Captação de água no Lago Paranoá e metrô estavam na mira da Odebrecht
Delatores apontaram outras obras de interesse da empreiteira no DF em reuniões, segundo eles, com Agnelo Queiroz e Tadeu Filippelli
atualizado
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Os acordos de palavra selados entre políticos proeminentes do cenário local e a construtora Odebrecht tornaram o Distrito Federal alvo da ambição de executivos de empreiteiras que pretendiam estabelecer negócios na capital. A partir do pagamento de quantias vultosas a autoridades como os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), a Odebrecht teria conseguido viabilizar o Centro Administrativo do DF (Centrad) e a Parceria Público-Privada (PPP) do projeto habitacional Jardins Mangueiral, em São Sebastião.
Os operadores da propina, no entanto, ansiavam por mais. De acordo com depoimentos de ex-executivos da Odebrecht em delações premiadas divulgadas nesta quarta-feira (12/4), outras obras importantes do DF estavam na mira da construtora. Entre os alvos, a captação de água do Lago Paranoá. A expansão do metrô de Brasília e projetos habitacionais também foram incluídos na lista de desejo da empreiteira e de seus parceiros.
Um projeto que contribuirá no enfrentamento à pior crise hídrica registrada na história do Distrito Federal. Ele tem como objetivo captar 700 litros de água por segundo para reforçar o abastecimento nas regiões administrativas atendidas pela Barragem do Descoberto.
O valor estimado da concorrência pública é de R$ 49.437.958 — parte dos R$ 55 milhões já liberados pelo Ministério da Integração Nacional. No último dia de março, foi aberto pregão eletrônico para aquisição, instalação e operação assistida do Subsistema Produtor do Lago Norte, que vai captar água de forma emergencial no Lago.
Reunião com Agnelo e Filippelli
O delator também teria revelado, na mesma ocasião, o anseio da Odebrecht pelas obras, até hoje não iniciadas, de ampliação do metrô da capital. Segundo Ricardo Ferraz, a possibilidade de participação nessas grandes obras teria sido apresentada em 2010 à chapa de Agnelo Queiroz e Tadeu Filippelli (PMDB), em uma reunião de construtoras com os então candidatos ao Palácio do Buriti.
Assista ao vídeo com trecho do depoimento de Ricardo Ferraz:
Pool de investimentos
Apesar de direcionarem os pagamentos de propina para projetos específicos, os delatores esclareceram em seus depoimentos que os valores não tinham finalidade única. Segundo João Pacífico, o dinheiro era repassado “para atender as demandas da empresa como um todo”. Nesse contexto, a expectativa era de que, com esse “investimento”, políticos franqueassem à construtora fácil acesso a empreendimentos que ainda não teriam saído do papel.
De acordo com os delatores, Agnelo Queiroz teria recebido R$ 1 milhão para a campanha eleitoral de 2010, com o objetivo de dar andamento ao Centrad, construído pela Odebrecht em parceria com a brasiliense Via Engenharia.
Na oportunidade, aproveitei para comentar sobre o Centro Administrativo, que o contrato já estava assinado, uma obra para tocar adiante. Sinalizei também que nós tínhamos interesse até em uma outra PPP do sistema de abastecimento Paranoá e uma eventual expansão do metrô, que é uma obra, inclusive, que a gente já tinha participado em um passado longínquo
Trecho da delação de Ricardo Ferraz
Pacífico, que também participou de reuniões para balizar o suposto aporte ao caixa 2 de Agnelo Queiroz, contou que, quando a empresa autorizava o repasse de uma fatia generosa a um político, não tinha em vista apenas um contrato específico. Era o caso de uma PPP de construção de residências. A previsão de entrega de oito mil unidades despertou o interesse da Odebrecht Realizações Imobiliárias.
Veja vídeo com o depoimento de João Pacífico:
O ex-presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, o delator Paul Elie Altit admitiu aos procuradores que tinha planos na capital com relação a projetos habitacionais. No âmbito da negociata envolvendo o Jardins Mangueiral, o ex-secretário de Habitação Geraldo Magela (PT) teria solicitado repasses financeiros para “alimentar” a sua campanha ao Senado Federal, em 2014.
Assista ao vídeo com o depoimento de Paul Altit:
Na delação, Paul relata que Magela sempre sinalizou que o GDF estava planejando outros projetos habitacionais, “com cerca de 50 mil unidades”, e que existiriam várias outras empresas locais e nacionais “interessadas em conquistar estes projetos, que poderiam concorrer com a Odebrecht”.
“A bem da verdade, ele comentava isso dizendo ‘no entanto, não pensem que vocês vão ficar e ter a prioridade plena de fazer isso. Outras empresas locais vão querer fazer e outras empresas nacionais também’”, relatou.
Diante do aceno feito pelo candidato, a Odebrecht teria buscado uma aproximação maior para tentar obter esses contratos caso o PT prosseguisse à frente do Governo do Distrito Federal.