Policial se comove com menino de 11 anos morto. “Era uma criança”
Agentes da PRF acompanharam a despedida ao garoto, na tarde desta sexta-feira (08/11/2019), no Cemitério de Taguatinga
atualizado
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O enterro do menino de 11 anos encontrado morto em Águas Lindas (GO), Entorno do Distrito Federal, comoveu familiares do garoto, amigos e até agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na tarde desta sexta-feira (08/11/2019), no Cemitério de Taguatinga. O corpo da criança foi localizado por populares com sinais de espancamento, às margens de um córrego, no bairro Setor 07 da cidade, na terça-feira (05/11/2019). A Polícia Civil de Goiás (PCGO) ainda investiga o crime.
No sepultamento, ocorrido às 17h, a policial rodoviária federal Pâmela Vieira contou ao Metrópoles ter ficado “muito abalada” quando soube da morte do menino. “Eu me afeiçoei a ele. Fiquei assustada com uma criança de 11 anos vivendo o que ele estava vivendo. A notícia da morte dele me deixou muito triste”, disse, com lágrimas nos olhos.
A profissional, que já atendeu ocorrências em que a criança estava envolvida, lembrou à reportagem de um caso no qual o garoto foi abordado dirigindo um carro roubado. “Ele disse que estava com um maior de idade que pagou para ele levar o veículo a algum lugar. Aí o pegamos. Mas ele nos via na viatura e já ia lá conversar”, lembrou.
Para Pâmela, o menino teria um bom futuro se tivesse conseguido melhores oportunidades. “Ele era muito destemido. Se tivesse sido bem encaminhado, seria um sucesso”, considerou.
Ela contou ainda ter tentado ajudar a criança a ser internada, mas não conseguiu. “A gente tentou movimentar o Ministério Público, o Conselho Tutelar. Juntei as ocorrências dele que alguns PMs me passaram e encaminhei para a conselheira do Conselho Tutelar III. Ela fez um relatório e ficou de passar para o Ministério, mas, segundo ela, não deu tempo.”
“Era questão de tempo para isso acontecer. Ele era ameaçado já. Eu falava para ele: ‘Vai ser o que quando crescer?’. E ele ria e falava que queria ser policial”, comentou. “Eu acabei me envolvendo emocionalmente. É muito triste isso, porque era só uma criança. Não consigo olhar para ele como bandido”, completou Pâmela.
Segundo filho assassinado
Durante o adeus ao filho, a mãe, que pediu para não ser identificada, pedia por justiça. “Meu filho, não vá”, repetia, aos prantos.
O menino era o caçula de sete filhos da mulher e o segundo assassinado – o outro, de 18 anos, foi morto em julho de 2017, em Santo Antônio do Descoberto. “Por mais errado que ele fosse, era só uma criança”, disse. “Agora, já são dois filhos meus enterrados aqui. Tanto que eu corri atrás da Justiça”, lamentou.
“Está doendo em mim. O que eu mais quero é justiça, quero ver ele [assassino] preso. Porque o meu primeiro filho ficou em vão. Mas ele não vai ficar.”
Ao final do enterro, a policial abraçou a mãe da vítima e contou que a criança sempre falava que a amava. “Uma vez eu perguntei se ele sabia o que era amor. Aí ele respondeu: ‘Sei, a minha mãe me ama muito’”, relatou.
“Eu sempre dizia para ele que o amava. Levantava o cabelinho da testa dele e dava um beijo bem gostoso”, respondeu a mãe, em lágrimas.
Passagem por abrigos
Ao Metrópoles, Wallace Álvaro Pinheiro, 21, tio da criança, contou que o menino sempre passou por abrigos e se tornou mais agressivo após sofrer abuso sexual, aos 9 anos. “Ele sempre levou essa vida, passando de abrigo em abrigo. Mas se tornou assim depois que abusaram dele em Águas Lindas. Foi quando começou a usar drogas, porque deve ter sido um choque emocional muito grande para ele. Era só uma criança, precisava de mais apoio do governo”, lamentou o familiar.
De acordo com Wallace, o menino deixou a escola quando ainda cursava o 1º ano do ensino fundamental. “Depois que ele saiu desse abrigo, foi morar com uma tia e voltou a estudar. Mas ficou duas semanas e saiu da escola”, lembrou.
Para outra tia da criança, Dara Álvaro Pinheiro, 23, o menino deveria ter recebido mais apoio dos abrigos em que morou. “Ele saía quando queria. Chegava, comia e ia para a rua de novo. Sempre ficava entre Águas Lindas e aqui. Mas a mãe dele corria atrás, várias vezes foi até lá buscá-lo”, contou. “Ele era apenas uma criança. Se o Estado tivesse apoiado mais, ele não estaria morto agora”, considerou Dara.
Levado oito vezes à DP
A PCGO suspeita que a criança tenha sido assassinada por pessoas de quem ela roubou. A vítima, que foi levada pelo menos oito vezes para a delegacia somente neste ano, tinha sinais de espancamento. Há indícios de que o garoto tenha sido assassinado com pedaços de pau ou ferro.
Conforme o delegado Cléber Martins, da 17ª Delegacia Regional de Polícia (Águas Lindas de Goiás), a hipótese da investigação é que o crime tenha sido motivado por vingança. Nenhum suspeito foi identificado até o momento.