Antes da eleição, Arruda ofereceu pacote de obras em troca de propina
Acusação consta na delação de Rodrigo Lopes, ex-executivo da Andrade Gutierrez. Leque ofertado incluiu BRT e expansão do metrô no DF
atualizado
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Antes mesmo de ser eleito governador, José Roberto Arruda (PR) orquestrou um grande esquema de corrupção para arrecadar propina. A estratégia era vender uma espécie de passe: a empreiteira que irrigasse a campanha teria a garantia de abocanhar grandes obras no Distrito Federal. Em 2006, quando procurou a Andrade Gutierrez, Arruda pediu R$ 500 mil e mostrou um “cardápio” de projetos.
As informações constam na delação premiada de Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, ex-diretor da Andrade Gutierrez. O sigilo dos depoimentos de Lopes foi retirado na tarde desta terça-feira (30/5) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).Os empreendimentos incluíam o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) entre o Aeroporto e a W3 Sul; a Avenida Interbairros, que ligaria o Setor Policial Sul a Samambaia; o Contorno Rodoviário de Brasília; uma adutora na bacia do Rio São Bartolomeu; o Bus Rapid Transport (BRT) da EPTG, que funcionaria em Ceilândia, Taguatinga, Águas Claras e Guará; o BRT Sul, que liga Santa Maria e Gama ao Plano Piloto; e a ampliação do metrô para Ceilândia, Samambaia e o Hospital Regional da Asa Norte (Hran). No entanto, apenas as duas últimas foram executadas, ainda que parcialmente, no caso do metrô.
A colaboração da Andrade Gutierrez embasou a Operação Panatenaico, que levou à prisão, no último dia 23, Arruda, o ex-governador Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice do petista, Tadeu Filippelli (PMDB). Após ser detido, Filippelli foi exonerado do cargo de assessor especial do presidente da República, Michel Temer (PMDB). Os políticos estão na cadeia devido à acusação de terem recebido propina milionária desviada das obras do Estádio Mané Garrincha, empreendimento tocado pela Andrade Gutierrez com a Via Engenharia.
Desde que as delações vieram à tona na semana passada, foi descoberto como grandes obras no Distrito Federal serviram de escoadouro de dinheiro público para abastecer campanhas — e o bolso — de políticos. Agora, os depoimentos de Rodrigo Lopes ao Ministério Público Federal (MPF) ajudam a “costurar” as informações divulgadas.
Em petição enviada pelo procurador-geral da República ao STF em 22 de novembro do ano passado, Rodrigo Janot pede a homologação da colaboração premiada de Rodrigo Lopes. O ministro Teori Zavascki encaminhou o documento à presidência do Supremo, no qual destaca as denúncias.
Rodrigo Lopes esclarece como funcionava o cartel de obras no DF, relatando que a Andrade Gutierrez foi procurada para contribuir com R$ 500 mil para a campanha de José Roberto Arruda em troca de um pacote de obras a serem realizadas pelo futuro governo.
Trecho de documento divulgado pelo STF
Secretário cobrou 5%
Após a vitória de Arruda em 2006, coube ao secretário de Obras à época, Márcio Machado, organizar a cobrança de mais dinheiro à Andrade Gutierrez. Dessa vez, referente às obras que seriam executadas. Segundo Lopes, “Machado pediu o pagamento de propina de 5% sobre o recebimento dos respectivos futuros contratos, das obras citadas, que foram licitadas”.
Procurado pela reportagem, o advogado de Arruda, Paulo Emílio Catta Preta, afirmou que ainda não teve acesso ao pronunciamento de Rodrigo Lopes e só vai se pronunciar quando analisar o documento. Márcio Machado não foi localizado para comentar as denúncias.