Empresas que denunciaram distrital receberam dinheiro da CLDF
As empresas do ex-funcionário de Sandra Faraj, que alega ter levado um calote de R$ 174 mil da parlamentar, tinham outros contratos na Casa
atualizado
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As duas empresas que trabalharam para a deputada Sandra Faraj (Solidariedade) na área de comunicação, marketing e tecnologia, não serviam somente à parlamentar. Tinham também contrato de publicidade com a Câmara Legislativa. Somente no terceiro trimestre de 2016, a Netpub e a Studio Web receberam da Casa R$ 50 mil dos quase R$ 7 milhões pagos a empresas do setor no período. Filipe Nogueira, ex-funcionário de Sandra, é sócio-proprietário da Netpub e dono da Studio Web. Ele alega ter levado o calote da parlamentar em um contrato de R$ 174 mil.
Os dados específicos da publicidade da Câmara não são divulgados. Somente os contratos macros vão para o portal da Casa. As empresas que recebem pelas agências não têm os nomes publicados. O Metrópoles, porém, teve acesso ao detalhamento dos meses. Somente a Netpub recebeu R$ 37.500 de contratos com a Casa no período. Já a Studio Web teve contratos pagos com a verba de publicidade no valor de R$ 12.500.
A Netpub Serviços de Comunicação e Tecnologia é de propriedade de Michelly Nogueira, esposa de Filipe Nogueira. Ambos denunciaram a deputada Sandra Faraj por ela supostamente ter se apropriado de dinheiro público. A parlamentar teria fechado um contrato com a empresa para a execução de serviços, como a criação do portal, sistema de cadastro e acompanhamento dos eleitores, de envio de SMS, entre outros, mas não teria pago.
O contrato prevê o desembolso de seis mensalidades de R$ 15 mil, mais seis de R$ 14 mil. As notas pelo serviço prestado estão publicadas no site da Câmara com o carimbo de recebido. Isso significa que a parlamentar embolsou a verba indenizatória e justificou os pagamentos com as notas. No entanto, a Netpub alega não ter tido acesso ao dinheiro.
A ONG Adote um Distrital entrou com uma representação na CLDF contra a parlamentar nesta terça-feira (14/2). Os representantes da organização querem os comprovantes dos pagamentos.
Apesar de alegar ter honrado a dívida com a Netpub Agência de Comunicação e Tecnologia, Sandra Faraj não apresentou os documentos. A empresa, por sua vez, registrou em cartório uma acusação afirmando que a distrital contratou o serviço de informática, não pagou, mas utilizou as notas fiscais para pedir ressarcimento à Câmara Legislativa, como verba indenizatória, num valor total de R$ 174 mil.
Já a Studio Web está em nome de Filipe Nogueira, que era funcionário da parlamentar e trabalhou na campanha de Sandra Faraj, com um acordo de receber R$ 64 mil. O que também não foi pago, de acordo com carta escrita por Michelly. sua esposa.
Igreja
Filipe estava lotado no gabinete de Sandra Faraj desde o início do mandato. Ele ganhava um salário de R$ 11.129,69, na função de cargo especial de gabinete, mas foi exonerado na sexta-feira (10/2). Embora a parlamentar tenha afirmado, por meio de nota, desconhecer que Filipe Nogueira tinha uma empresa ou sequer saber que ele era casado com Michelly, dona da Netpub, a relação dela com o casal é anterior à eleição.
Os dois frequentavam a Igreja Ministério da Fé, em Taguatinga, e mantinham profundo respeito pela pastora Sandra Faraj. Trabalharam na campanha da então candidata a distrital e prestaram ainda serviço para o site da igreja. Filipe, por exemplo, frequentava a Ministério da Fé desde 1997. A avó dele foi uma das fundadoras da igreja, registrada em nome do irmão de Sandra, Fadi Faraj, pastor e segundo suplente do senador José Antônio Machado Reguffe.
A assessoria de Sandra Faraj foi procurada nesta terça-feira (14) e afirmou apenas que “não era de competência da deputada Sandra gerir recursos desta natureza (publicidade), pois ela não fazia parte da Mesa Diretora”. Os donos das empresas não atenderam às ligações.
Manoel Carneiro, ex-chefe de gabinete de Sandra Faraj, citado como testemunha na denúncia dos empresários contra a parlamentar, confirmou que Sandra não pagou a Netpub e disse estar à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos.