Policiais penais viram réus por tortura de ativista que chamou Bolsonaro de “genocida”
Rodrigo Pilha foi preso em março após estender, com mais quatro manifestantes, uma faixa com a frase “Bolsonaro genocida”
atualizado
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O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) aceitou denúncia contra três policiais penais pela prática de tortura contra o ativista Rodrigo Grassi Cadermatori, conhecido com Rodrigo Pilha (foto em destaque). A informação foi confirmada pelo Sindicato dos Policiais Penais (Sindpol), que presta assessoria jurídica aos acusados.
Rodrigo Pilha foi detido no último dia 18 de março, após estender, com mais quatro manifestantes, uma faixa com a frase “Bolsonaro genocida” na Praça dos Três Poderes. Na ocasião, os militantes, com base na Lei de Segurança Nacional, foram levados à Polícia Federal. Três deles foram liberados no mesmo dia, mas Rodrigo Pilha continuou detido por ser acusado de outros crimes.
Tortura
De acordo com a declaração que Pilha deu ao TJDFT, a tortura aconteceu no Centro de Detenção Provisória II. No primeiro dia sob a tutela do Estado, um policial o chutou e perguntou se ele era o “vagabundo do PT”. Quando ele não confirmou, o policial o chutou novamente e o ordenou que respondesse, ao que Rodrigo teria dito: “sim”. Então, o preso teria sido agredido novamente: “Aqui é ‘sim, senhor’ e ‘não, senhor'”.
O mesmo policial penal teria perguntado a idade do ativista, quando ele respondeu que tinha 43 anos, o policial teria dito: “E ainda não arrumou emprego decente? Fica com cargo comissionado, é? É para isso que o Bolsonaro veio, para acabar com essa mamata do PT”.
Além disso, o ativista descreve sessões de espancamentos de todos os presos no pátio em que acontece o banho de sol e uso de gás lacrimogêneo na cela em que ele estava com outros 10 internos.
Um outro policial, de acordo com o relato de Pilha, teria entrado nesta mesma cela e agredido cada um dos presos porque um deles estava assobiando. O ativista teria sido o último e recebeu uma cacetada na cabeça e na mão direita. Depois, teria despejado um saco com sabão em pó apenas em Rodrigo, depois um balde de água e gritou para os outros presos: “O inferno de vocês está só começando; ficam dando moral para este petista aí que volto mais tarde”.
Por fim, depois de uma consulta médica, os dois policiais que o agrediram perguntaram o que era o roxo no braço dele e ele respondeu que havia sido agredido pelos dois. Os policiais, então, teriam dito: “Não, foi você que se bateu”.
Apuração
De acordo com o presidente do Sindpol, Paulo Rogério da Silva, o sindicato está do lado dos policiais. “Não existe tortura; o cara tá forçando a barra e quer pagar de preso político. Ali na cadeia existe uma disciplina, obviamente que ninguém defende o excesso e, se ocorrer, a gente defende que se apure”, afirmou.
“Estive conversando com os colegas, mas eles negam. Se há a denúncia, tem de ser investigado, mas que sejam garantidos o direito de ampla defesa, porque senão vira moda. Acredito na lisura dos colegas”, garantiu Paulo. Para o presidente, muitas vezes os presos se automutilam para culpar os policiais.
“O preso pratica a autolesão, a gente tá acostumado a ver isso ai, é corriqueiro. O detento começa a se debater, se joga no cubículo da viatura. Ou seja: mesmo que esteja constatada a lesão, tem de ver se foi o policial que bateu”, argumentou.
Para o advogado de Rodrigo Pilha, Thiago Turbay, a denúncia do cliente é uma oportunidade para aperfeiçoar o sistema de Justiça criminal, “em especial, reforçar os deveres civilizatórios e humanitários para com o tratamento penitenciário e o processo de ressocialização”.
“A Polícia Penal certamente receberá com entusiasmo a possibilidade de punição de maus policiais, valorizando os bons e íntegros”, ponderou.