Anúncio antecipou que ministério alugaria prédio de Paulo Octávio
Em 9 de setembro, texto na seção “recados” de classificados avisava que o “Dr. R. Barros” se mudaria para o edifício do empresário
atualizado
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Um anúncio nos classificados do jornal Correio Braziliense em 9 de setembro deste ano reforça a suspeita de que o aluguel de um prédio do ex-vice-governador do DF Paulo Octávio, por parte do Ministério da Saúde, teria sido uma transação direcionada. O texto no periódico foi publicado cerca de três meses antes da divulgação oficial do resultado da chamada pública feita pela pasta.
A informação, da coluna do jornalista Lauro Jardim na versão on-line de O Globo, foi tema de matéria do Metrópoles no último sábado (3/12). No dia anterior, o Diário Oficial da União (DOU) trouxe a dispensa de licitação para o negócio, fechado em R$ 31,2 milhões.
A partir do contrato assinado entre o Ministério da Saúde e o grupo de Paulo Octávio, funcionários de cinco órgãos ligados à pasta vão se mudar para o novo endereço, na 701 Norte. A notícia causou forte reação entre o funcionalismo, especialmente na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Associação dos Servidores da Anvisa (Univisa) declarou que desconfia da negociação e prometeu entrar na Justiça para questionar a mudança.
Nesta terça (6), a descoberta de uma publicação cifrada na seção “recados” do Correio Braziliense joga mais suspeição sobre a operação comercial. Lauro Jardim revelou que, nos classificados do periódico, foi antecipado em três meses que o prédio PO 700, no Setor de Rádio e Televisão Norte (SRTVN), seria o vencedor da chamada pública.No anúncio, alguns detalhes chamam a atenção. Um deles é o termo “Dr. R. Barros”, que seria uma referência ao ministro da Saúde, Ricardo Barros. Outro é o uso da palavra “anvisa” substituindo o verbo “avisa”. A informação de que o “Dr. R. Barros (…) está gozando de muita saúde” também é, no mínimo, curiosa. Por fim, o texto ressalta que, no endereço do prédio comercial de Paulo Octávio, o “Dr. R. Barros (…) atenderá amigo com tratamento privilegiado”.
Ricardo Barros é filiado ao PP, mesmo partido de Paulo Octávio. Segundo o Metrópoles apurou, Paulo Octávio esteve na atual sede da Anvisa recentemente com dois arquitetos para ouvir as exigências do órgão referentes à ocupação do prédio no SRTVN. A visita aconteceu antes que o DOU publicasse a autorização do contrato de aluguel.
Ministério fala em economia de recursos públicos
O Ministério da Saúde nega irregularidades e diz que escolheu, entre seis empresas que participaram do chamamento público, a que lhe pareceu mais conveniente. As outras que se inscreveram foram: Inovar Construções, J. Fleuma Consultoria Imobiliária, Consórcio Premium Venâncio 2000, Antonio Venâncio da Silva Empreendimentos e NJR Participações.
De acordo com a pasta, haverá uma redução de R$ 20 milhões no contrato original, que soma R$ 51 milhões anuais. Porém, os gestores não apresentaram as planilhas que comprovam essa economia.
Sobre as informações publicadas nesta terça, o Ministério da Saúde disse, em nota no site da pasta, “lamentar que coluna de Lauro Jardim em OGlobo.com utilize recado plantado nos classificados do Correio Braziliense para colocar em dúvida medida adotada pelo Ministério da Saúde que resultará em economia” para os cofres públicos.
Ainda segundo o ministério, “as seis propostas apresentadas foram entregues no dia 2 de setembro e abertas — ou seja, tornadas públicas — no dia 8 de setembro, antes do recado publicado nos classificados. Portanto, qualquer pessoa pode publicar notas nos classificados sobre ‘vencedores’, embora não seja um resultado oficial. Ao que tudo indica, o classificado mostra contrariedade na melhora da eficiência da aplicação dos recursos públicos”.
Ao Metrópoles, o empresário Paulo Octávio disse, por meio de assessoria, que não comentaria o anúncio nos classificados porque o responsável pelo chamamento público foi o Ministério da Saúde. Como a pasta já se pronunciou sobre o caso, ressaltou o empresário, não haveria a necessidade de falar sobre o tema.
Sobre a locação do prédio, a assessoria de imprensa do grupo PaulOOctavio informou que o empresário venceu o chamamento público por preencher as exigências do edital. Disse também que o edifício foi devidamente avaliado pela Caixa Econômica Federal e “construído seguindo as rígidas normas do sistema Green Building concedido pelo U.S. Green Building Council dos Estados Unidos”.
O prédio alugado pelo Ministério da Saúde foi batizado de PO 700 por ter sido o 700º empreendimento lançado pelo grupo PaulOOctavio. Inaugurado em 21 de abril do ano passado, tem 11 pavimentos e área total de 52.376m².