Analista político interpreta a matemática dos números revelados pela pesquisa Metrópoles/Dados: “Ilusão perdida”
Para o jornalista e analista político Maranhão Viegas, os números indicam que a tolerância do eleitor com o governo acabou
atualizado
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Por Maranhão Viegas (*)
Há quatro dias, o portal Metrópoles vem divulgando detalhes de uma ampla pesquisa encomendada ao Instituto Dados, coordenado por Elizabeth Flamínio. Os números têm surgindo em doses homeopáticas e descortinam um cenário de absoluta desilusão para quem vive no DF.
O “Governo da Geração Brasília” perde em avaliação positiva para o da presidente Dilma Rousseff, que registra as suas piores marcas depois de quatro anos de gestão. Rodrigo Rollemberg (PSB) está há apenas dez meses no cargo de governador. Como a chuva que cai há três dias em Brasília e derrubou a temperatura na capital, o resultado da pesquisa teve o efeito de uma ducha gelada sobre a cabeça dos integrantes do governo.
Em menos de um ano de gestão, Rollemberg viu sua popularidade evaporar. Antes de chegar ao fim de seu primeiro quarto de mandato, perdeu auxiliares importantes. Do núcleo original do governo restou apenas Leany Lemos, a poderosa secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão, que é citada no domingo (1º/11) por uma coluna política como a única pessoa “com colhões” para dizer o que é preciso ao governador.
Se faltam secretários com, vamos dizer, coragem para apontar e fazer o que é preciso, sobram os trapalhões. A semana que passou foi polvilhada de constrangimentos. Primeiro, veio a ordem para que se descesse a lenha nos professores em greve. Depois, o envio de fotos de uma loira seminua a um grupo de WhatsApp do primeiro escalão. As mensagens partiram do celular funcional do secretário de Justiça do GDF.
Antes que a semana terminasse, houve também a descoberta da existência do grupo de WhatsApp “CPI em Declínio”, do qual faz parte o secretário-adjunto de Mobilidade, Fábio Damasceno. A meta do tal grupo parece ser a de interferir nos rumos da CPI do Transporte, para evitar que as investigações alcancem decisões controversas tomadas nesta gestão.
O clima de velório prematuro do governo se completa com as greves de professores e de médicos que afetam dois campos de atuação fundamentais para que qualquer administração seja bem avaliada: educação e saúde.
Mais do que revelar que a população atingiu o limite da paciência e da tolerância que tinham com o novo governo, a pesquisa mostra também que há um descrédito imenso do eleitor com os nossos representantes, em qualquer tempo e esfera. E a prova não deixa dúvidas: 8 em cada dez brasilienses dizem não admirar nenhum político local. Entre os 17% que lembraram de algum nome, o senador Reguffe juntou 5,7%. Arruda (2,2%) e Roriz (1,9%) foram os outros dois citados. E mais ninguém conseguiu atingir a marca de pelo menos 1% das citações.
Esse é o retrato de uma população cuja ilusão de um bom governo se perdeu no misto de escândalos e incompetência. Um fenômeno que talvez se explique se olharmos o resultado das duas últimas eleições para governador do DF.
Na eleição vencida legitimamente por Agnelo Queiroz (PT), o povo queria Roriz. Mas a Justiça o alcançou e o tirou do jogo. O eleitor elegeu quem entre os candidatos lhe parecia menos pior.
No pleito seguinte, o povo queria Arruda, apesar de todas as denúncias que lhe caíam sobre a cabeça. Mas a Justiça, uma vez mais, tratou de tirar o encrencado candidato do jogo. E outra vez o eleitor escolheu o que lhe soava o menos pior dos candidatos. Rollemberg ganhou.
A esperança de um governo melhor, como se vê agora com o resultado da pesquisa Metrópoles/Dados, está seriamente comprometida. Exatamente como a esperança do jovem jornalista francês, protagonista do clássico de Honoré de Balzac “Ilusões Perdidas”. E o horizonte futuro ainda não nos mostra o menor sinal de alguma luz no fim desse túnel.
(*) Maranhão Viegas é jornalista e analista político