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Captação de água no Lago Paranoá e metrô estavam na mira da Odebrecht

Delatores apontaram outras obras de interesse da empreiteira no DF em reuniões, segundo eles, com Agnelo Queiroz e Tadeu Filippelli

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Lago Pranoá em Brasília – Ao fundo a Ponte JK
1 de 1 Lago Pranoá em Brasília – Ao fundo a Ponte JK - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Os acordos de palavra selados entre políticos proeminentes do cenário local e a construtora Odebrecht tornaram o Distrito Federal alvo da ambição de executivos de empreiteiras que pretendiam estabelecer negócios na capital. A partir do pagamento de quantias vultosas a autoridades como os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), a Odebrecht teria conseguido viabilizar o Centro Administrativo do DF (Centrad) e a Parceria Público-Privada (PPP) do projeto habitacional Jardins Mangueiral, em São Sebastião.

Os operadores da propina, no entanto, ansiavam por mais. De acordo com depoimentos de ex-executivos da Odebrecht em delações premiadas divulgadas nesta quarta-feira (12/4), outras obras importantes do DF estavam na mira da construtora. Entre os alvos, a captação de água do Lago Paranoá. A expansão do metrô de Brasília e projetos habitacionais também foram incluídos na lista de desejo da empreiteira e de seus parceiros.

As tratativas foram narradas pelos ex-executivos da Odebrecht João Pacífico e Ricardo Ferraz em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF). Além da concessão já contratada do Centrad, Ferraz relata que, durante encontro com políticos locais para discutir apoio financeiro ilegal da empresa, demonstrou interesse na futura obra para captação de água do Lago Paranoá.

Um projeto que contribuirá no enfrentamento à pior crise hídrica registrada na história do Distrito Federal. Ele tem como objetivo captar 700 litros de água por segundo para reforçar o abastecimento nas regiões administrativas atendidas pela Barragem do Descoberto.

O valor estimado da concorrência pública é de R$ 49.437.958 — parte dos R$ 55 milhões já liberados pelo Ministério da Integração Nacional. No último dia de março, foi aberto pregão eletrônico para aquisição, instalação e operação assistida do Subsistema Produtor do Lago Norte, que vai captar água de forma emergencial no Lago.

Reunião com Agnelo e Filippelli
O delator também teria revelado, na mesma ocasião, o anseio da Odebrecht pelas obras, até hoje não iniciadas, de ampliação do metrô da capital. Segundo Ricardo Ferraz, a possibilidade de participação nessas grandes obras teria sido apresentada em 2010 à chapa de Agnelo Queiroz e Tadeu Filippelli (PMDB), em uma reunião de construtoras com os então candidatos ao Palácio do Buriti.

Assista ao vídeo com trecho do depoimento de Ricardo Ferraz:

 

Pool de investimentos
Apesar de direcionarem os pagamentos de propina para projetos específicos, os delatores esclareceram em seus depoimentos que os valores não tinham finalidade única. Segundo João Pacífico, o dinheiro era repassado “para atender as demandas da empresa como um todo”. Nesse contexto, a expectativa era de que, com esse “investimento”, políticos franqueassem à construtora fácil acesso a empreendimentos que ainda não teriam saído do papel.

De acordo com os delatores, Agnelo Queiroz teria recebido R$ 1 milhão para a campanha eleitoral de 2010, com o objetivo de dar andamento ao Centrad, construído pela Odebrecht em parceria com a brasiliense Via Engenharia.

Na oportunidade, aproveitei para comentar sobre o Centro Administrativo, que o contrato já estava assinado, uma obra para tocar adiante. Sinalizei também que nós tínhamos interesse até em uma outra PPP do sistema de abastecimento Paranoá e uma eventual expansão do metrô, que é uma obra, inclusive, que a gente já tinha participado em um passado longínquo

Trecho da delação de Ricardo Ferraz

Pacífico, que também participou de reuniões para balizar o suposto aporte ao caixa 2 de Agnelo Queiroz, contou que, quando a empresa autorizava o repasse de uma fatia generosa a um político, não tinha em vista apenas um contrato específico. Era o caso de uma PPP de construção de residências. A previsão de entrega de oito mil unidades despertou o interesse da Odebrecht Realizações Imobiliárias.

Veja vídeo com o depoimento de João Pacífico:

 

O ex-presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, o delator Paul Elie Altit admitiu aos procuradores que tinha planos na capital com relação a projetos habitacionais. No âmbito da negociata envolvendo o Jardins Mangueiral, o ex-secretário de Habitação Geraldo Magela (PT) teria solicitado repasses financeiros para “alimentar” a sua campanha ao Senado Federal, em 2014.

Assista ao vídeo com o depoimento de Paul Altit:

 

Na delação, Paul relata que Magela sempre sinalizou que o GDF estava planejando outros projetos habitacionais, “com cerca de 50 mil unidades”, e que existiriam várias outras empresas locais e nacionais “interessadas em conquistar estes projetos, que poderiam concorrer com a Odebrecht”.

“A bem da verdade, ele comentava isso dizendo ‘no entanto, não pensem que vocês vão ficar e ter a prioridade plena de fazer isso. Outras empresas locais vão querer fazer e outras empresas nacionais também’”, relatou.

Diante do aceno feito pelo candidato, a Odebrecht teria buscado uma aproximação maior para tentar obter esses contratos caso o PT prosseguisse à frente do Governo do Distrito Federal.

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