomes diz ter estranhado a quantidade de sufrágios recebidos pelo distrital. “É uma coincidência o senhor José Gomes ter 10 mil empregados e chegar a quase 17 mil votos sendo um desconhecido, mesmo ele não tendo sequer uma propaganda massiva. Ou seja: entende-se que a maior parte dos votos veio da empresa”, sustentou.
Na sequência, o procurador citou supostas reuniões em que empregados eram obrigados a participar como forma de coação. “Não é necessário que o candidato aja com dolo ou diretamente. O importante é que o bem jurídico seja vulnerável. O senhor José Gomes, usando de sua estrutura empresarial, passou a assediá-los por meio de outras pessoas, incluindo pedindo lealdade, com muitas reuniões. O MPE está convicto de que se trata de um processo escandaloso de coação moral”, detalhou.
Veja a íntegra do parecer do Ministério Público:
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Áudios
Segundo o parecer do MPE, durante uma reunião, Douglas Laet teria dito que os trabalhadores deveriam “demonstrar gratidão pelo emprego, pelo salário, e lealdade por seu empregador, empenhando-se em sua candidatura”. Ele acrescentou que “a retribuição pelo trabalho seria aferida pelo número de votos obtidos na seção de votação dos funcionários de sua empresa”, de acordo com o documento.
Indícios mais contundentes do processo revelados pelo Metrópoles, as gravações de uma reunião entre Douglas e funcionários fazem parte do processo. Apesar da ressalva de que o gravador não pode ser periciado, pois a origem do aparelho não foi revelada, o MPE afirmou que as provas são claras, pois demonstram o interesse dos réus em coagir os trabalhadores.
Os áudios foram exibidos durante o julgamento e usados pela acusação para sustentar a tese de culpa de José Gomes.
Ouça os áudios:
Ouvido no processo, Douglas chegou a negar que seria sua a voz nas gravações, mas depois mudou a versão. O primo de José Gomes admitiu ao Ministério Público ser o autor das falas, mas negou a intenção de coagir os empregados da Real JG.
Funcionários foram ouvidos pelo MPE e relataram terem sido pressionados a fazer campanha para José Gomes. Além de Douglas, outras pessoas lotadas em postos estratégicos e em cargos de chefia também pediam para os empregados aderirem à campanha.
Testemunhas apontaram que funcionários lotados em órgãos públicos com contratos com a Real JG, como no Ministério de Minas e Energia, participaram de atos em prol da candidatura do chefe. Em algumas oportunidades, eles chegavam atrasados ao trabalho todos juntos.
A campanha em favor da candidatura de José Gomes era realizada em diversos ambientes. De acordo com as acusações, os trabalhadores acabavam cedendo suas casas para reuniões políticas. Do mesmo modo, em locais onde a empresa mantinha funcionários, em horário de expediente, eram promovidas “as conversas”.