Celina Leão quer CPI da JBS para investigar doações a Rollemberg
Distrital quer documentos do MPF para embasar pedido de investigação. Segundo executivos da JBS, recursos eleitorais eram propina disfarçada
atualizado
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Inimiga declarada do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), a distrital Celina Leão (PPS) apresentará requerimento ao Ministério Público Federal (MPF) para obter detalhes das investigações sobre as 41 doações atípicas da JBS feitas ao chefe do Executivo nas eleições de 2014. Segundo delação de executivos da empresa, Rollemberg recebeu propina disfarçada de repasses eleitorais.
A estratégia da parlamentar é “distribuir” um pouco da pressão da qual ela própria é alvo. Celina, que já foi aliada do socialista antes de engrossar as fileiras da oposição, hoje é ré por corrupção passiva. Ao lado de Raimundo Ribeiro (PPS), Bispo Renato Andrade (PR), Julio Cesar (PRB) e Cristiano Araújo (PSD), a ex-presidente da Câmara é investigada na Operação Drácon por suspeita de receber propina em troca da aprovação de emendas parlamentares no fim de 2015. O caso está sob análise do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT).
Em 2014, a JBS transferiu R$ 852.831,75 à campanha de Rollemberg, conforme o Metrópoles noticiou no último dia 18. Do total, R$ 450 mil foram pagos diretamente pela empresa. Os R$ 402.831,75 restantes estavam espalhados em 40 transações atípicas feitas ao diretório do PSB-DF, que repassou a verba à campanha do então candidato ao GDF. O montante está na prestação de contas disponível no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas o dono da JBS, Joesley Batista, admite que todos os valores doados a políticos eram propina.Segundo Celina Leão, as denúncias são “terríveis”. “Em casos menos graves que esse, o governador trabalhou forte para encobrir crimes anteriores, como ocorreu em denúncias relativas à Saúde. Por isso, é necessário que a Câmara Legislativa investigue as suspeitas com profundidade. São muitas doações e um volume grande pode ser de caixa 2”, diz a distrital.
Outros pontos questionados dizem respeito à redução de alíquota tributária concedida a empresas do setor frigorífico e aos contratos entre a JBS com a Secretaria de Educação. Os compromissos firmados entre a empresa e o GDF para o fornecimento de alimentos totalizam R$ 22,8 milhões, segundo o Metrópoles noticiou.
“Situação constrangedora”
Embora Celina tenha voltado a artilharia contra o desafeto que ocupa a principal cadeira do Palácio do Buriti, a Câmara Legislativa parece não partilhar da mesma disposição. Ao menos por ora. O presidente da Casa, Joe Valle (PDT), classifica a suspeita de que Rollemberg tenha recebido propina como uma “situação constrangedora”. Entretanto, acredita que ainda não é o momento de a instituição se posicionar sobre as denúncias.
As colocações que foram feitas envolvendo o nome do governador são graves e constrangedoras, mas a Câmara precisa aguardar o curso normal das coisas. Há um período reservado à apuração dos fatos, além do mais o Legislativo age quando é provocado. Estamos observando todo o cenário com muita atenção para nos posicionarmos. Caso as investigações da Polícia Federal avancem, o Legislativo não se furtará em dar uma resposta para a sociedade
Joe Valle (PDT), presidente da Câmara Legislativa
Quem também aguarda o desenrolar do novelo é o PT. Embora o partido se declare como oposição ao governo Rollemberg na Câmara Legislativa, o partido ainda estuda quais ações tomar. Segundo o líder da sigla na Casa, Ricardo Vale, “o PT discutirá com a presidente regional da legenda, [a deputada federal] Erika Kokay, os próximos passos”.
Mais pressão sobre o GDF
Outro órgão que estuda a possibilidade de ingressar com ações contra Rollemberg é a Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do DF (OAB-DF). De acordo com o presidente da OAB-DF, Juliano Costa Couto, “a assessoria já está estudando o material levantado pelas investigações para entrar com pedidos específicos”.
O mesmo fará a ONG Adote um Distrital, que ainda não decidiu quando entrará com representação com o governador. O coordenador da organização, Olavo Santana, explica que o foco ainda são as denúncias contra os réus da Operação Drácon arquivadas pela Câmara Legislativa na última sexta-feira (26/5). Santana afirma que a entidade recorrerá do veredito da Mesa Diretora.
Outro lado
Em mensagem publicada nas redes sociais, Rollemberg nega que tenha recebido doações de forma ilícita. O chefe do Executivo diz ainda que recusou dar benefícios à JBS, assim como aguarda o fim do contrato da empresa, iniciado em 2014, com a Secretaria de Educação.
Já o Palácio do Buriti diz, por meio de nota, que “todo o dinheiro recebido pela campanha do então candidato ao GDF foi registrado na Justiça Eleitoral”.